segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Comungar na língua e de joelhos é superior a comungar na mão e de pé? Sim e podemos provar.


A superioridade da comunhão na língua

A comunhão na língua, como ensinou Paulo VI na instrução "Memoriale Domini", foi um desenvolvimento oriundo de uma maior compreensão do mistério eucarístico e da reverência devida ao Sacramento da Eucaristia:

"Posteriormente, com uma (i) compreensão mais profunda da verdade do mistério eucarístico , de seu poder e da presença de Cristo nele, sobreveio (ii) um maior sentimento de reverência, para com esse sacramento e sentiu-se que se demandava uma maior humildade quando de seu recebimento. Foi, portanto, estabelecido o costume do ministro colocar uma partícula de pão consagrado sobre a língua do comungante.

Esse método de distribuição da Santa Comunhão deve ser conservado, levando-se em consideração a situação atual da Igreja em todo o mundo, não apenas porque possui (iii) por trás de si muitos séculos de tradição, mas especialmente (iv) porque expressa a reverência do fiel pela Eucaristia"

Se resumíssimos as razões dadas por Paulo VI para a comunhão na língua seriam quatro:

1. a compreensão mais profunda do dogma da Transubstanciação;

2. um maior sentimento de reverência do fiel;

3. a longevidade da tradição;

4. a demonstração inequívoca da piedade do fiel.

A comunhão na língua demonstra inequivocamente maior devoção ao sacramento e presume maior compreensão do mistério que ele exprime.

A comunhão na mão não goza dessa presunção. A comunhão na mão "reverente" não é presumida, mas deve ser demonstrada. Para que esta maneira de comungar seja minimamente lícita, a Igreja estipula que:

(i) os pastores se certifiquem que os fiéis saibam distinguir o corpo de Cristo do pão comum;

(ii) o fiel comungue na frente no sacerdote;

(iii) as espécies eucarísticas sejam unicamente a espécie do pão;

(iv) esteja afastado todo perigo de profanação entre os fiéis. Se houver risco, a comunhão será na boca;

(v) o fiel não tome por si a comunhão;

(vi) a permissão da Conferência Episcopal e a confirmação da Santa Sé.

Agora, para que ela seja mais reverente é recomendado ao fiel:

(i) fazer uma inclinação antes de comungar, se for receber a comunhão de pé;

(ii) comungar protegido com uma patena.

A quantidade de coisas que precisa ser feita para tornar a comunhão na mão minimamente lícita e reverente demonstra cabalmente que este modo de recepção da Eucarista não goza da mesma presunção de dignidade e ortodoxia da comunhão na língua.

No rito romano tradicional não é preciso sequer a pessoa reafirmar sua fé na Eucaristia dizendo "Amém" quando o sacerdote lhe apresenta o Corpo de Cristo. A postura de comungar na língua já diz tudo.

A superioridade da comunhão de joelhos

É possível defender que a comunhão de joelhos seja superior enquanto reverência a comungar de pé?

Sim, é evidente que sim.

Os gestos humanos significam coisas e alguns mais do que outros. Quem o nega relativista é.

Um exemplo disso é a linguagem dos afetos. Um homem que abrace uma mulher pode estar demonstrando estima e amizade por ela. Mas um homem que a beije nos lábios demonstra inequivocamente um gesto de atração sexual.

O mesmo ocorre nos gestos de devoção. Ajoelhar-se perante alguém sempre foi e sempre será a linguagem universal inequívoca da devoção.

As Escrituras o atestam:

"Vinde, inclinemo-nos em adoração, de joelhos diante do Senhor que nos criou." (Sl 94,6)

“Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares." (Mt 4,9)

"Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará glória a Deus." (Rm 14,11)

"Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra." (Fl 2:9-10)

"Por esta causa dobro os joe­lhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra." (Ex 3,14-15)

Não há dúvidas que ajoelhar-se é a linguagem física universal da devoção. É impossível questioná-lo. É autoexplicativo.

Muitos podem até dizer que ficar de pé pode ser um gesto de reverência. É verdade, mas tal postura não significa inequivocadamente devoção a não ser em contextos muito específicos.

Por isso, embora a Igreja permita a comunhão de pé no atual rito romano, ela recomenda que o fiel faça uma inclinação profunda antes (IGRM, n. 160).

Durante a consagração ajoelhar-se ou inclinar-se ainda é obrigatório:

"Ajoelhem-se, porém, durante a consagração, a não ser que por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na consagração façam uma inclinação profunda enquanto o sacerdote faz genuflexão após a consagração." (IGRM, 43)

Ou seja, a postura de pé, em regra, precisa ser complementada por outro gesto de reverência, pois não basta por si só.

Ajoelhar-se também significa uma atitude penitencial, o que é muito conveniente para o momento da comunhão. Afinal, a Eucaristia apaga uma multidão de pecados veniais e não sendo ela um prêmio para os perfeitos, mas remédio para os fracos, é conveniente que o pecador mostre fisicamente uma atitude penitencial.

Portanto, devemos dizer sem papas na língua: o desenvolvimento litúrgico do rito romano tradicional de exigir a comunhão de joelhos foi um progresso, sim, superior, que muitos outros ritos não tiveram.

Não é possível mais, sem cair num relativismo grosseiro, defender que a comunhão de joelhos e na boca é tão reverente quanto a comunhão de pé e na mão. Simplesmente não há igualdade entre as duas coisas.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Por que a católica moderna odeia o véu?

 

No último dia 15.08.2024, a colunista católica Jules Freitag, de quem já tratamos brevemente aqui, publicou novos stories divulgando um desabafo de uma seguidora sua a respeito do véu:



A seguidora de Jules alega que sente vontade de frequentar a Missa Tridentina, mas que não suporta a "radtradice" de uma ver cartaz na entrada da Igreja sobre como os fiéis devem se vestir e o oferecimento de véu para as moças usarem.

Jules então complementa: "A Igreja Católica não obriga ninguém a usar véu. A Igreja Católica não obriga ninguém a usar saia midi. Sabem onde é que existe a obrigação de usar véu e usar saia abaixo de joelho? Na Contregação Cristã do Brasil. Repitam comigo: ser católico não é fazer cosplay da Congregação Cristã do Brasil."

Primeiramente, lidemos com o desabafo de sua seguidora, depois com Jules.

"Vaidade das vaidades"

Quantas toneladas de vaidade uma mulher precisa ter para deixar de receber os benefícios espirituais da Missa Tridentina, simplesmente porque não quer usar véu por 1 horinha, uma prática, no mínimo, prescrita pelas Sagradas Escrituras, ordenada pelos Papas e assumida por todas as católicas do mundo por 2 mil anos até a década de 70?

Por que para essas moças se adequar ao costume local por 1h é quase a morte? Se fosse um costume contrário à lei da Igreja ou mau, poderia-se entender. Mas trata-se de um costume imemorial e saudável para a dignidade da liturgia. A ojeriza a se adequar a ele por breves minutos revela a completa falta de humildade e o espírito de insubordinação dessas moças.

A moça ainda acha um absurdo um padre colocar um dress code em sua igreja. Ora, mas dress code é solicitado inclusive pelas autoridades civis em repartições públicas como indicamos aqui. Por que então a moça se revolta quando um padre, que detém maior autoridade que os poderes civis, estipula parâmetros de modéstia para entrar no templo?

Jules e sua batalha contra o véu

Jules complementa o comentário da seguidora com falsidades. Alega primeiramente que a Igreja não exige o uso do véu. Contudo, demonstramos no artigo "O uso piedoso do véu não é mais obrigatório" que esta afirmação é falsa.

Todavia, ainda que não fosse mais obrigatório, o uso do véu teria força vinculante nos lugares onde ele é costumeiramente utilizado, pois, segundo o cân. 28 do Código de Direito Canônico:
Cân. 28 — Salvo o disposto no cân. 5, o costume quer contra a lei quer para além dela, revoga-se por costume contrário ou por lei; porém, a não ser que deles faça menção expressa, a lei não revoga os costumes centenários ou imemoriais, nem a lei universal os costumes particulares.

Com efeito, ainda que o uso obrigatório do véu fosse contra legem (contra a lei da Igreja), como não houve sua expressa revogação ou publicada nova norma tornando-o opcional e sendo ele um costume imemorial e centenário, o seu uso continua vigente e vinculante nos lugares em que é costumeiro.

Portanto, prova-se mais uma vez que, ainda que o uso do véu não fosse obrigatório na maioria das paróquias, ele o seria em ambientes que costumeiramente se guarda essa disciplina.

Pergunta-se, ademais: Seria pecado não usar véu nesses ambientes?

A resposta é depende. Se uma moça não cobre os cabelos por puro desaviso, não peca. Contudo, se rejeita cobri-los por desprezo ao costume local ou para espalhar uma moda contrária, peca. Neste sentido, ensina Antonio Royo Marín a respeito de vícios contra a modéstia no vestir:

"Vícios opostos. Embora contra esta, como contra as demais virtudes, seja possível pecar por excesso ou por falta, há muitas maneiras de incorrer em um ou outro extremo. Eis aqui as principais desordens que Santo Tomás aponta em um artigo escrito há sete séculos, e que é hoje de palpitante atualidade (II-II, 169, 1).

