terça-feira, 4 de março de 2025

Dom Bosco caiu na folia? Derrubando mais uma lorota de Viviane Varela (O Catequista)


Mal publicamos o artigo "Acabando com o Carnaval do "O Catequista"" e a página não satisfeita já inventou mais uma lorota para justificar sua paixão irracional pelo carnaval. Desta vez, a lorota é: Dom Bosco pulou o carnaval com seus meninos do Oratório.

Viviane em nova publicação no Instagram utiliza a biografia "A Vida de Dom Bosco" escrita pelo Pe. Giovanni Battista Lemoyne, para defender que Dom Bosco caiu na folia.


Diz Viviane que Dom Bosco queria ensinar os meninos do Oratório a "como viver o carnaval", a despeito das imoralidades da festa. Contudo, essa argumentação do O Catequista simplesmente não bate com a postura de Dom Bosco e dos padres que o ajudavam até então. Ora, se essa era a lição que Dom Bosco queria ensinar, por que ele não a deu nos carnavais anteriores? A resposta é muito simples: Dom Bosco não estava procurando ensinar como viver bem uma festa mundana. Durante o carnaval, Dom Bosco fazia programações dentro do Oratório, o que é totalmente lícito segundo explicamos no nosso artigo anterior. E a única vez que ele foi a um carnaval público não foi pelas razões ditas pelo O Catequista.

O próprio vídeo de Viviane explica o contexto da motivação de Dom Bosco:
"Naquele ano a Prefeitura de Turim havia autorizado que as instituições de caridade montassem uma barraca na Piazza Castello pra vender nos últimos dias de carnaval o que achassem melhor pro benefício dos pobres atendidos por suas obras."

A intenção de Dom Bosco em ir ao carnaval de Turim era apenas uma: angariar fundos para o Oratório por meio de uma barraca de vendas. Ou seja, Dom Bosco queria ir ao carnaval para trabalhar para o sustento do Oratório, não simplesmente para divertir-se.

A própria biografia utilizada por Viviane narra que Dom Bosco, antes de se entregar à Providência, buscava por todos os meios angariar recursos para o Oratório, sendo até mesmo engenhoso ao fazer isso. Uma de suas engenhosidades foi trabalhar no carnaval, como afirma o Pe. Lemoye:

"Dom Bosco sentiu-se obrigado a tentar esgotar todos os meios humanos, antes de se abandonar cegamente nos braços da Divina Providência. Por isso ele sempre pedia, de mil maneiras, usando as maneiras mais variadas, mais prudentes, mais engenhosas. Circulares, loterias, barracas de doações, e uma centena de outros meios foram usados ​​quando as necessidades eram sérias, e os recursos diários ordinários eram insuficientes.

Durante o carnaval de 1869 ele teve uma ideia singular. Naquela época, o carnaval de Turim era o mais digno, tranquilo e agradável de toda a Itália; basta dizer que uma comissão especial, com plenos poderes e a polícia sob seu comando, zelava pela ordem, pela moral e pelo respeito a todas as classes de pessoas. Pois bem, ele obteve autorização da prefeitura para montar uma barraca de vendas na Piazza Castello, junto com outras instituições de caridade, para seu próprio benefício durante os últimos dias do Carnaval." (A Vida de Dom Bosco, vol. 2)

Ou seja, Dom Bosco tinha uma razão justa e proporcional para ir ao Carnaval. Ele foi por necessidade, não por opção. Como narra a própria biografia, o santo sentia-se obrigado a esgotar todos os meios possíveis para sustentar o Oratório.

Se aplicarmos os princípios expostos no artigo "O Catequista e a Opção Preferencial pelo Laxismo" sobre as espécies de cooperação com o mal, veremos que eventual cooperação de Dom Bosco neste caso seria remota e não necessária, sendo absolutamente escusável ele buscar o sustento do Oratório montando a barraca de vendas na festividade.

Todavia, desonestamente, o O Catequista omite todo esse contexto. Viviane chega a afirmar que Dom Bosco buscava "maneiras de ir ao Carnaval", como se quisesse arranjar desculpas para os seus meninos irem à festividade, quando claramente essa não era a verdade.

Omitindo informações importantes dessa maneira o O Catequista faz um verdadeiro anti-apostolado para os católicos, pois o exerce unicamente para anestesiar as consciências em prol de sua opção preferencial pelo laxismo.

Ademaos, neste caso, a escolha de Dom Bosco como motivo de defesa do Carnaval parece ter sido bem calculada. Neste ano, o Centro Dom Bosco fez críticas públicas ao O Catequista por defender o Carnaval e agora a página busca de alguma forma responder usando o patrono do CDB. Bom, tenha sido esta a intenção ou não, o tiro saiu pela culatra. Dom Bosco não foi ao carnaval pelas razões que o O Catequista quer sugerir.

domingo, 2 de março de 2025

Acabando com o Carnaval do "O Catequista"

Enquanto o mundo católico se prepara para a Quaresma e diversos padres e bispos acautelam os fiéis das mazelas do Carnaval, o Catequista ano após ano, nas proximidades da Quaresma, se dedica a anestesiar as consciências a respeito da festividade.

Em 2024, Alexandre e Viviane Varela já havia publicado fotos dos próprios filhos "caindo na folia", como se vê aqui:




Na época, o casal justificou a publicação argumentando que a Igreja jamais condenara o Carnaval e porque neste baile infantil se encontravam "Muitas senhoras e senhores, jovens bem comportados, uma multidão de crianças e doguinhos, nenhum cheiro de cigarro".

