Em defesa do acolitato feminino, o diácono Varela sustentou que, além de as acólitas não atrapalharem, elas seriam até benéficas para as vocações sacerdotais, pois preparariam desde cedo os meninos a lidarem com o protagonismo e a liderança femininos na Igreja. Em resposta aos críticos, acrescenta que o seminário do Rio de Janeiro estaria repleto de vocações.
Todo o argumento é torto.
Do ponto de vista estatístico, embora o número de católicos tenha aumentado, o de seminaristas, em âmbito global, vem caindo de modo consistente. É o que aponta o Anuário Pontifício ano após ano. A própria CNBB, ao comentar o Anuário Pontifício de 2025, reconhece:
"A tendência temporal observada no mundo do número de seminaristas maiores denota uma diminuição ininterrupta desde 2012."
Portanto, apontar uma realidade local e atípica é manifestamente insuficiente para refutar um dado geral e universal. Um caso particular não invalida uma tendência universal, sobretudo quando esta se estende por mais de uma década.
Em segundo lugar – e aqui está o ponto decisivo –, o argumento fundamental em favor do acolitato exclusivamente masculino não é de ordem pragmática ou pastoral, como se sua finalidade primária fosse simplesmente promover vocações. O acolitato, assim como as antigas ordens menores, surgiu historicamente como uma redistribuição das funções próprias do diácono.
É à luz desse dado que se compreendem as reiteradas condenações, por parte de Papas e concílios, do serviço feminino ao altar.
É por essa razão que certos Papas afirmaram que o sexo feminino era "um sexo para o qual tais tarefas não são apropriadas" e que o serviço feminino do altar constituía um "desprezo pelas coisas divinas". Pela mesma razão, alguns concílios particulares – como os de Nîmes e de Paris – qualificaram tal prática como "antiapostólica", "indecente" e contrária às leis divinas.
O serviço feminino do altar não é, portanto, uma questão neutra ou meramente disciplinar: ele constitui, na prática, uma defesa do diaconato feminino por procuração. Se ainda não é – ao menos formalmente – uma defesa doutrinal do diaconato feminino, é inegavelmente uma defesa prática.
Por isso, mesmo quando a Igreja não podia contar com diáconos suficientes para todos os serviços litúrgicos, sempre protegeu o diaconato mediante a salvaguarda de uma certa ordenação e de uma semelhança objetiva nos ministros que os substituíam. O caráter exclusivamente masculino do acolitato é a evidência histórica mais clara dessa proteção.
Em terceiro lugar, o fato de os padres terem de lidar com mulheres na vida eclesial não constitui prova alguma de que a convivência mista seja adequada em qualquer circunstância. Menos ainda em um contexto que a própria Igreja sempre reprovou ou, no mínimo, cercou de muitas cautelas, como é o convívio misto dentro do espaço litúrgico.
Pio XI, na encíclica "Divini Illud Magistri", reprova explicitamente a chamada "coeducação" ou educação mista, qualificando-a como uma expressão do naturalismo que nega os efeitos do pecado original. O Papa recorda, ademais, que o Criador dispôs a convivência plena e harmoniosa entre os sexos apenas no contexto do matrimônio.
"De modo semelhante, errôneo e pernicioso à educação cristã é o chamado método da « co-educação », baseado também para muitos no naturalismo negador do pecado original, e ainda para todos os defensores deste método, sobre uma deplorável confusão de idéias que confunde a legítima convivência humana com a promiscuidade e igualdade niveladora. O Criador ordenou e dispôs a convivência perfeita dos dois sexos somente na unidade do matrimônio e gradualmente distinta na família e na sociedade. Além disso não há na própria natureza, que os faz diversos no organismo, nas inclinações e nas aptidões, nenhum argumento donde se deduza que possa ou deva haver promiscuidade, e muito menos igualdade na formação dos dois sexos. Estes, segundo os admiráveis desígnios do Criador, são destinados a completar-se mutuamente na família e na sociedade, precisamente pela sua diversidade, a qual, portanto, deve ser mantida e favorecida na formação educativa, com a necessária distinção e correspondente separação, proporcionada às diversas idades e circunstâncias. Apliquem-se estes princípios no tempo e lugar oportunos, segundo as normas da prudência cristã, em todas as escolas, nomeadamente no período mais delicado e decisivo da formação, qual é o da adolescência; e nos exercícios ginásticos e desportivos, com particular preferência à modéstia cristã na juventude feminina, à qual fica muito mal toda a exibição e publicidade."
Se a educação para o matrimônio não exige, nem mesmo recomenda, uma convivência indiferenciada desde a infância, com muito menos razão tal convivência se justifica na preparação para o sacerdócio, cuja essência inclui o celibato e a separação do mundo.
Constata-se, assim, que a posição constante da Igreja sempre foi a de promover o convívio misto apenas quando existe uma causa necessária, proporcional e, sobretudo, atual – jamais por motivos remotos ou hipotéticos.
Se o argumento do Catequista fosse correto, então os seminários deveriam estar abertos a moças interessadas em cursar teologia, promovendo um convívio irrestrito entre mulheres e seminaristas. Contudo, como todos sabem, isso não ocorre – e graças a Deus não ocorre –, pois é evidente a ruína que tal prática representaria para as vocações sacerdotais.
O erro de fundo que atravessa toda essa argumentação é o positivismo: a redução da Tradição a um conjunto de práticas contingentes, válidas apenas enquanto funcionam segundo critérios modernos de eficiência pastoral, que já se provaram bastante ineficientes. Tal mentalidade substitui o critério da continuidade pelo da utilidade imediata.
O positivismo não é apenas a causa formal daqueles conhecidos asteriscos lançados sobre a Tradição – isto é, de costumes e normas estranhos ao desenvolvimento litúrgico e doutrinal homogêneo que, vez ou outra, infiltram-se na história da Igreja. Ele também impede o exercício correto da prudência sobrenatural, que deveria ser o princípio norteador da ação pastoral.
Além disso, o positivismo produz uma mudança psicológica profunda: incapacita os pastores de julgar segundo a mens Ecclesiae. A mente da Igreja sempre julgou o presente à luz do passado, porque é justamente o passado – transmitido como Tradição viva – que exprime a sua mente.
Somente no tempo de Cristo foi possível olhar legitimamente para o passado com os olhos do presente, pois Cristo era o cumprimento do passado. Mas, como recorda o Pe. Chad Ripperger:
"Uma vez que a obra de Cristo se tornou parte da história e Ele ascendeu aos céus, devemos sempre olhar para trás, para Cristo e para a nossa tradição, a fim de obter uma compreensão autêntica do presente" (Topics on Tradition, p. 50).
O positivismo, portanto, impede o juízo conforme a mente da Igreja. Ao inverter o eixo do discernimento – passando a olhar o passado com os olhos do presente –, ele gera uma atitude de suspeita sistemática em relação à Tradição. E essa suspeita é, formalmente, a antessala do progressismo.
Por isso, a defesa da Tradição feita pelo conservador positivista é sempre frágil e quase sempre injuriosa. Reduz as razões profundas da Tradição a meras mesquinharias ou a preconceitos mal disfarçados. Quando uma disciplina tradicional e multissecular entra em conflito com uma pastoral moderna duvidosa, o conservador positivista não hesita em chamar a primeira de "uma grande bobagem".
Nessa mentalidade, é preciso dizê-lo com clareza: o conservador positivista não é um católico obediente, mas apenas um progressista envergonhado. Não preserva a Tradição: apenas a tolera provisoriamente, enquanto não se torna inconveniente.
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