1ª Quando no modo de vestir se contrariam os salutares costumes de um povo. E cita as seguintes palavras de Santo Agostinho: "Uma convenção estabelecida em uma cidade ou em um povoado, seja pelo uso ou pela lei, não pode ser pisoteada pelo capricho de um cidadão ou de um estrangeiro." Meditem-no as autoridades encarregadas de velar pela moralidade pública diante da invasão desavergonhada de tantos "turistas" estrangeiros." (Teologia Moral para Leigos, n. 512.2)

Jules, por fim, diz: "Sabem onde é que existe a obrigação de usar véu e usar saia abaixo de joelho? Na Contregação Cristã do Brasil. Repitam comigo: ser católico não é fazer cosplay da Congregação Cristã do Brasil."

Corrijamos Jules. A obrigação de usar véu foi originalmente ordenada por São Paulo, um católico. Depois reiterada por São Lino Papa, um católico. Após ensinada pelos Santos Padres e os Escolásticos, todos católicos. Por fim, o Papa Bento XV, um católico, prescreveu o uso do véu no CDC 1917. Portanto, o uso bimilenar do véu prova que ele nunca será uma imitação ou um "cosplay" da Congregação Cristã, fundada apenas no século XX. O deboche de Jules é uma depreciação objetiva e mentirosa de um costume totalmente católico.

Jules também erra sobre os vestidos que cobrem o joelho. Entende ela que só existe a obrigação de cobri-lo na Congregação Cristã do Brasil. Não, Senhora. A Igreja também prescreve a mesmíssima coisa.

Papa Pio XI em 1930:
“Recordamos que um vestido não pode chamar-se decente se tem um decote maior que dois dedos abaixo da concavidade do colo, se não cobre os braços pelo menos até o cotovelo, e escassamente alcança um pouco abaixo do joelho. Ademais, os vestidos de material transparente são inapropriados.” (12 de janeiro de 1930)

Museu do Vaticano:

"Homens: calças pelo menos na altura do joelho. No verão é possível usar calças curtas mas os joelhos devem estar cobertos.

Mulheres: é proibido aparecer com as mangas descobertas. No verão a solução pode ser trazer um cardigan ou uma ombreira para usar dentro dos Museus. Calças ou saias devem cobrir até o joelho. É absolutamente proibido usar top que deixe a barriga aberta"

Código de Vestimenta da Basílica de São Pedro:

Código de vestimenta para a missa
Durante a missa na Basílica de São Pedro, homens e mulheres são obrigados a cobrir seus joelhos e ombros. Os homens podem usar calças e camisas, enquanto as mulheres podem usar saias longas ou vestidos, devendo ambos cobrir os joelhos. As mulheres podem usar chapéus para a missa, entretanto, os homens devem tirar os chapéus antes de entrar na Igreja.

A Basílica de São Pedro inclusive já adotou cartazes ilustrativos sobre como as pessoas devem se vestir:

Notemos que essas orientações são dadas não por causa de algum costume local, mas porque os espaços são sagrados e merecem respeito.

Basta. O exposto é suficiente para demonstrar o ridículo que Jules e de sua seguidora estão passando. Essas moças estão chamando a Igreja Católica de cosplay de CCB, isto é, de seita herética, por causa de hábitos e costumes perfeitamente normais em um católico.

O fato de estarem agindo assim só indica o quão apartadas estão de amizades e comunidades eclesiais minimamente saudáveis e conectadas com a Tradição perene da Igreja.

As causas do ódio ao véu

Já expusemos devidamente o erro de Jules e de sua seguidora. Mas a pergunta que nos sobra é: por que a católica moderna é tão avessa ao uso do véu?

Consideramos algumas causas prováveis do fenômeno. Ei-las:

1. Feminismo. A mentalidade igualitária do feminismo que hoje sufoca o mundo não deixou ilesa as católicas, mesmo as que se dizem conservadoras. Conforme temos exposto neste blog, são inúmeras as católicas conservadoras que demonstram ter uma mentalidade tipicamente feminista sobre as coisas. O uso do véu lembra a católica que o mundo não é igualitário e o mero símbolo que o véu traz de uma autoridade acima da cabeça da mulher a incomoda profundamente, pois a principal característica da mulher moderna é a insubordinação e a falta de docilidade. Mulheres, ademais, são ensinadas desde criança a serem iguais aos homens em tudo, isto é, no modo de vida e na maneira de vestir. A simples sugestão de que devem se vestir diferente é, para elas, altamente ofensiva. O que explica a seguidora de Jules se ofender com o simples oferecimento do véu. Católicas feministas um pouco mais formadas podem até aceitar as razões do uso do véu, mas nunca usarão. Impera em suas mentes o princípio "a mulher deve se vestir como ela quiser".

2. Liberalismo. A ideia de que o homem é liberto de normas e de Deus inundou a mente das católicas. Ainda que elas não rejeitem Deus e a Igreja, muitas terão um liberalismo mitigado expresso com uma profunda desconfiança das regras, dos padrões e dos princípios. Chamarão tais coisas de "rigorismos" e "moralismos" excessivos, mas nunca apresentarão os critérios que consideram normais e corretos. Muitas chegam ao cúmulo da contradição, que só poderíamos representar por meio da seguinte sátira:

23h59: Modéstia é se conformar com o costume local. Por isso é válido usar biquíni na praia e legging na academia.

00h00: Não vou usar "paninho" na cabeça. Não sou obrigada. Dane-se a Missa Tridentina, dane-se o costume.

3. Vaidade. O uso do véu transporta para a mulher uma aparência de pureza e, principalmente, de inocência. A mulher moderna repudia a inocência feminina, pois aprecia a rudez masculina. Ela precisa ser a "mulher forte", a mulher "sabe tudo". Num mundo feminista, a inocência, neste caso, é uma fraqueza, uma humilhação. Portanto, para uma católica moderna, é melhor nunca ver um rito venerável como a Missa Tridentina do que passar a impressão de que é frágil.

4. Moda. Muitas católicas rejeitam o véu porque o consideram, assim como Jules, "brega", "cafona", "fora de moda", coisa da Congregação Cristã. Possuem medo de parecerem ridículas. Assim, rejeitam o véu por acharem que ficarão bregas ou porque sua beleza ficará escondida dos outros. Devemos, no entanto dizer, que tudo isso é pura vaidade. Não lhes passa pela cabeça que cobrir a cabeça nunca foi uma questão de moda, mas de respeito para com o marido e de devoção para com Nosso Senhor. E que é perfeitamente louvável usarmos alguma roupa que desgostamos, se o fizermos por penitência ou por reverência a Deus, como ensina Santo Tomás:

"Não peca sempre quem usa de roupas mais vis que a dos demais. Assim, se o fizer por jactância ou soberba, julgando–se superior aos outros, cai no vicio da superstição. Se, porém, proceder desse modo para mortificar a carne ou por espírito de humildade, praticará a virtude da temperança. Por onde, diz Agostinho: Quem usa das coisas mais estritamente que o permitem os costumes daqueles com quem convive, ou é temperante ou e supersticioso. – Mas sobretudo cabe usar de roupas mais vis aqueles que exortam os outros, pela palavra e pelo exemplo, à penitência. Por isso, uma Glosa ao Evangelho diz: Quem prega a penitência traga um hábito de penitente." (S. Th. II-II, q. 169, a.1, ad 2)

Portanto, uma mulher que acha brega o véu, mas o usa por reverência a Nosso Senhor, pratica verdadeiramente a humildade e têm muito mérito perante Deus.

5. Consciência laxa. Por ser filha do liberalismo, a mulher moderna tende a ser laxa nos hábitos. Quando já se está acostumada a vestir biquínis ou leggings para mostrar o corpo, tirar fotos na academia e mostrar no Instagram, esconder a si mesma num véu é quase uma repreensão. De fato, o uso do véu é muito duro para quem tem consciência laxa, principalmente acerca da modéstia.

6. Igualitarismo no Novus Ordo. Nas paróquias do Rito de Paulo VI, exceto a celebração da Eucaristia e a pregação do Sermão, nenhuma outra função é exclusiva de homens ou de mulheres conforme a conveniência de cada sexo. Todos fazem tudo. É muito mais difícil demonstrar que mulheres não são iguais a homens, porque, de certa forma, o rito imita o modo de vida da mulher moderna. No Rito Tradicional, ao contrário, meninos servem o altar e mulheres usam o véu. Não há espaço para ideologia de gênero.

7. Paróquias ruins. Quase nenhuma paróquia hoje em dia ensina sobre a importância das devoções tradicionais da Igreja. Talvez, a devoção mais negligenciada na formação paroquial seja a do véu. Moças que nunca tiveram o exemplo de suas paróquias têm imensas dificuldades de acolher o uso do véu. Muitas delas se sentem envergonhadas de usarem o véu sozinhas. Contudo, é preciso dizer que se não começarem o bem nunca será feito. Os tempos modernos, infelizmente, requerem de nós um espírito audaz e sacrificial até mesmo para fazer o bem.

8. Animosidade desordenada contra grupos tradicionais. Há moças que não usam véu por animosidade descontrolada contra grupos tradicionais. Tais moças odeiam tradicionalistas a tal ponto que não suportam sequer a ideia de se assemelharem a uma mulher vinculada a eles. Não são capazes de fazer a distinção de que o véu é um patrimônio católico, não desde grupo ou daquele. Ademais, a incapacidade de ver inclusive as virtudes dos seus desafetos as impedem de olhar a importância do uso do véu com a devida racionalidade.