Nota-se de cara neste baile infantil mulheres adultas muito mal vestidas, uma delas de mini-shorts e segurando uma cerveja na mão (o ápice da vulgaridade feminina), mas para o O Catequista era um baile "bem comportado". Veremos que na exposição deste artigo que este baile não cumpre os requisitos mínimos de um baile adequado. Contudo, a consciência de Alexandre e Viviane Varela está totalmente cauterizada quanto à verdadeira honestidade que os ambientes devem ter, afinal, eles não se importam de levar os filhos a uma praia mista com pessoas seminuas depois da Missa, conforme demonstramos no artigo "Sobre a obstinada idolatria dos conservadores católicos às praias".

Este ano, novamente, a página renovou seus votos de apoio ao Carnaval, desta vez apoiando-se nominalisticamente nos casos da Serva de Deus Odetinha e em Santa Giana Molla, que também teriam caído na folia.



Dizemos "nominalisticamente", porque o O Catequista simplesmente se recusa a justificar tecnicamente suas opiniões articulando os princípios da teologia moral ao caso concreto, mas ele simplesmente "extrai" conclusões a partir de comportamentos de certos santos ou pontífices, que puderam ter inúmeros motivos para agir de tal ou qual maneira ou que simplesmente não agiram bem.

Neste exemplo da Serva de Deus Odetinha, por exemplo, há coisa mais inadequada do que uma menina se vestir de menino? Qual a diferença disso para incentivar um menino a brincar de boneca? Qual a diferença de uma menina se vestir de menino no carnaval infantil e um marmanjo se vestir de princesa no carnaval adulto? É uma diferença de grau, não de essência. É evidente que os pais de Odetinha não tinham que permitir tal coisa.

Já de Santa Gianna não há muitas informações do contexto que ela comemorava o carnaval com os filhos, mas, como já informamos inúmeras vezes neste blog, Santa Gianna foi muito mais filha do seu tempo que se possa imaginar, tendo algumas condutas que não eram realmente aconselháveis para uma mãe católica.

Neste blog já argumentamos que o progressismo católico, quando não tem fundamento sólido na doutrina ou na teologia, apela nominalisticamente aos santos, pois sempre haverá algum que, sendo filho do seu tempo e carecendo de boa instrução, não agiu conforme a doutrina ou a boa teologia aconselham a agir. Não precisamos ir longe. Vejamos, por exemplo, o caso da Serva de Deus Chiara Petrillo.

Chiara e o marido eram ardorosos frequentadores da Renovação Carismática e Chiara morreu de forma heroica para levar a sua última gestação para frente. Contudo, Chiara, como qualquer santo que vive em tempos caóticos e sem muita instrução como os nossos, tinha diversos costumes mundanos, embora creiamos que todos eram vividos na mais absoluta boa-fé. Chiara, por exemplo, usava biquini na praia, algo simplesmente escandaloso para a modéstia no vestir, como demonstramos em diversas ocasiões.


Chiara era acostumada com missas hiper carismáticas com todos os problemas que descrevemos no artigo "Sobre o Tradismatismo". Em seu funeral, a missa, novamente, foi hiper carismática, fugindo completamente ao espírito de uma Missa Pro Defunctis, sendo animada com instrumentos musicais totalmente inadequados para a liturgia e até mesmo com o marido de Chiara, Enrico Petrillo, soltando a mão no violão:


Não estamos expondos essas coisas para detratar os santos, mas para mostrar o quão problemático é tomar o exemplo dos santos como se fosse uma norma moral, ainda mais no contexto de caos litúrgico e catequético que vivemos. O fenômeno dos "santos enganados" pelo espírito do tempo será cada vez mais comum, sendo absolutamente necessário os católicos filtrarem adequadamente o que é exemplar na vida dos santos e o que não é.

No caso de Odetinha e Santa Giana sabemos que houve engano dessas santas, tendo em vista a expressa condenação da Igreja aos bailes infantis:
"758. Reprovamos o abandono dos pais, que, concedendo a seus filhos absoluta liberdade no trato com pessoas de sexo diferente, não protegem bastante a sua pureza contra os perigos que a rodeiam, não evitam os namoros precoces, e não robustecem nem fomentam em seus corações o amor à castidade. Por isso, declaramos dignos de igual reprovação aos promotores e fautores dos bailes infantis, e gravissimamente encarecemos no Senhor aos pais, que não exponham seus filhos a tamanhos perigos, ainda que para buscar desculpas para os pecados, apresentem não poucos pretextos, com aparência de honestidade” (Concílio Plenário Limense da América Latina de 1900 aprovado por Leão XIII)
Feita esta introdução façamos agora uma análise da moralidade do carnaval, para que tenhamos uma visão justa do tema.

O carnaval enquanto festa

O Carnaval é um espetáculo público com danças. Assim, deve-se levar em conta as principais normas da moralidade tanto para o espetáculo quanto para a dança. Adianta-se, desde já, que o carnaval ser "popular", "mirim" ou "adulto" não é critério suficiente para julgar a situação.

1. Quanto aos espetáculos. Em geral, não são maus em si. Mas, segundo a opinião comum dos moralistas, seriam gravemente escandalosos se promovessem:

a) músicas e artes obscenas, antirreligiosas ou contrárias aos bons costumes;

b) roupas indecentes;

c) todo tipo de excesso (drogas, bebedeiras, chistes, etc).

As pessoas que participassem desses eventos, mesmo sem perigo pessoal, pecariam gravemente por escândalo (Zalba, Royo Marin). Aqui a normal é clara: não basta você estar sadio no local, o ambiente como um todo também precisa estar.

Por estes critérios o carnaval, mesmo o infantil, já se torna uma realidade muito difícil de se frequentar no Brasil, uma vez que raramente se observa o atendimento desses critérios.

Aqui pedimos licença para o leitor para notar como a página O Catequista é completamente amadora na abordagem desse assunto.