Remédios

Para todos os problemas citados acima o remédio é o uso do véu e o estudo da sua devoção. Não nada mais poderoso contra o feminismo e a vaidade do que o véu. Nada mais eficaz contra a laxidão, o liberalismo, a animosidade desordenada contra tradicionais do que o uso e o estudo do véu.

O estudo do véu releva as verdades sobre o matrimônio, sobre a ordem da criação, a nossa devoção para com Deus e sobre a virtude da temperança.

Uma católica de boa consciência nunca irá depreciar o véu piedoso ou tratá-lo como algo não católico. Rezemos para que as moças que assim agem compreendam o mal que dizem e fazem e se juntem a nós pela restauração dessa salutar e poderosa devoção.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

A Raiz da Guerra Litúrgica (KEVIN TIERNEY)

Na época em que era chefe do Prefeito da Congregação do Culto Divino, o Cardeal Robert Sarah pensou muito e profundamente sobre o papel que a liturgia desempenhava na formação dos católicos. Ele passou um tempo não apenas refletindo sobre os frutos de uma formação litúrgica adequada, mas como a liturgia, quando abordada de forma errada, poderia formar católicos de forma não intencional. Em uma conferência litúrgica de 2017 em Colônia, o prefeito alertou sobre uma liturgia que era uma ocasião para divisões odiosas, para confrontos ideológicos e para humilhações públicas dos fracos por aqueles que afirmam ter autoridade, em vez de ser um lugar da nossa unidade e da nossa comunhão no Senhor

Nisto, o Cardeal Sarah estava discutindo a temida “guerra litúrgica” que vem acontecendo, com intensidade diferente, no Rito Romano desde a promulgação do Novus Ordo Missae por Paulo VI em 1969. Entre alguns dos católicos mais fervorosos, a liturgia se tornou não uma ferramenta de adoração a Deus, mas uma linha de batalha em uma batalha maior sobre como a Igreja aborda o sagrado. Como muitas guerras de trincheiras, muito pouco é realizado por ela além de baixas. Ninguém gosta da guerra litúrgica. No entanto, apesar desse ódio sem fim, a guerra litúrgica é tão desagradável em 2024 quanto era nas décadas de 1990 e 2000. Por quê?

Ao expor tal teoria, vou adotar uma posição que pode irritar alguns tradicionalistas. Vou assumir a posição de que a maioria dos indivíduos envolvidos no Novus Ordo (com algumas exceções) eram indivíduos bem-intencionados, mas equivocados. Vou sustentar (com algumas exceções) que as ações dos Papas desde o Concílio foram sinceras, mas, uma vez que se basearam em uma aposta falha, sinceramente erradas. Isso pode não ser para você. Que assim seja.

Minha teoria da guerra litúrgica não se baseia em "qual é superior", mas em algo decididamente não litúrgico. Paulo VI e outros ao seu redor acreditavam que os frutos da nova liturgia seriam autoautenticados. A reforma seria um bem óbvio que todos amariam, mesmo que demorasse alguns anos. Como parte do incentivo a esse amor, Paulo VI ordenou que os padres queimassem seus navios quando pisassem no novo mundo. Ele proibiu funcionalmente todos os padres do Rito Romano (com algumas exceções) de celebrar o antigo missal. Não haveria como voltar atrás, nenhuma introspecção, nenhuma revisão sobre se as reformas funcionaram ou não. Até mesmo sugerir que tais reformas deveriam ser medidas era questionar a capacidade do Papa de guiar a Igreja na adoração. O Papa não suprimiu formalmente a Missa Tradicional. Por que é uma incógnita. Sou da posição de que é uma proposição canônica arriscada suprimir, para todos, algo lícito e celebrado pela Igreja por séculos. Entrar nessa discussão coloca o propósito da lei da igreja, e da disciplina da igreja, de cabeça para baixo. Então ele tentou outros assuntos para obter aceitação. Para ser claro, aceitação é o que ele obteve.

A esmagadora maioria dos católicos aceitou a nova missa. Eles entenderam que agora era a missa que eles assistiriam todo domingo. O que eles nunca fizeram foi abraçar a Nova Missa. As reformas litúrgicas não levaram a um fiel católico participando mais profundamente da missa. Não levaram a uma compreensão mais profunda. Não levaram a um fervor maior. Em suma, as coisas que ela alegava que seriam melhoradas em relação à missa latina não aconteceram em substância. O que restou foi a preferência pessoal. As reformas se tornaram grandes não por causa do que elas entregaram, mas por causa do que elas permitiram: maior expressão pessoal, uma elaboração de uma missa em direção aos desejos dos fiéis. Por "desejos dos fiéis", quero dizer os desejos de uma burocracia litúrgica que acreditava ser a geração mais santa de católicos de todos os tempos, e o mundo deve experimentar seu brilhantismo. Quer eles quisessem ou não.

A Nova Missa sobreviveu somente com base no decreto papal. Para o revolucionário que queria mais mudanças, tais decretos significavam pouco. Para muitos católicos que só queriam encontrar um momento de paz e solidão para encontrar Deus aos domingos, esse decreto papal também não significava muito. A Nova Missa existia. Ela não iria embora. No entanto, ela nunca foi amada. Como ela nunca foi amada, isso também significava que a Missa Tridentina também nunca iria embora.

Diante dessa realidade (e foi uma realidade que eles encontraram dentro de uma década de 1969), a Igreja lutou para lidar com o fato de que uma previsão do ofício papal, com todo o poder da autoridade canônica, não aconteceu . Nesse ponto, a Igreja ganhou tempo. Eles concederam indultos a alguns na Inglaterra e no País de Gales. Acordos individuais foram feitos. Padres em situações canônicas ambíguas eram desaprovados, mas muitas vezes deixados em paz. Em 1984, Roma emitiu regras para indultos, baseadas na firme crença de que dentro de uma geração, aqueles que quisessem a missa tridentina estariam mortos. Em 1988, com a excomunhão de Marcel Lefebvre, essa situação se tornou impossível. Nesse ponto, o status da missa latina não estava mais sob o controle da Igreja e de seus bispos. No entanto, a Igreja também não podia admitir que sua aposta estava errada. Se estivesse errada, então a própria reforma litúrgica poderia ser questionada em uma questão fundamental.

Eles então tentaram abordar as críticas estéticas defendendo uma "reforma da reforma", que tentava adicionar de volta muitas das coisas que por décadas o papa, bispos e conselheiros litúrgicos demonizaram como pertencentes a um museu ou cemitério. Tudo o que a reforma da reforma fez foi levantar a questão fundamental: se podemos ter latim, ad orientem e comunhão enquanto nos ajoelhamos na grade, por que não podemos simplesmente ter a missa tradicional em latim?

Quando Bento XVI ascendeu ao trono, ele entendeu que a Igreja não poderia responder a essas perguntas, a Missa Tridentina não iria embora, e a quantidade de fiéis que se voltavam para ela estava crescendo. Enquanto isso, com igual intensidade, o desejo de proibir a Missa Tradicional estava evaporando. Como fazer isso sem admitir um erro? Aqui, o brilhante teólogo tropeçou em uma grande brecha. Já que Paulo VI simplesmente deixou de lado a Missa Tradicional, ele a deixaria de lado. Ela existiria ao lado da Forma Ordinária, e os fiéis e padres poderiam decidir por si mesmos. Ele queria resolver a discussão se afastando dela completamente. Ele declarou vitória, não para uma forma ou outra, mas para a diversidade litúrgica, e então foi para casa.

Se pareço insincero, não é minha intenção. É preciso ser um homem notável para admitir que tentativas anteriores do papado de resolver essa questão só pioraram a situação, então não vou fazer isso. Joseph Ratzinger foi facilmente o teólogo mais talentoso do século XX, e esse conhecimento o tornou ciente das limitações da Igreja e de sua pessoa. Embora não tenha sido uma decisão perfeita, foi um cessar-fogo na guerra litúrgica, com uma paz temporária negociada. Deixe o mundo recuperar o fôlego, e então negociaremos uma nova paz.

O problema com essa abordagem é que havia uma escola de indivíduos na Igreja que queriam continuar a ofensiva. Toda essa conversa sobre paz era equivocada. Se você fizer as pazes com o passado, o passado retornará. Se você permitir o passado como uma opção aceitável, ele sempre estará lá, esperando para ser adaptado aos tempos modernos, como uma alternativa ao que quer que o presente esteja fazendo. Embora não saibamos se ele sempre foi dessa escola, em 2019, estava claro que Jorge Bergoglio, agora Papa Francisco, foi convertido a essa visão de mundo. Sua geração estava morrendo. Ele próprio estava morrendo. Sua estrela estava em declínio. O que acontece quando eles morrem, e esse passado que Paulo VI tentou forçar as pessoas a ainda existe? Quando Francisco perguntou aos bispos do mundo se eles entendiam a ameaça que a missa tradicional representava para a unidade da Igreja, a maioria deu de ombros. Então ele emitiu Traditionis Custodes, para tentar forçá-los a ver a ameaça. Quando eles ainda não viam, ele tentou medidas cada vez mais coercitivas para fazer os bispos e os fiéis verem. No entanto, o problema fundamental permaneceu: ninguém ama a alternativa. Eles a aceitam. Eles constroem suas vidas em torno dela. A Nova Missa é parte da experiência católica das 9h às 17h. No entanto, eles não a amam.

Esta é a verdadeira raiz das guerras litúrgicas. Uma geração de líderes (do papa para baixo) operou em uma aposta. Eles continuaram a aumentar as apostas, finalmente indo all-in. Eles perderam, e agora devem voltar para casa e explicar à família por que eles não têm mais um carro ou uma casa, e como eles terão que se adaptar à família perdendo suas camisas. Não se preocupe, você aprenderá a gostar disso. (Ou como um autor católico popular disse uma vez, nós pecadores merecemos uma liturgia feia.) 

Você está inspirado?

Fonte: https://kmtierney.substack.com/p/the-root-of-the-liturgical-war


quinta-feira, 8 de agosto de 2024

RCC e o "Homem com Voz de Garotinha" - O Problema da Afeminação da Música Católica

 

Há cerca de 3 anos Kyle Thompson do canal do Youtube "Undaunted. Life" realizou um podcast com o tema "Contemporary Worship Music is for Women and Effeminate Men" ("A Música de Adoração Contemporânea é para Mulheres e Homens Afeminados").

Segundo Kyle, os problemas do Worship cristão contemporâneo seriam estes:

1. É divisivo. É voltado para o público jovem. A pessoa só vai à igreja se esta tiver o estilo worship.

2. É egocêntrico, pois se volta inteiramente para o "eu".

3. É afeminado. Trata Cristo/Deus como um namorado.

4. Esconde a face "temível" de Deus, pois Ele é sempre retratado como um amigo fofo. Nunca como um juiz ou como o Leão de Judá. 

5. É sentimentalista. As músicas são excessivamente emocionais.

6. Não é realmente uma boa música. É repetitiva, estereotipada. Muitas são criadas a partir do country, do jazz ou do rock. Cristãos deveriam ser capazes de produzir uma música de nível mais alto e profundo do que optar sempre por música industrial.

7. É teologicamente falido. São músicas cativantes para ficarem guardadas na memória, mas não possuem conteúdo de fé para ser meditado.

Kyle ainda explica o porquê o porquê do Worship ser para mulheres e homens afeminados.

1. Mulheres consomem muito mais esse tipo de música do que homens. O worship é comercialmente feito para elas.

2. A ênfase está nas emoções. Efeminado é justamente aquele que não consegue controlar suas emoções.

3. É tudo sobre Cristo como cordeiro. Nada sobre Cristo como leão. A passividade é valorizada ao invés da fortaleza.

4. As músicas são escritas por mulheres ou por homens afeminados.

5. Se a letra desse tipo de música fosse escrita por homens de verdade, ela soaria como algo homoerótico. As Escrituras nunca descrevem a relação entre homens e Deus em termos eróticos. Homens buscam um líder masculino, não um amante masculino.

As observações de Kyle se coadunam com a opinião de Calvin Johansson que publicamos no artigo "O problema da música gospel". A música cristã contemporânea (Gospel) é causa de imaturidade espiritual e atrapalha objetivamente a santidade, porque, na verdade, é um lixo musical que não favorece a oração.

Contudo, Kyle acrescenta mais um problema, o da afeminação da música cristã.

Neste blog, já comentamos no artigo "Sobre o Tradismatismo" sobre o problema da música carismática católica. Nesse artigo criticamos o uso de música não-litúrgica por carismáticos na missa. Porém, convém descatar o quanto a Renovação Carismática tem sido pródiga em produzir também músicas afeminadas.

Neste contexto, nota-se a música do Pe. Marcelo Rossi "Yeshua", agora regravada com o cantor Thiaginho (sim, aquele mesmo).

A canção encaixa-se com perfeição nos problemas descritos por Kyle Thompson sobre o worship cristão atual. Vejamos a letra:

Ele chora, Jesus, esse nome que ele chora/Te chamam de Deus e de Senhor/Te chamam de Rei e de Salvador/Mas eu me atrevo a te chamar de meu amor/Te chamam de Deus e de Senhor/Te chamam de Rei e de Salvador/Mas eu me atrevo a te chamar de meu amor

Yeshua, Yeshua/Tu és tão lindo/Que nem sei me expressar/Yeshua, Tu és tão lindo/Jesus/Meu Rei/Te chamam de Deus e de Senhor/Te chamam de Rei e de Salvador/Mas eu me atrevo a te chamar de meu amor/Te chamam de Deus e de Senhor/Te chamam de Rei e de Salvador

Mas eu me atrevo a te chamar de meu amor/Yeshua, Yeshua/Tu és tão lindo/Que nem sei me expressar/Yeshua, Tu és tão lindo/Yeshua, Yeshua/Tu és tão lindo/Que nem sei me expressar

Jesus/Yeshua, Tu és tão lindo/Tu és tão lindo/Yeshua, Yeshua/Que nem sei me expressar/Yeshua, Tu és tão lindo/Que nem sei me expressar/Yeshua, Tu és tão lindo/Jesus

A música é repetiva, sem conteúdo teológico, sentimentalista, judaizante e, se for cantada por homens, soa como algo homoafetivo.

Padre Marcelo, previsivelmente e para a nossa infelicidade, também canta essa música em suas missas:


Já a canção "Jesus, Meu Esposo" da Comunidade Católica Colo de Deus, que citaremos apenas alguns trechos, vemos um homem se autonomeando "esposa" e chamando Jesus de "meu esposo". A música só faz sentido se imaginarmos que se trata de uma relação homoafetiva.

Segue a letra:
É digno que a esposa/Se cubra com as vestes do esposo/É justo que eu meu vista com as feridas do teu corpo/Jesus, meu esposo
Eu troco as coroas desse mundo/Pela coroa e os teus espinhos/É justo que eu me cubra com a tua dor/Jesus meu esposo
Me deixe entrar/Me deixa entrar/(Na brecha do teu peito)/Te conhecer por dentro/Em tuas chagas, cura e libertação encontrar/Me deixa entrar/(Na brecha do teu peito)/Te conhecer por dentro, meu Jesus/(Te conhecer por dentro)/E em tuas chagas, cura e libertação (encontrar)/
Me deixa entrar, ê, ê, ê/Na brecha do teu peito/Te conhecer por dentro, e em tuas chagas/E em tuas chagas, cura e libertação (encontrar)
Avivamento encontrar/Esperança encontrar/Tua face encontrar, avivamento/Avivamento encontrar, esperança/
Esperança encontrar, tua face/A tua face encontrar/Meu esposo, e ele é/Jesus meu esposo/
Jesus meu esposo, Jesus meu esposo, Jesus meu esposo/Eu estou entrando, Eu estou entrando, E quanto mais eu entro/Mais eu me encanto
Eu estou entrando (estou entrando)/Eu estou entrando (eu estou entrando)/E quanto mais eu entro/Mais eu me apaixono
Eu estou entrando (eu estou entrando)/Eu estou entrando (eu estou entrando)/E quanto mais eu me apaixono/Mais eu me conheço
E descubro que eu sou louco/E descubro que eu sou louco/E descubro que eu te amo
Primeiramente, a música traz a frase "É justo que a noiva se vista com as vestes do esposo". A afirmação, no entanto, é péssima, porque esposas simplesmente não se vestem de esposo e nem é justo fazê-lo, visto que por direito natural homens e mulheres devem se vestir diferente. É uma frase sem sentido e que favorece a ideologia de gênero. Certamente, a esposa deve assumir muitas coisas do esposo, mas a veste não é uma delas.

Depois a letra fala de Jesus como "esposo". De fato, Nosso Senhor é retratado pela Tradição como Esposo, mas sempre da Igreja ou da alma, nunca do indivíduo enquanto tal. A canção, porém, retrata Cristo como esposo de um eu lírico masculino, pois a voz poética é de um homem ("E descubro que eu sou louco"). Esta abordagem é completamente homossexual, pois Cristo é tomado como um parceiro romântico de um outro homem, algo nunca feito antes pelos santos. Não se verá nos escritos espirituais de Santo Agostinho, São Bernardo, Santo Tomás de Aquino ou de São João da Cruz Jesus Cristo sendo tomado como esposo de si mesmos.

Notemos como só faz sentido a "esposa se vestir com as vestes do esposo", se imaginarmos que se trata de uma relação entre dois homens.

Por fim, a canção diz:
Jesus meu esposo, Jesus meu esposo, Jesus meu esposo/Eu estou entrando, Eu estou entrando, E quanto mais eu entro/Mais eu me encanto.

Eu estou entrando (estou entrando)/Eu estou entrando (eu estou entrando)/E quanto mais eu entro/Mais eu me apaixono.
A música parece parafrasear o verso 4 do primeiro capítulo de Cântico dos Cânticos:
"Arrasta-me após ti; corramos! O rei introduziu-me nos seus aposentos. Exultaremos de alegria e de júbilo em ti. Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho. Quanta razão há de te amar!" (Ct 1,4)
Todavia, notemos a diferença. O eu lírico da canção da Colo de Deus é masculino. Já o eu lírico de Cântico dos Cânticos é feminino. Na música da Colo, portanto, o homem literalmente se torna a mulher da relação (!).