O Catequista defende com ardor o Frevo pernambucano como uma alternativa legítima de entretenimento carnavalesco. Na publicação deste ano de defesa do Carnaval, pode-se inclusive encontrar comentários de seguidores do O Catequista a respeito do Frevo e o endosso da página à festividade:






Notemos como os seguidores do O Catequista, seguindo o exemplo da página, são incapazes de um raciocínio moral. Defendem o Frevo porque ele é "cultural" ou porque a festividade faz parte da "identidade" deles, não porque seja algo moralmente sadio. Aqui funciona a lógica dos apegos, não da razão retamente aplicada. Todas as pessoas de consciência laxa pensam dessa maneira. A coisa é certa ou errada segundo o grau de apego/simpatia da pessoa, não segundo as normas da moralidade.

O Catequista aplaude os comentários e acrescenta seu endosso ao carnaval pernambucano.

Todavia, quando observamos o Frevo constatamos que ele não é celebrado de forma decente. Neste festival constata-se um grau altíssimo de indecência das mulheres. Vejamos que, nesta festividade, as moças costumam usar vestidos curtíssimos expondo totalmente as pernas e quando fazem pulos e giros a roupa íntima fica totalmente à mostra.




Aqui relembremos a orientação de Pio XI:
"Que os pais mantenham suas filhas longe do público de jogos e competições de ginástica, mas se as suas filhas são obrigadas a frequentar essas exposições, deixá-los ver que elas estejam totalmente e modestamente vestidas."  (AAS, 1930, vol. 22)
O Frevo já foi um espetáculo um pouco mais modesto, como fica evidente nas imagens abaixo, mas com a decadência dos costumes ele próprio rendeu-se à indecência do vestir.




O Catequista não repara essas coisas porque, como dissemos, ele está anestesiado. Muitos anos de praia e de "Dança dos Famosos" entorpece todo tipo de consciência. Se o O Catequista defende a praia como um lugar adequado para um católico ir, apoiar o indecente Frevo pernambucano é fichinha.

2. Quanto aos bailes. A opinião comum dos teólogos não presume honestidade dos bailes públicos e mistos. A razão é manifesta: não são bailes controlados. Gury-Ferreres em "Compendium Theologiae Moralis" esclarecem o perigo de bailes públicos e mistos:
"O perigo provém de um duplo motivo: da íntima união dos corpos do homem e da mulher, e de que os que dançam se perdem entre a multidão, abandonados a si mesmos, dando lugar a uma maior liberdade para conversas indecentes [majorem libertatem habeant verba minus casta proferendi], quando todas as circunstâncias contribuem a incitá-los a pecar; e quanto mais familiaridade existe entre os que dançam, mais perigosas são estas danças e devem ser evitadas de qualquer modo.” (tomo I, n. 242)
Por isso Antonio Royo Marín em "Teologia Moral para Leigos" assinala que os bailes, se mistos, devem ser privados e combinar as seguintes condições:
1) Em locais privados e honestos; uma festa de casamento ou familiar, diante dos pais ou de pessoas de bons hábitos.

2) Com pessoas decentes; que sejam cavalheiras e sem malícia.

3) De maneira decente; uso de trajes que não sejam escandalosos ou sensuais.

4) Com boa intenção; com finalidade honesta ou honrosa. Ex: se divertir honestamente, encontrar um marido/esposa.
Nota-se por mais este critério que mesmo o "baile infantil" sugerido pelo O Catequista estaria condenado, tendo em vista que se trata de um baile público e não é festejado de maneira decente.

Outros moralistas também distinguem a honestidade dos bailes segundo (i) o modo de dançar e (ii) em razão das pessoas

(i) No modo de dançar. Diversos moralistas (Arregui, Vicente Hernandez, Genicot, etc) e várias Conferências Episcopais apontaram o tango, a valsa, a mazurca, o galope, a polca, o schottisch, a habanera, a kamel-trot, o shimmy, o check-to-check, o one-step, o blues, o samba, o rock, etc., danças em que o homem e a mulher se abraçam apertado, dão giros, um passa por baixo das pernas do outro, etc., como danças que oferecem ocasiões próximas de pecado grave, tendo em vista o tipo de contato que há entre sexos, os gestos e a significação deles.

Observemos que um desses estilos, o tango, uma dança argentina altamente sensual, tem grande simpatia do Papa Francisco. Contudo, é impossível negar que ela seja uma ocasião de pecado grave, haja vista o tipo de interação e movimentos sensuais que há entre os dançarinos. O tango é a dança mais lembrada pelos moralistas como exemplo de dança intrinsecamente desonesta.





Daí a importância de não interpretar todos os comportamentos ou gostos pessoais dos santos e dos pontífices como se fossem normas morais. Primeiro, porque o exemplo das outras pessoas, por mais estimadas que sejam, não é para nós uma normal moral. Seremos julgados tendo como parâmetro os mandamentos, não as outras pessoas. Segundo, porque não podemos buscar escusar nossas ações com base na consciência do outro. Isso é infantilismo espiritual. Terceiro, porque nem todos os santos foram realmente exemplares em todas as suas ações. Em muitas delas foram filhos de seu tempo, embora sempre de boa-fé.

Observamos nesse quadro também, como exemplo de dança desonesta, o samba. De fato, o samba requer, principalmente das mulheres, muitos movimentos de quadril, rebolados, algo intrinsecamente sensual.  Não é à toa que os carnavais de samba no Brasil são altamente sensualizados. A sensualidade não é uma corrupção do samba, mas é ínsita dele.



Poderíamos facilmente acrescentar ao samba outras danças indecentes, mas, infelizmente, bastante populares no Brasil, como o pagode axé, o forró e o funk.