Em suma, na música temos: um homem se autodeclarando "esposa" e fazendo de Cristo um par romântico e um homem se apaixonando na medida que "entra" no seu esposo.

Um rapaz homossexual tem nesta música um verdadeiro "lar". Ele é convidado a "sair do armário" toda vez que a canta, pois pensa que é justo falar de Cristo como um par romântico esquecendo-se que ele é verdadeiro Deus, mas, antes de tudo, verdadeiro homem.

Só por este fato esta música deveria ser extirpada dos shows carismáticos e da música católica como todo. Não sabemos quem seja, mas não duvidamos que o compositor da canção seja, de fato, um homem homossexual ou muito afeminado.

Continuemos.

No clipe da música, se vê ainda jovens andando a esmo e rapazes tendo gestos e movimentos muito afetados:


A afeminação dos movimentos é resultado direto da música tocada, tendo em vista que ela incentiva a espontâneidade e a explosão de sentimentos ao invés da sobriedade/gravidade do espírito de devoção.

A música, além de homoafetiva, gera problemas de imodéstia corporal. Segundo Antonio Royo Marín, a modéstia corporal
"É uma virtude que nos inclina a guardar o devido decoro nos gestos e nos movimentos corporais" (Teologia Moral para Leigos, tomo I, p. 585).
E continua o mesmo autor:
"Gestos bruscos e descompassados, gargalhadas ruidosas, olhares fixos ou indiscretos, modos afetados e amaneirados e outras mil impertinências desse tipo são indício, geralmente, de um interior desordenado e vulgar." (p. 586)

Ora, se há rapazes católicos com tendências e trejeitos homossexuais, mas que buscam viver o ensino da Igreja, nada pior e inóspito pra eles do que um ambiente que os incentiva a terem explosões de sentimentos e de imodéstia corporal, pois ambos geram a efeminação do comportamento masculino.

Com efeito, não é surpresa que do meio carismático alguns ícones famosos tenham se assumido publicamente homossexuais e com vida sexual ativa, como foi o famoso caso do cantor Gil Monteiro, que confessou, em 2022, que estava "casado" há pelo menos cinco anos com seu "marido".

Do exposto, concordamos inteiramente com o Dr. Peter Kwasniewski, quando diz, na segunda parte do seu artigo Sacred Music vs Praise and Worship - Does it Matter?que o Worship cristão deveria ser totalmente excluído não só da liturgia como também da adoração devocional:

"Não pode haver lugar para música pop contemporânea inspirada ou influenciada pelo pop na liturgia porque ela viola vários dos princípios repetidamente dados nos documentos da Igreja. O fato de muitos padres e bispos não aplicarem essas regras e não parecerem se importar não vem ao caso, assim como o fato de a maioria dos católicos discordar da Humanae Vitae (incluindo muitos membros do clero) não justifica a contracepção. A vasta maioria dos católicos está em um estado de profunda ignorância, desrespeito habitual e, às vezes, desobediência total, e devemos encarar o fato de que isso é parte da causa da atual crise de identidade, doutrina e disciplina na Igreja.

Eu iria mais longe e diria que precisamos nos afastar da moda ou modismo de usar música derivada de estilos populares contemporâneos para qualquer atividade litúrgica ou devocional. Faríamos bem na adoração, por exemplo, se retornássemos a um papel muito maior para o silêncio e um uso consistente de cantos mais simples. A oração silenciosa, combinada com o canto, permite que pessoas de temperamentos, personalidades, idades, situações pelas quais estão passando em um determinado dia, etc., estejam unidas em oração de uma forma que pode ser adaptada às necessidades de cada uma. A oração vocal, ou uma forma de música mais “emocionante”, embora essas coisas possam ter seu lugar na vida cristã, não facilitam a oração em grupo, portanto a oração litúrgica, da forma que o silêncio e o canto (e a música sacra) o fazem."

A RCC faria um grande bem à música católica brasileira, se começasse a promover autêntica música sacra e deixasse de lado o pop religioso. Como vimos, não é um estilo autênticamente católico, empobrece a música cristã, impede a santificação de irmãos com tendências homossexuais e causa imaturidade espiritual dos fiéis.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

O Problema da "Missa Nova Bem Rezada" (BONIFACE)

Durante grande parte da minha vida como católico, frequentei o que a maioria chamaria de "Missa Nova bem rezada". Para alguns católicos que nunca viram um NO que não fosse um show de palhaços, o conceito de uma Missa Nova bem rezada pode ser uma surpresa, mas garanto que ela existe, embora seja rara. Como é uma Missa Nova bem rezada? Na minha experiência, ela podem incorporar alguns ou todos os seguintes elementos:

  • O ordinário da missa rezado ou cantado em latim
  • Uso exclusivo do Cânon Romano ("Oração Eucarística I")
  • Prevalência de mulheres que usam véu
  • Canto substituindo hinos
  • Um introito em latim
  • Um rito de Asperges
  • Paramentos bonitos
  • Recepção quase exclusiva da Sagrada Comunhão na língua
  • Sacrário localizado no centro
  • Recepção da comunhão ajoelhado na mureta do altar
  • Altar fixo, com aparência de sacrifício (ou seja, sem um frágil "altar mesa")
  • Bela arquitetura tradicional e decoro
  • Pregação e catequese ortodoxa
  • Acólitos do altar masculinos tradicionalmente paramentados
  • Cultivo de uma espiritualidade mariana e eucarística
  • Congregação vestida apropriadamente e reverentemente
  • Oração de São Miguel após a missa

Tenho sido consistente ao longo dos anos na minha opinião de que o Novus Ordo não é intrinsecamente irreverente; Isso mesmo. Sabemos que uma maioria estatística das liturgias do Novus Ordo são, na melhor das hipóteses, constrangedoras e, na pior, irreverentes, mas ainda assim o NO pode teoricamente ser celebrado de uma forma que seja condizente com a dignidade da liturgia. Talvez você discorde disso, mas tanto faz. Esse não é o ponto deste ensaio. E, claro, a Missa Tradicional é superior a esse respeito em todos os sentidos, e isso é inquestionável. Mas o ponto é que é possível celebrar o Novus Ordo de uma forma que seja reverente e digna, e que para muitos católicos esses tipos de liturgia do Novus Ordo constituem uma fonte real e positiva de nutrição espiritual e oferecem uma conexão verdadeira, embora muito imperfeita, com a tradição católica.

No entanto, mesmo que tudo isso seja verdade... é uma defesa terrível do Novus Ordo. Há uma razão maior que paira como um elefante na sala — o fato de que mesmo a melhor liturgia do Novus Ordo só o é por causa da preferência pessoal do celebrante.

As rubricas do Novus Ordo definitivamente permitem uma celebração reverente. Mas a palavra "permitir" é o ponto crucial do problema. Ela permite todas as opções mais reverentes se o celebrante assim escolher usá-las. E as mesmas rubricas que permitem a reverência permitem com a mesma facilidade as opções mais banais, bobas ou irreverentes se o celebrante assim escolher. O Novus Ordo é liturgicamente libertário. Ele eleva o princípio da escolha pela escolha como o princípio determinante da liturgia. Isso garante que a qualidade da experiência litúrgica de alguém seja determinada não pela estrutura do rito em si, mas pelos caprichos do celebrante. Mesmo quando o celebrante escolhe usar as opções mais reverentes — o que pode ser bom para aquela liturgia em particular — no geral é um mau estado de coisas porque a estabilidade daquela "Missa Nova bem rezada" está sempre em questão.

Para ser franco, isto significa que apenas uma pessoa está entre a Missa Nova bem rezada e a completa reviravolta da vida litúrgica da paróquia. Alguns exemplos da minha própria história:

Minha paróquia teve um pastor tradicional por mais de uma década. Ele fez o que eu descreveria como um Novus Ordo "reverente" e (após a promulgação do Summorum Pontificum) ele também celebrava a Missa Tradicional em Latim. Todas as suas liturgias de ambas as formas usavam o altar-mor neogótico. A paróquia tinha um altar de mesa, mas o pastor o havia removido e guardado. Bem, eventualmente, esse pastor foi embora e nos foi designado um administrador paroquial temporário até que um pastor permanente fosse designado. O sujeito interino imediatamente colocou o altar de mesa de volta. Ambos os clérigos podiam citar documentos em apoio às suas decisões: o pastor original corretamente observou que o texto do  Missale Romanum assume que o celebrante está voltado para ad orientem e, portanto, presume um altar de parede fixo, não um altar de mesa. O administrador interino poderia citar o IGMR, que diz especificamente que o altar "deve ser construído separado da parede, de tal forma que seja possível andar ao redor dele facilmente e que a missa possa ser celebrada nele de frente para o povo" (GIRM 299). Tudo dependia da personalidade e das preferências de cada homem, qual documento eles escolheram seguir e como eles interpretaram esses documentos. Quando um novo pastor foi finalmente designado, ele (novamente) removeu o altar da mesa. Se ele algum dia for embora, um novo pastor poderia facilmente colocá-lo de volta.

Outra história: anos antes, quando retornei à Igreja, eu estava assistindo à missa naquela que era então a paróquia mais tradicional da minha região. O pastor rezou uma Missa Nova em latim, onde tudo, exceto as leituras e a homilia, era cantado em latim. Eu adorei isso. Foi minha primeira exposição a algo que se aproximasse da tradição litúrgica católica. Bem, eventualmente aquele pastor foi removido e nós pegamos outro, um cara do tipo "não balance o barco" de energia muito baixa. Matéria pima de bispo. De qualquer forma, uma vez que o novo padre entrou, adivinhe qual foi a primeira coisa que foi retirada? Eu acho que o latim não foi mais rezado naquela paróquia desde então.

O ponto é este: mesmo quando a Missa Nova é rezada reverentemente, é como um exercício do gosto pessoal do pastor — e a elevação da preferência do celebrante acima de todas as outras considerações é talvez o pecado original do Novus Ordismo. O Novus Ordo no seu melhor ainda é um exemplar do que há de pior nele. Que ironia bizarra.

Quão diferente isso é da Missa Tradicional, onde o celebrante se torna irrelevante! A reverência da Missa Tradicional não é o produto de preferência subjetiva, mas é construída na estrutura do próprio rito. A Missa Tradicional não tem uma "permissão" contingente para reverência; ela simplesmente é reverente. A reverência não é o produto de ter o pastor certo, construir a congregação certa ao longo dos anos e fazer as escolhas certas entre um mar de opções. A reverência da Missa Latina Tradicional não é o fim a ser alcançado, mas uma fundação que é tomada como certa e construída sobre ela. É onde começamos, não onde terminamos. 

Liturgia reverente não é algo pelo qual os católicos devam lutar, muito menos deixar aos caprichos das preferências litúrgicas de um homem. Deve ser nosso direito de nascença como filhos e filhas da Igreja.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

O Deboche como Arma do Feminismo Católico


Neste blog tratamos amplamente de posições feministas que têm ganhado eco entre conservadores católicos em alguns artigos. Lidamos com:

Objeções feministas à submissão da mulher ao marido:


Objeções feministas à modéstia no vestir:




Objeções feministas à doutrina do trabalho da mulher casada:


Um tema, porém, ainda não abordado por nós, é o uso do escárnio/deboche como método feminista de destruição de adversários. O deboche, a chacota, o escárnio é ínsito no comportamento feminista como veremos mais a frente. Infelizmente, talvez inconscientemente, moças católicas tendentes ao feminismo têm adotado o mesmo tipo de conduta.

Para entendermos como funciona o deboche como método precisamos compreender primeiro o que é o feminismo.

O feminismo, como dissemos no artigo "O que significa a "submissão mútua" de São João Paulo II", é essencialmente um pecado contra a fidelidade matrimonial, contra a autoridade do marido sobre a esposa. 

Feministas por negarem em seus corações que quem inventou o patriarcado foi o próprio Deus, pois este constituiu Adão como chefe da humanidade e os sacerdotes como governadores da Igreja, utilizam diversos mecanismos para minar a autoridade do homem e controlá-lo, entre os quais um deles é o escárnio. O deboche, também chamado derrisão, tem por fim suscitar a vergonha do próximo, como ensina o Doutor Angélico:
"Como já dissemos, os pecados por palavras devem ser considerados, sobretudo relativamente à intenção de quem as profere. Por onde, esses pecados se distinguem pelas diversas intenções que tem quem fala contra outrem. Ora, quem profere um convício visa deprimir a honra daquele contra quem o irroga; se detrai visa depreciar-lhe o bom nome; e se sussurra, destruir-­lhe a amizade. Assim também, fazendo derrisão, visa fazer enrubescer aquele que é objeto dela. E sendo este fim distinto dos outros, também o pecado de derrisão distingue-se dos já referidos." (S. Th. II-II, q.75, a.1, sol.)
O escárnio, portanto, é um ataque à autoestima do próximo. Homens e mulheres atacam a autoestima uns dos outros de modos diferentes. Homens quando querem tirar a autoestima das mulheres eles batem, se tornam grosseiros, violentos e traidores. Mulheres quando querem tirar a autoestima dos homens  debocham. A esposa ideal nunca usa o deboche para diminuir ninguém. Mas como a feminista é o arquétipo da anti-esposa, então ela, casada ou não, sempre será rixosa, reclamona e, principalmente, debochada.

A mulher católica e realmente virtuosa nunca é debochada. Se a violência dos homens é o oposto da proteção que deveriam oferecer, o deboche das mulher é o oposto da brandura e docilidade que deveria apresentar, pois a mulher católica é caracterizada, principalmente, pela sua personalidade amável, como ensinava o imortal Pio XII:
A esposa é o sol da família com a clareza de seu olhar e a chama de sua palavra; olhar e palavra que penetram suave mente na alma, a vencem e enternecem, acalmam o tumulto das paixões, e levam ao homem a alegria do bem-estar e da conversação familiar, depois de uma longa jornada de contínuo e às vezes penoso trabalho, no escritório ou no campo, ou de imperiosos negócios no comércio ou na indústria. Seus olhos e sua boca lançam uma luz e um acento, que num raio têm mil fulgores e num som mil afetos. São raios e sons que brotam do coração de mãe, criam e vivificam o paraiso da infância e irradiam sempre bondade e suavidade, ainda quando advertem ou repreendem, pois as almas juvenis, que sentem com mais força, recolhem com maior intimidade e profundidade os ditames do amor.

A esposa é o sol da família com sua cândida natureza, sua digna simplicidade e seu cristão e honesto decoro, tanto no recolhimento e na retidão do espírito, como na sutil harmonia da atitude e vestimenta, no adorno e na postura, a um só tempo reservada e afetuosa. Sentimentos tênues, a dos traços do rosto, ingênuos silêncios e sorrisos, um condescendente movimento de cabeça, dão-lhe a graça de uma flor requintada e, no entanto, simples, que abre a corola para receber e espelhar as cores do sol. Oh! Se soubésseis que profundos sentimentos de afeto e gratidão suscita e imprime no coração do pai de família e dos filhos essa imagem de esposa e mãe! O anjos, que velam sobre as casas e ouvem as orações dela, impregnai de perfumes celestiais aquele lar de felicidade cristä!

Mas, que sucede quando a família está privada desse sol? Que sucede quando a esposa, continuamente e em cada circunstância, mesmo nas relações mais íntimas, não hesita em demonstrar quanto lhe pesa a vida conjugal? Onde está sua amorosa doçura, quando uma dureza excessiva na educação, uma suscetibilidade mal domada e uma frieza irada no olhar e nas palavras, sufocam nos filhos a alegria e o feliz consolo que teriam de encontrar na mãe; quando ela se limita a perturbar com tristeza e amargurar com voz áspera, com lamentos e repreensões, a confiada convivência no ambiente familiar? (Discurso do Papa aos Recém Casados – A Esposa e Mãe – Sol do Lar Doméstico, 11 de Março de 1942)
O Pe. Mathias de Bremscheid no livro "A Donzela Cristã" também ensina no mesmo sentido:
"Se o caráter possuir apenas inflexibilidade e firmeza, degenera em capricho e rigidez, e tornar-se-á desagradável e repulsivo. À firmeza cumpre aliar a brandura e mansidão.

Sê firme e inflexível no tocante aos princípios essenciais, e inabalavelmente fiel ao cumprimento consciencioso dos deveres; contudo, evita toda aspereza no trato com teus semelhantes e mostra-te afável e branda com todos.

...Assim deve ser a jovem virtuosa: firme nos princípios, tenaz e enérgica nas atitudes, avessa à insensibilidade e grosseira; compassiva e amável; indulgente e atenciosa; e assim, sua vida esparzirá felicidade, alegria, prosperidade e bênçãos.

Se quiseres adquirir esta doçura de caráter, impõe-te seriamente o esforço de combater, com energia, a tua natureza arrebatada e a tua propensão para a cólera. Habitua-se a falar e tratar com todos pacificamente e com brandura.

O Divino Salvador elogia a mansidão, dizendo: “Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra”. (Mt., 5,4)

... Não te obstines na tua opinião, nem tomes facilmente resolução irrevogável em coisas secundárias, se não estiveres seguramente convencida diante de Deus, de que isso em quaisquer circunstâncias constitui um dever imutável.

Nas pequenas contrariedades e dissabores, não te exaltes intimamente, nem profiras palavras de enfado; domina-te, corajosamente e não permitas que se altere o teu humor. Se aprenderes desde cedo a aliar doçura e indulgência, à firmeza e energia, evitarás, muitos contratempos e situações dolorosas..."
As Sagradas Escrituras também reprovam a mulher irascível, rixosa e destemperada:
"Melhor é habitar no deserto do que com uma mulher impertinente e intrigante" (Pr 21,19)

"É melhor habitar um canto do terraço do que viver com uma mulher impertinente." (Pr 25,24)

"Goteira que cai de contínuo em dia de chuva e mulher litigiosa, tudo é a mesma coisa. Querer retê-la é reter o vento, ou pegar azeite com a mão. (Pr 27,15-16)

No livro "O Poder Oculto da Amabilidade", o Pe. Lawrence Lovasik afirma que a união íntima com Nosso Senhor faz desaparecer do cristão o hábito do deboche:

"A amabilidade é nossa imitação da Divina Providência. A amabilidade, para ser perfeita e duradoura, deve ser uma imitação consciente de Deus. Se você estiver sinceramente conformando-se à imagem de Jesus Cristo, a aspereza, a amargura e o sarcasmo desaparecem. A própria tentativa de ser como Jesus já é uma fonte de doçura dentro de você, fluindo com uma graça fácil sobre todos que estão ao seu alcance."