(ii) Em razão das pessoas. Diz respeito à honestidade e à decência das pessoas que dançam. Edouard Genicot em "Theologia Moralis" assim explica:
"A decência dos bailes depende especialmente das pessoas que nelas participam e do modo de dançar: por isso o confessor, quer ao permitir quer ao proibir as danças, deve prestar muita atenção à possibilidade ou não, especialmente às primeiras. Assim, as danças realizadas entre algumas famílias nas casas estão geralmente expostas a muito menos perigo do que as do público, tanto do campo como da cidade. Alguns condenam severamente o método de dançar já habitual mesmo nas famílias respeitáveis ​​(polca, etc.), que as mulheres pobres devem abraçar com tal habilidade que parece impossível evitar graves pecados de luxúria. Outros, porém, como Berardi (De Recid. II. n. 165), não pensam que este perigo moral esteja tão universalmente presente, pois a própria experiência e os testemunhos dos penitentes parecem mostrar o contrário. E não é tão surpreendente assim: pois o toque entre o homem e a moça, feito na solidão e somente com esse carinho, muitas vezes o moverá mais à luxúria, do que quando a mente está distraída com muitas outras coisas e concentrada no ritmo da dança. Porém, existem danças, como o tango, o boston, que são absolutamente repreensíveis. Geralmente o perigo é maior nas danças mascaradas, porque muitos, libertos do medo de serem reconhecidos pelos outros, comportam-se com mais liberdade." (vol. 1, n. 241)
Antonio Arregui em "Summarium Theologiae Moralis" explica que o perigo dos bailes gradua-se da seguinte forma:
(i) bailes mascarados; concentra muitos perigos. Pessoas anônimas por trás de suas máscaras ou que assumem certo personagem durante o carnaval tendem a todo tipo de excessos.

(ii) bailes públicostambém ocasiona grandes perigos, tendo em vista a grande aglomeração de pessoas e o pouco controle do que se faz nele.

(iii) bailes em salões fechadosseria a danceteria moderna ou "balada". É um ambiente mais controlado, contudo, em geral, são ambientes escuros, com grande aglomeração de pessoas, o que favorece os pecados contra a castidade.

(iv) bailes privados, entre famílias honestas. São as festas controladas e com pessoas escolhidas. Geralmente, são festas familiares ou de casamento. Bailes feitos nessas circunstâncias, desde que com pessoas decentes, podem ser permitidos.
Apliquemos tais normas ao contexto do carnaval. Trata-se, como todos sabem, de um baile mascarado e público, ou seja, os dois piores tipos de bailes. Não é sem motivo que o carnaval é tão conhecido por suas extravagâncias e imoralidades. Mesmo o carnaval infantil, como vimos, não está isento de perigos. Tendo em vista que o carnaval mirim busca imitar o carnaval adulto, não será raro encontrar grande imodéstia no vestir nas meninas, danças inapropriadas, músicas inadequadas e maus exemplos de outras crianças, já que não há muito controle nos bailes públicos.

Genicot, teólogo belga do século XIX, já dizia que os bailes feitos nas suas regiões eram intrinsecamente maus:
"Embora, teoricamente, reger danças possa ser um ato de virtude, na prática, como acontece em nossas regiões, é inerentemente perigoso e ocasião para muitos pecados. Portanto, os confessores devem ser incentivados e sabiamente afastados deles, mas especialmente os jovens de ambos os sexos que até agora viveram na castidade." (Ibidem)
O que dizer, portanto, de um "carnaval mirim" com mulheres mal vestidas e com danças imodestas como o samba? Nenhum pai responsável deveria levar seus filhos para esses lugares.


Os Papas e o Carnaval

Por fim, lidemos com uma última objeção do O Catequista. Um seguidor fez um comentário lúcido a respeito da Serva de Deus Odetinha:


O comentário foi perfeito. Odetinha morreu com apenas 9 anos de idade. Crianças nessa idade, conforme explicamos no artigo "O novo curso de Bernardo Küster e o Catolicismo Tradicional", possuem aquilo que chamamos de "certeza respectiva da fé":
"Em suma, a fé autêntica, tal como nós, católicos, a entendemos, pressupõe e exige uma certeza racional prévia do fato da revelação de Deus. Desta forma, a fé será um assentimento prudente, firme e irrevogável, que são propriedades do verdadeiro ato de fé. Para as crianças e os rudes, a “respectiva” certeza deste fato da revelação será suficiente; Para muitos adultos, a certeza <<vulgar>>> do mesmo será suficiente. Mas aos estudantes universitários e aos estudantes de teologia que queiram proceder cientificamente devem ser dadas demonstrações científicas e objetivamente válidas deste fato fundamental para a fé." (Miguel Nicolau, "A Crise da Igreja", n. 108)
A certeza respectiva significa que a criança crerá tendo como base o ensino do pai e da mãe, do professor católico, do catequista ou do pároco, prescindido daquilo que se denomina "demonstração científica da fé".

Em outras palavras, se os pais de Odetinha disseram que o carnaval era bom, a base da moralidade de Odetinha não será qualquer teólogo moral ou documento pontifício, mas a afirmação dos pais. Portanto, apelar para a "santinha" impelida pelos pais a participar do carnaval é um argumento muito fraco para justificar a festa.

O Catequista respondeu a objeção da seguinte maneira:



Aqui parece que temos o argumento mais "sério" do O Catequista em sua defesa falida do Carnaval. Os papas teriam autorizado e patrocinado oficialmente os carnavais de rua de Roma até a unificação italiana. Portanto, vamos para a folia!

No entanto, é preciso dizer que, novamente, o O Catequista cai na armadilha de tirar conclusões apressadas a partir de comportamentos dos pontífices ao invés de sentar na cadeira e raciocinar a partir de princípios bem definidos. O modus operandi do O Catequista é sempre este: ele não busca pensar, ele busca atalhos.

Pelo raciocínio do O Catequista seria lícito, por exemplo, mulheres irem seminuas ou de topless à missa, já que São João Paulo II celebrou uma missa para nativos seminus de Papua Nova Guiné em 1984:






Pois bem, é evidente que o raciocínio do O Catequista está errado. Sabemos que entre o século XVI e o XIX foram numerosíssimos os santos reprovavam o carnaval. Em suas "Meditações", Santo Afonso de Ligório, patrono da Teologia Moral, por exemplo, dirigia palavras duríssimas contra o carnaval:
“Por este amigo, a quem o Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender que é Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.

É por isso que os santos, a fim de desagravarem o Senhor de tantos ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo do carnaval, Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso a fim de expiar as intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os santuários e realizar exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas, que se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão frequente.

Numa palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus Sacramentado ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas."
Também sabemos que Papa Bento XIV instituiu as 40 horas de adoração ao Santíssimo em reparação aos pecados cometidos no carnaval e concedeu indulgência plenária a quem participasse da adoração.
"A Igreja repetidamente fez esforços para verificar os excessos do carnaval, especialmente na Itália. Durante o século XVI, em particular, uma forma especial da Oração das Quarenta Horas foi instituída em muitos lugares na segunda e terça-feira do entrudo, em parte para afastar as pessoas dessas perigosas ocasiões de pecado, em parte para fazer expiação pelos excessos cometidos. Por uma constituição especial endereçada por Bento XIV aos arcebispos e bispos dos Estados Pontifícios, e intitulada "Super Bacchanalibus", uma indulgência plenária foi concedida em 1747 àqueles que participaram da Exposição do Santíssimo Sacramento, que deveria ser realizada diariamente por três dias durante a temporada de carnaval." (Fonte: Aleteia)
Portanto, é inequívoco que a tanto a Igreja quanto os santos sabiam que o carnaval era ou havia se tornado, no mínimo, uma festa problemática. Então por que ele continuou até a unificação italiana?

A resposta mais provável é que os Papas simplesmente toleraram o carnaval, tal como São João Paulo II tolerou a imodéstia dos nativos de Papua Nova Guiné, dado o enraizamento da festa na cultura popular. Como sabemos, os papas entre os séculos XVI e XIX tinham sob sua tutela os chamados Estados Pontifícios e não podiam simplesmente acabar com todos os problemas sociais na canetada. Por isso toleravam certos males. Trata-se aqui exatamente do princípio do mal menor. A aplicação deste princípio explica com perfeição a continuidade dos carnavais nos territórios pontifícios e a condenação ininterrupta dos santos a essa festividade.


Conclusão

De todo o exposto, fica manifesto o desserviço que tem prestado o O Catequista (mais um) a respeitto do carnaval. Mesmo que, em tese, se pudesse dizer que nem todo carnaval é mau, atualmente, não há carnaval sadio no Brasil. Assim, ao invés de gastar tempo e energia tentando convencer os católicos que se pode achar uma agulha no palheiro (agulha que, como vimos, nem o O Catequista encontrou), o O Catequista poderia incentivar os católicos a entrarem em espírito de recolhimento para a Quaresma.

Ademais, o carnaval, das grandes festas, é a que menos tem sentido. O que se comemora no carnaval? Qual herói é lembrado, qual data histórica é recordada, que santo é venerado, que Salvador é adorado? Nenhum. O carnaval tornou-se uma festa de vazão, vazão de uma alegria sem causa e sem nobreza. Por que incentivar os católicos a participarem de algo sem sentido, com muitas ocasiões próximas de pecado, sendo que eles podem recolher-se para uma Quaresma cheia de significado?

Que larguem esse laxismo vergonhoso que só levam às pessoas a pecarem mais e tomem a Cruz que a Quaresma convida a abraçar.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Papa Francisco adoece. Qual deve ser a atitude do católico que se sente machucado pelo pontificado?


O Papa Francisco segue internado no hospital Gemelli de Roma há 14 dias. O quadro do pontífice, segundo os últimos boletins médicos, segue complexo e com prognóstico reservado, isto é, sem uma previsão clínica de melhora, embora o Santo Padre tenha apresentado uma leve melhora nos últimos dias.

Diante desse cenário, o Vaticano convocou vigílias de oração pela recuperação da saúde do pontífice e o mundo católico como um todo se levantou para rezar pela mesma intenção.

Contudo, é simplesmente um fato que o pontificado do Papa Francisco tem sido marcado como um dos mais polarizados da História. O pontífice é reconhecido como um dos grandes representantes do progressismo católico e diversas ações do seu pontificado foram marcadas por notáveis polêmicas. Enumeramos algumas: 

a) O desmantelamento da Pontifícia Academia para a Vida mediante a reforma de seu estatuto, incluindo nisso a retirada da declaração de fidelidade dos seus membros ao Magistério e admissão de membros abortistas;

b) A abertura de uma pastoral, em Amoris Laetitia, para promover a comunhão para casais em segunda união, revertendo a pastoral proposta pela Veritatis Splendor;

c) A reversão da doutrina da pena de morte;

d) A dolorosa e severa restrição da Missa Tridentina mediante a promulgação do motu proprio "Traditiones Custodes";

e) O sepultamento da "Reforma da Reforma" de Bento XVI;

f) A promoção do clero progressista, principalmente do lobby LGBT;

g) O reerguimento da Teologia da Libertação;

h) A permissão de benção de pares homossexuais em "Fiducians Supplicans";

i)  O partidarismo na punição de bispos e cardeais conservadores;

j) A ruptura com a venerável tradição do serviço do altar exclusivamente masculino;

k) Apoio a políticos abortistas e combate a políticos conservadores;

l) A declaração de que todas as religiões levam a Deus e que a pluralidade delas é um dom ou presente de Deus;

m) A declaração de desejo por um inferno vazio. 