 O mesmo é repetido pelo Pe. William Faber na obra "A Bondade":

"O conhecimento crescente do pouco que valemos, proporcionado pela união crescente com Deus sob o impulso da graça, torna-nos compreensivos com os outros. A aspereza, a amargura, a ironia mordaz, a meticulosa observação dos outros, a procura de motivos para menosprezar os outros - tudo isso desaparece quando alguém, seriamente, se conforma com a imagem de Jesus Cristo."

O exposto permite-nos dizer que a atitude debochada ou escarniciosa não deve ser um comportamento entre cristãos. A ironia, é claro, trata-se de um recurso retórico que pode evidenciar melhor o absurdo, mas o sarcasmo ou a ironia mordaz para humilhar, diminuir o próximo é um pecado mortal e não pode ser tolerado.

O deboche do feminismo católico

O feminismo, como dissemos, vive de escárnio. E o feminismo católico não é diferente. Ele é escarnecedor, rixoso e debochado. Nos debates, principalmente sobre modéstia, é comum ouvirmos comentários feministas debochados sobre mulheres tradicionais. Como dissemos no artigo "Conservadores católicos se rendem à imodéstia" é ínsito do feminismo católico o combate e a desconstrução da modéstia do vestir, visto que feministas, como boas liberais, valorizam acima de tudo a liberdade e a autonomia de padrões e regras no modo de vestir.

Nesse sentido, citamos, mais uma vez, o Pe. Bremscheid para ilustrar o ponto:

Não há muitas pessoas que condenam um padrão definido de modéstia no vestir?

Naturalmente, assim como um homem de negócios desleal condena uma lei honesta. Uma sociedade que destruiu os padrões tradicionais de modéstia no vestir, com dificuldade tomaria esforços para reimplantá-los, Mesmo católicos liberais se opõem a padrões específicos de modéstia no vestir. Isto em conseqüência de que o Liberalismo procura uma falsa liberdade em relação às leis, as regras, às regulamentações e a todo tipo de restrições.

Entretanto, queiram as pessoas admitir ou não, todas as suas vidas são reguladas por padrões de uma forma ou outra. Ha padrões para sapatos, padrões para pesos. Temos cores padronizadas e tamanhos, padrões de qualidade e mesmo padrões de tempo que nos são impostos pelo sol. Temos padrões de maneiras e de modos de agir que nos influenciam até mesmo nos minimos detalhes.

A cada passo somos confrontados com padrões. As pessoas aceitam isso sem questionarem, até o ponto, por vezes, de chegarem à escravidão e ao absurdo.

Porventura somente a virtude da modéstia deveria ser privada de ser regulada e protegida por padrões? Se estamos prontos para aceitar o que quer que as autoridades seculares nos imponham, muito mais devemos nós, católicos, estar prontos para aceitar "o que quer que Maria Imaculada aprove", o que é nosso lema da Cruzada.

A seguir mostraremos uma sequência de deboches do feminismo católico em relação a pessoas que defendem padrões e regras na modéstia do vestir. 

1) "Seita do véu"

Uma das bandeiras do feminismo católico é a batalha contra o véu. Feministas odeiam o véu, porque a devoção do véu é a maior arma católica contra o feminismo. O véu lembra a mulher que há autoridades acima dela, Deus e o marido.

Assim, tem sido cada vez mais comum feministas debocharem de moças que usam véu rotulando-as de "seita do véu". Todavia, tal escárnio simplesmente não faz sentido.

Primeiro, não há qualquer sentido de se falar em "seita do véu" quando o uso dele é obrigatório, conforme demonstramos no artigo "O uso piedoso do véu não é mais obrigatório?". 

Segundo, ainda que não fosse obrigatório, é a ausência do uso dele que sempre foi considerada pelos autores católicos, como Santo Tomás, como um costume reprovável entre as mulheres.

"Salvo que nem mesmo às mulheres casadas convém trazer os cabelos descobertos, elas que devem cobrir até a cabeça. Caso em que certas poderiam ser escusadas do pecado, se não procedessem assim por nenhuma vaidade, mas, por um costume contrário, embora tal costume não seja louvável." (S.Th. II-II, q. 169, a. 2).

O moralista Donald P. Goodman III no ensaio "Por Causa dos Anjos: Um Estudo do Véu na Tradição Cristã" assim comenta a posição de São João Cristóstomo a respeito de mulheres que não usam véu:

"São João Crisóstomo foi o mais prolífico e mais contundente de todos os Padres a respeito do véu. Tanto no que diz respeito à importância do que disse quanto ao rigor de seus ensinamentos, Crisóstomo foi de longe o mais inflexível em insistir sobre o véu para mulheres. Ele afirma inequivocamente que “estar sem véu é sempre uma reprovação” para as mulheres, assumindo assim uma posição ainda mais rígida do que a leitura de I Coríntios nos levou a pensar que o apóstolo assumia.

Crisóstomo argumenta que uma mulher deve “estar coberta cuidadosamente em todos os lados em todos os momentos'', baseando diretamente seu argumento no texto da Epístola de São Paulo. Para São João Crisóstomo, São Paulo regrava o uso contínuo do véu mesmo fora da oração. Ao invés de interpretar esse verso - “porque é como se estivesse rapada” - como uma analogia, ele afirma que isso é uma identificação dos dois estados, dizendo que “se estar rapada é sempre vergonhoso, também é certo que estar sem véu é sempre reprovável.

E chega à seguinte conclusão:
O véu é uma bela e autêntica parte da Tradição Católica, que proclama numerosos e elevados aspectos de nossa santa religião e fornece um sinal nobre e óbvio de contradição ao mundo que tanto odeia a mensagem que nosso Deus trouxe para nós. A própria existência da hierarquia natural, o reconhecimento de que Deus está acima do homem, desapareceu de nossa cultura; em toda parte triunfa a afirmação de que todos os homens são iguais.

O véu mostra nossa oposição ao mundo e ao ethos libertino que a Modernidade fez triunfar. As forças dominantes do feminismo, panteísmo, hedonismo e igualitarismo recebem uma repreensão permanente pelo simples fato de uma mulher católica cobrir seus nobres e abençoados cabelos. O véu é um costume bonito e valioso; deve ser preservado onde existe e restaurado onde não existe, e daí estendido à sua plena e adequada prática em todo o mundo católico.
Portanto, se há uma "seita", isto é, um cisma da Tradição católica, esta é a "seita das insubordinadas", que não aceitam qualquer referência, mesmo que simbólica, da hierarquia familiar estabelecida por Deus.

2) "Seita da saia e do vestido"

Outra grande bandeira do feminismo é o uso de calças. Diremos, no entanto, que a defesa da calça pelo feminismo, neste caso, não é pela calça em si mesma. Feministas não defendem o uso de calças por acreditarem que elas são adequadas para as mulheres. Feministas defendem as calças porque elas acreditam num princípio liberal, isto é, que mulheres devem se vestir como elas quiserem.

Assim, se uma mulher deve se vestir como ela quiser, então, nesta mentalidade, faz todo sentido falar em "seita da saia e do vestido", já que a modéstia, na prática, não existe. Seria simplesmente uma coisa de "seita" exigir padrões de modéstia e pudor dos outros.

Mas, como mostraremos a seguir, é a ausência de padrões que traz as maiores confusões sobre o tema.

Recentemente, Glória Küster, consultora de imagem e estilo, uma pessoa que já tratamos brevemente aqui, após falar das calças, alertou seus seguidores, em seus Destaques no Instagram, que, na sua página não se encontrará regras de modéstia.


Ela prova assim o que dissemos: a defesa da calça não é pela calça, mas pela libertação de padrões em favor da autonomia pessoal (princípio liberal).

O pensamento de Glória, obviamente, atrai pessoas que pensam igual a ela. Em uma nova postagem no Instagram, Glória respondia uma pergunta que não tinha qualquer relação com a modéstia no vestir, e sim com moderação na compra de roupas. Contudo, o simples fato de responder uma pergunta que pudesse envolver escrúpulos e roupas, já acionou o gatilho do deboche feminista de suas seguidoras para ironizarem a "seita da saia".


Aline Brodbeck é dona do "Blog Femina" e muito conhecida por ser uma das primeiras influenciadoras católicas a combaterem padrões de modéstia do vestir, principalmente daqueles defendidos por católicos tradicionais. Agora, pelo que tudo indica, ela já aderiu ao método feminista do deboche, pois rotula os desafetos de "seita da saia".

Pois bem, faz sentido falar de "seita da saia" como Aline e tantas outras falam? Não, não faz.

Aliás, em que época da História humana mulheres afirmariam que o uso de saia ou de vestido é coisa de uma "seita" senão a nossa, a mais feminista da História?

Saias e vestidos são as autênticas roupas femininas, como saudosamente afirmou o Pe. Paulo Ricardo:

Ora, seria o Padre Paulo um integrante da "seita da saia"?