 

A lista de controvérsias não é pequena e por tais razões muitos proeminentes católicos chegaram a aventar que estaríamos diante do pior pontificado da História. Durante o pontificado de Francisco, além de haver um grande decréscimo das vocações, verificamos notórios católicos, alguns deles heróis de guerra da apologética católica, cardeais, bispos, etc., adotarem uma postura crítica ao pontificado, tais como Scott Hahn, Phil Lawler, George Weigel, Ralph Martin, Edward Feser, Cardeal Sarah, Dom Athanasius Schneider, Cardeal Gerard Müller, Eric Sammons, Karl Keating, entre outros.

No atual pontificamos, verificamos como os grandes machucados pelo pontificado de Francisco os católicos tradicionais, que foram surpreendidos com a reversão do motu proprio Summorum Pontificum de Bento XVI pela Traditiones Custodes. Este documento foi particularmente doloroso, porque recolocou a Igreja em uma situação análoga aos anos 80, nos quais as missas tridentinas eram extremamente raras e o que restava ao católico era se contentar com a já controversa Missa Nova cheia de abusos litúrgicos. No entanto, além de tradicionalistas, muito católicos ratzengerianos e wojtylianos (George Weigel, por exemplo) também encontram-se entre os católicos ressentidos com o atual pontificado, dado que Francisco, infelizmente, tornou-se conhecido por reverter a obra de seus últimos dois predecessores, esta sempre muito marcada pela busca da correção dos excessos do Concílio e pela perseguição da reconciliação interna da Igreja.

Pois bem. Ao que parece o Papa Francisco chegou ao seu estado mais delicado de saúde de seu pontificado. Os médicos não excluem o risco de morte. Diante desse cenário, muitos católicos foram criticados por católicos progressistas por não estarem, neste momento, apresentando muita comoção pública pela recuperação física do pontífice. Michael Matt, por exemplo foi duramente criticado por Dave Armstrong por fazer a seguinte afirmação em seu em seu Instagram:

"Somos obrigados a orar por uma recuperação rápida e completa do Papa Francisco? Por que essa seria a santa vontade de Deus? Francisco tem 88 anos. Vamos orar para que ele se arrependa, tenha uma morte feliz e enfrente a eternidade nas boas graças de Deus, independentemente do que pensemos de seu pontificado."

Matt é um conhecido tradicionalista americano e ferrenho opositor do pontificado de Francisco. Nesta fala, Matt entende que não estamos obrigados a rezar pela recuperação da saúde do papa, mas apenas por sua conversão e boa eternidade com Deus. Dave julgou a fala de Matt como verdadeiramente desprezível, dando a entender que o desejo de todo católico deve ser o reestabelecimento da saúde do papa. 


Tradução:

"Reacionário Michael Matt (do infame "Remnant"): Não estamos obrigados a rezar pela recuperação do Papa, mas sim por seu arrependimento!

++++++++++++++++++++

"Somos obrigados a orar por uma recuperação rápida e completa do Papa Francisco? Por que essa seria a santa vontade de Deus? Francisco tem 88 anos. Vamos orar para que ele se arrependa, tenha uma morte feliz e enfrente a eternidade nas boas graças de Deus, independentemente do que pensemos de seu pontificado." [20-2-25 em seu trapo vergonhoso]

Efésios 6:18 (RSV) "Orem em todo o tempo no Espírito, com toda oração e súplica. Para esse fim, mantenham-se alertas com toda a perseverança, fazendo súplicas por todos os santos."

Tenho alertado as pessoas sobre o Remnant e outros grupos reacionários desse tipo durante os 28 anos desde que tenho um site/blog. Há mil boas RAZÕES para isso: uma delas é evidente nas opiniões e no comportamento desprezíveis de Matt."

Não compartilhamos de muitas das opiniões de Michael Matt e não entendemos como razoável a sua postura muitas vezes acintosa contra o Santo Padre. Devemos sempre ter em mente que o Sumo Pontífice, como ensina o Pe. William Faber em "Da Devoção ao Papa", é realmente uma pessoa venerável, razão pela qual devemos ter verdadeira piedade filial, independente de quem seja. Não é admissível a um cristão zombar ou desprezar o Sumo Pontífice. Não é possível, por isso mesmo, nutrir ódio de inimizade, pelo qual se deseja o mal enquanto tal ao próximo, contra o Santo Padre.

No entanto, devemos nos perguntar: Michael Matt mentiu? Católicos que foram feridos por este pontificado estão realmente obrigados a desejar e rezar pela pronta recuperação do Papa? É o que iremos descobrir.

Para tanto façamos um digressão sobre (i) como se compreende o ódio e a caridade pelos inimigos e (ii) se um papa pode ser o nosso inimigo.


O ódio e o amor pelos inimigos

Santo Afonso de Ligório ao tratar do ódio e do amor aos inimigos em sua Teologia Moral distingue o ódio de inimizade do ódio de abominação:

"Embora seja pecado mortal ex genere suo o ódio de inimizade, ou seja, à pessoa secundum se e aos bens que em si possui, desejando-lhe mal por mal, ou na medida em que é mal para ela; contudo muitas vezes é lícito o ódio de abominação, ou seja, de qualidade, com o qual aborrecemos não o homem, mas sua malícia, ou a pessoa em quanto é má, ou prejudicial a nós, como ensina Coninck e as opinião comum."