Não, absolutamente não. Ele apenas disse o óbvio: historicamente, o normal da mulher é usar saia e vestido. O anormal é se apartar deste padrão. A única "seita" propriamente falando é das mulheres que querem imitar os homens no modo de vestir, como bem advertiu o Cardeal Siri aqui, isto é, a "seita das feministas".

Donald P. Goodman III no livro "The Modesty Handbook" assim salienta a importância da restauração do uso de saias:

A saia é, portanto, um sinal importante do poder que pertence às mulheres nos seus papéis naturais, um poder que, embora não seja evidente como o dos homens, é, no entanto, insondavelmente grande. Não é um sinal do seu domínio, como seria descobrir as suas cabeças, mas é um sinal do poder inerente aos seus papéis, um poder comparável ao dos reis, mas menos grosseiro e óbvio. A saia parece ser mais adequada para as mulheres, pelo menos considerada desta forma.

Mesmo assumindo, no entanto, que a cultura é a única que determina especificamente o vestuário masculino e feminino, as mulheres ocidentais ainda assim fariam bem em usar saias em vez de calças. Como a cultura ocidental tem removido progressivamente todas as distinções de sexo em qualquer vestimenta que não seja a mais formal, por vezes, até colocando as mulheres em ternos e gravatas, é evidente que os próprios padrões culturais a respeito entraram em colapso. As mulheres católicas fariam bem, portanto, em tentar restabelecer a distinção sexual no vestuário, readotando aquilo que antes era aceito sem questionamento: saias como vestes masculinas e calças como masculino.

Portanto, quer a natureza ou a cultura determinem tipos específicos de vestimenta, as mulheres católicas devem usar a saia. As saias não são pesadas nem opressivas; o desconforto que às vezes oferecem é pelo menos igual ao causado pelas calças em outros momentos. As saias são, como a maioria das práticas modestas, simplesmente honestas; são simplesmente uma expressão da natureza feminina, aquela natureza que foi a fonte até mesmo das virtudes naturais da Santíssima Virgem. Nenhuma mulher católica poderia ter qualquer objeeção a isso." (p. 31-33)

Acrescentemos, ademais, que Aline Brodbeck e Glória Küster também não se entendem quando o assunto é definir o que é imodesto. O que não é nenhuma surpresa, afinal, elas são contra padrões. Vejamos um exemplo a respeito da opinião de ambas sobre o uso de calças rasgadas.

Aline em seu Blog Femina, em 08.11.2017, mostrou um dos seus looks com calças rasgadas estilo "destroyed" dizendo "Podemos ser modestas sem ser cafonas":

Já Glória afirma que o estilo "destroyed" das ripped jeans detonam a imagem pessoal da mulher:


E Glória justifica sua posição (ao nosso ver, corretamente) citando a obra Filoteia de São Francisco de Sales:


De fato, não se passava pela cabeça de São Francisco de Sales "estilos modestos" de roupas rasgadas. Na verdade, transformar roupas rasgadas em estilo de moda trata-se de uma das muitas revoluções para descontruir o que é belo.

Neste contexto, perguntemos: como alguém da "seita da saia" resolveria o impasse entre Glória e Aline sobre calças destroyed serem imodestas ou não?

Simples. Vestiria uma saia. O que ilustra a nossa conclusão: padrões ajudam na modéstia do vestir, entregar as pessoas ao seu próprio arbítrio atrapalha.

Podemos dizer com certa segurança que moças católicas que são contra padrões de modéstia são também completamente anárquicas no modo de vestir.

3) "Ana Francisca", "Incels"

O próximo deboche que iremos mostrar é de uma moça, dona de uma página no Instagram que fala sobre paternidade responsável e que adota um tom debochado (qual a novidade?) em suas postagens para criticar o que ela chama de "providencialismo".

Neste storie, a moça parece dar um aviso aos interessados em se relacionar com ela e que sejam envolvidos com apostolados de Missa Tridentina:

Evidentemente, a autora do comentário nunca refletiu seriamente sobre a busca da santidade, pois quantas santas se autodeclarariam "gostosas" para todos ouvirem?

A autora debocha ainda da modéstia de um grupo inteiro de mulheres rotulando-as de "Ana Francisca", personagem da novela "Chocolate com Pimenta". Este tipo de escárnio não é novo e já foi identificado em 1944 pelo Pe. Bernard A. Kunkel no livro "Marylike Modesty Handbook of the Purity of Mary Immaculate":

Os padrões marianos não levam as mulheres a serem modestas de modo "ridículo"?

O diabo odeia mulheres "discretas, modestas e excelentes". Portanto, ele recorre à chavões e palavras de ordem, procurando levar as mulheres a aceitar roupas morais por medo do ridículo. O diabo associa a palavra "modéstia" com "trajes de Dona Benta" e tenta fazê-las crerem que a Cruzada Mariana defende saias abaixo do tornozelo jamais um centímetro a menos - e colarinhos até o queixo.

Muitas católicas têm um medo mórbido do ridículo, e permitirão que o diabo as conduza docilmente para escapar de ridículo. Contudo, ridículo não é um argumento de modo algum. Freqüentemente é o único recurso de pessoas que não estão sinceramente querendo ver a verdade. As Cruzadas Marianas, desafiando esta arma mortal do ridiculo, "ousam ser diferentes."

No artigo "O Novo Curso de Bernard Küster e o Catolicismo Tradicional" demonstramos que Bernardo também aplica o mesmo expediente da moça em questão. E refutamos sua posição.

Por fim, a autora do storie escarnece de rapazes ligados à Missa Tridentina xingando-os de "incels" (celibatários involuntários) esquecendo-se, porém, que ambientes de Missa Tridentina são os mais prolíficos em casamentos e famílias numerosas.

Sabemos que essa moça é mãe. Perguntemos, então, o seguinte:

Se ela é casada, não bastava dizer educadamente aos rapazes interessados que está comprometida? Por que é preciso humilhar e se autodenominar "gostosa" para todos? Por que não usar a oportunidade para ser virtuosa e mostrar discreta e educadamente o valor do casamento?

Mas, se é mãe solteira, não seria ela própria uma "incel"? A menos que seja viúva, duvidamos muito que seu estado de solteira tenha se dado por razões voluntárias.

Perguntemos ainda:

Para que serviu essa exaltação desordenada do próprio ego e o deboche gratuito dos "inimigos"? Para que serviu destilar o veneno do escárnio? Para que serviu desferir golpes odiosos com a própria língua?

Respondamos já: Para absolutamente nada. 

Vimos que essa atitude sarcástica, mordaz e de autoexaltação não é católica e muito menos adequada para uma mulher cristã. Uma mulher virtuosa deve desde cedo treinar sua docilidade, brandura e amabilidade. Deve com todas as forças extirpar de seu comportamento essa atitude "revoltada" e escarnecedora, já que se trata de um hábito destrutivo para o matrimônio e para a santidade.

É surpreendente como esta moça não repara a profunda desordem do seu comportamento. Citemos nesse sentido, novamente, as lições do maravilhoso livro "O Poder Oculto da Amabilidade":

"Mesmo quando a correção de um mal é necessária, o sarcasmo não serve a nenhum propósito útil; em vez disso, serve apenas para despertar profundo ressentimento. É a vontade de Deus que você respeite a integridade de seus semelhantes. Você não deve amontoar desprezo sobre eles, menosprezá-los, usar sua língua como uma ferramenta afiada contra eles."

"O remédio para o sarcasmo na raiva é a humildade, o sufocamento do seu ego e a honestidade em avaliar suas bênçãos e cruzes. Uma pessoa sarcástica tem um complexo de superioridade que pode ser curado apenas pela honestidade da humildade." 

Citemos também um trecho do Sermão do Instituto Bom Pastor a respeito dos problemas das redes sociais

Quanto aos problemas morais mais comuns das redes sociais, eles são:

b) Atenta muito contra a mansidão. Muitas vezes leem-se coisas que não agradam e entra-se sempre em discussões infrutíferas, nas quais ninguém será convencido, mas no mínimo se perderá a paz. Frequentemente terminam em desavenças e ofensas contrárias à caridade, produzindo inimizades e ódios. Ocorre principalmente com publicações contra a Igreja, nos meios católicos. Mas com as pessoas não católicas as rixas acontecem a respeito das questões mais deploráveis.

Se as redes sociais estão sendo um meio para alimentar um comportamento escarnecedor, orgulhoso e feminista, não seria melhor não tê-las?

Conclusão

O deboche, o escarnecimento, a ironia mordaz não são comportamentos femininos. A moça católica é conhecida pela sua docilidade e brandura, pois tais virtudes são absolutamente essenciais para cultivar sua personalidade feminina e seus deveres como esposa, se vier a casar.

A feminista católica, contudo, é espiritualmente a anti-esposa. Ao contrário da amabilidade da esposa, a feminista será reconhecida pela sua acidez, amargura e sarcasmo. Usará principalmente o deboche como método de destruição da esposa ideal. Seu desejo profundo é a destruição da esposa tal como ensinaram os Papas e os santos.

Não estamos convencidos, contudo, que a maioria das moças do atual feminismo católico estejam totalmente conscientes do espírito que as move. Muitas promovem o feminismo sem perceber. As más companhias e influências são a principal razão de agirem assim.

Rezemos para que abram os olhos e retrocedam das suas atitudes.

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