E complementa:

"É lícito desejar mal ao próximo, por exemplo, temporal (desde que não seja mais grave que justo), em quanto é para ele um bem, por exemplo, doença ou adversidade, para que se emende dos seus pecados. Bonacina", com funda-mento em muitos. Mas é preciso prevenir que não seja feito por vingança, com que pecas mortalmente, conforme se pode ler no Salmo 108 sobre o inimigo. Porém, em geral, é lícito desejar a outras pessoas, com afeto ineficaz, males de pena por causa do bem espiritual próprio ou alheio: porque, como nesse afeto se antepõe o bem espiritual ao temporal, não é desordenado. Veja-se Lessius. - [Veja o que será dito no Liv. V, n. 21].

<<Assim, é lícito, por exemplo, desejar a morte ao heresiarca ou ao perturbador da paz pública, por causa do bem comum e de muitos; conforme o passo de Gálatas 5, 12: Oxalá fossem cortados. Também é lícito entristecer-se com as dignidades concedidas aos indignos, ou com a saúde de quem dela se vale para pecar. Igualmente é lícito desejar a alguém a morte, pobreza ou doença, para que abandone o pecado e mude de vida. Pela mesma razão, Bonacina, Azor e Palao escusam de pecado a mãe que deseja a morte das filhas, quando, por alguma deformidade ou penúria, não lhes pode arranjar núpcias por meios honestos e cômodos». [Isto porém não se deve admitir de jeito nenhum; como dizem acertadamente os Salmanticenses e Roncaglia)"

Segundo padroeiro dos confessores e moralistas, o ódio de inimizade é aquele em que odiamos a pessoa em si mesma e desejamos a ela o mal pelo mal, isto é, como um ato de vingança. Já no ódio de abominação se detesta não a pessoa, mas a sua malícia, os seus pecados ou o mal que faz a nós. O ódio de inimizade é proibido nutrirmos contra qualquer pessoa, inimiga ou não, porque somos obrigados por dever de caridade a desejar a salvação do próximo. Desejar o mal gratuito ao inimigo significaria um ódio à criação de Deus e à bondade que ele inscreveu nas criaturas. Assim, odiar uma pessoa é o odiar o próprio Deus. O ódio de abominação, porém, é lícito termos, desde que não odiemos a pessoa em si mesma, e poderíamos inclusive desejar um mal temporal, mesmo a morte, para um inimigo visando o bem moral dele, isto é, a sua conversão e mudança de vida, ou o bem comum. Inclusíve é lícito nos entristecermos com a saúde de quem dela se utiliza mal.

O mesmo entendimento é seguido por outros moralistas. Antonio Royo Marín, em sua "Teologia Moral para Leigos", assim ensina:

"Já falamos dele ao expor a doutrina sobre o perdão aos inimigos. Aqui nos limitamos a recordar alguns princípios fundamentais.

1.º) O ÓDIO DE INIMIZADE (pelo qual se deseja ao próximo algum mal enquanto tal, ou se tem alegria por seus males, ou tristeza por seus bens) opõe-se diretamente à caridade (amor de benevolência) e é em si pecado mortal, a não ser por pequenez de matéria ou imperfeição do ato. Consta expressamente na Sagrada Escritura (1Jo 2, 9; 3, 14-15; 4, 20, etc.) e pelo fato de que o próximo, ainda que seja mau e pecador, foi redimido por Cristo, é membro do Corpo místico de Cristo (em ato ou em potencia) e está destinado à vida que são outros tantos motivos de caridade.

2.º) O ÓDIO DE ABOMINAÇÃO (que recai sobre o próximo enquanto pecador, perseguidor da Igreja, ou pelo mal que nos causa injustamente) pode ser reto e legítimo caso se deteste não a pessoa mesma do próximo, mas o que há de mau nela; porém, caso seja odiada pelo que há nela de bom ou pelo mal que nos causa justamente (v.g., o juiz, o superior, etc., castigando legitimamente o delinquente), opõe-se à caridade (amor de concupiscência) e é pecado em si grave, a não ser por pequenez de matéria ou por imperfeição do ato.

3.º) Não há pecado algum em desejar ao próximo algum mal fisico, mas sob a razão de bem moral (v.g., uma enfermidade para que se arrependa sua má vida). Tampouco o seria alegrar-se com a morte do próximo que propagava erros ou heresias, perseguia a Igreja, etc., contanto que este gozo não redunde em ódio para com a própria pessoa que causava aquele mal. A razão é que odiar o que em si é odioso não é nenhum pecado, mas totalmente obrigatório quando se odeia segundo a reta ordem da razão e da maneira e com a finalidade devidas. Não obstante, é preciso estar muito alerta para não passar do ódio de legítima abominação do mal ao ódio de inimizade para com a pessoa culpada, o que nunca é lícito, ainda que se trate de um grande pecador, já que ainda está em tempo de se arrepender e se salvar. Somente os demônios e os condenados do inferno se tornaram definitivamente indignos de todo ato de caridade em qualquer de suas manifestações." (n. 538)

Antonio Arregui em "Summarium Theologiae Moralis" igualmente diz:

"Nem todos os penitentes que se acusam de ódio são imediatamente acusados ​​de pecado grave; pois muitas vezes confundem o ódio da inimizade, que é exercido contra uma pessoa em si mesma e dos bens que ela possui, com o ódio da abominação, que é exercido contra suas más qualidades, ou sobre uma pessoa considerada prejudicial para nós, ou com uma aversão natural e invencível que não é má em si." (n. 140)

Portanto, não é contrário ao preceito de amarmos os nossos inimigos o ódio de abominação e o desejo de certos males para sua correção ou para o bem comum. Com isto estabelecido, abordaremos agora se é possível existir ódio de abominação contra um papa.


Os maus papas e o ódio de abominação

Não há qualquer dúvida razoável de que maus papas existiram. Até mesmo o mais ferrenho dos continuístas é capaz de reconhecer esta verdade. Na História da Igreja já se viu papas sodomitas, assassinos, estupradores, fornicadores e favorecedores de heresia. Alguns desses Papas foram publicamente defenestrados pela Igreja Romana, sendo o maior exemplo o Papa Honório. Honório, independente se ensinou heresia ou não, não tem boa memória perante a Igreja e é contado entre os anematizados por ela.

Com efeito, é possível afirmarmos que, sim, um papa pode ser tanto inimigo pessoal de um indivíduo, já que é capaz de pecados mortais contra a vida, o matrimônio, o patrimônio de alguém, etc., quanto um inimigo da Igreja, na medida em que diz heresias (Se um Papa pode ser herege é disputado entre os teólogos) ou que as favorece (não é disputável se um Papa pode favorecer heresias, pois a Igreja confirmou que Honório fez isso).

Sendo assim, é igualmente possível existir ódio de abominação a um pontífice.

Nesse contexto, é simplesmente um fato que o pontificado de Francisco machucou muitos católicos. Papa Francisco tomou decisões impopulares que geraram (e ainda geraram) uma onda de desconfiança e até de profundo ressentimento contra o Sumo Pontífice. Lembremos que a Traditiones Custodes dizimou comunidades inteiras e frutuosas de católicos ligados à Missa Tridentina. Uma ação pastoral dessas dificilmente não poderia ser enquadrada como um pecado contra caridade. Mesmo um católico progressista como Karl Rahner reconhecia que o Papa que pretendesse extinguir um rito tradicional cometeria uma falta gravíssima contra a caridade e a unidade da Igreja:

"Imagine que o Papa, como pastor supremo da Igreja, emitiu hoje um decreto exigindo que todas as igrejas unidas do Oriente abandonassem a sua liturgia oriental e adoptassem o rito latino... O Papa não excederia a competência do seu primado jurisdicional e o decreto seria legalmente válido.

Mas também podemos colocar uma questão totalmente diferente. Seria moralmente lícito que o Papa emitisse tal decreto? Qualquer homem razoável e qualquer cristão verdadeiro teria de responder “não”. Qualquer confessor do Papa teria de lhe dizer que na situação concreta da Igreja hoje tal decreto, apesar da sua validade jurídica, seria subjetiva e objetivamente uma ofensa moral gravíssima contra a caridade, contra a unidade da Igreja bem entendida (que não exige uniformidade), contra a possível reunião dos Ortodoxos com a Igreja Católica Romana, etc., um pecado mortal do qual o Papa só poderia ser absolvido se revogasse o decreto." (Studies in Modern Theology de Karl Rahner (Herder, 1965, pp. 394-395)

Pe. Chad Ripperger igualmente afirma em seu livro "The Binding Force of Tradition" que o ataque aos monumentos da Tradição, nos quais os ritos tradicionais se inserem, é um pecado, podendo ser até mesmo grave, contra a caridade:

"Se alguém ama o próximo, desejará garantir que o próximo receba a tradição tão plenamente quanto possível para o bem da sua salvação. As extensas mudanças recentes na tradição tornaram mais difícil a salvação das nossas almas, o que é contra a caridade. O assalto aos monumentos, bem como a clareza doutrinária sobre a fé e a moral ensinada pela Igreja, devastou os afetos que as pessoas têm pelas coisas da fé e às quais estão apegadas de uma forma devidamente ordenada. O impacto que teve nas pessoas é claramente contra a caridade e não pode ser interpretado de outra forma que não seja pecaminoso, muitas vezes gravemente pecaminoso, especialmente quando falamos do desprezo com que estas coisas foram mudadas, bem como do desprezo demonstrado por aqueles que foram atados a elas de maneira corretamente ordenada."

Papa Francisco, ademais, foi um tanto controverso nesta decisão, tendo em vista que revogou inteiramente a legislação de um predecessor ainda vivo, Bento XVI, colocando em risco a credibilidade das decisões da Igreja.

Além disso, as declarações polêmicas tais como "Gosto de pensar em um inferno vazio", "A pluralidade das religiões é um dom de Deus", "A pena de morte é inadmissível para além de toda circunstância" são tão ou mais problemáticas que o ensino dúbio de Honório.

Por tais motivos, é totalmente compreensível que alguns católicos se sintam verdadeiramente feridos e ressentidos com Francisco e não nutram agora afetos especiais de amizade, não fiquem entristecidos com sua enfermidade e nem façam comoção pública pela sua rápida recuperação.

Estes sentimentos e esta atitude desses católicos não são censuráveis, se não forem movidos por ódio de inimizade, mas unicamente pelo desejo de que os males temporais ajudem o Papa a mudar os rumos do pontificado ou a conquistar a vida eterna (opinião de Michael Matt) ou ainda para ver o fim de um governo especialmente doloroso.

É preciso dizer que Deus exige de nós uma caridade sobrenatural para com o próximo, mas não exige, absolutamente, uma caridade repulsiva à natureza ou contrária ao bem comum. Em outras palavras, Deus quer que conservemos em absoluto o desejo de salvação do próximo, porém não exige que desejemos ao próximo a preservação de todo mal. Alguns males temporais, em certas circunstâncias, são medicinais para ele. Desejar ao próximo todo bem possível e imaginável não seria nem mesmo reto em algumas ocasiões, especialmente naquelas em que a justiça precisa seguir seu curso.

Pois bem. O que esses católicos machucados pelo pontificado podem fazer então? As opções são diversas. Eles podem:

1. Rezar pela recuperação do Papa, para que não venha um papa pior. Esta posição é uma das sugestões indicadas por Santo Tomás de Aquino em "De Regno":

"Verdadeiramente, costuma acontecer, na tirania, tornar-se a posterior mais grave que a precedente, pois não retira os gravames anteriores e, até, pela perversidade do coração, excogita novos. Por essa razão (Valério Máximo, Memorabilia, VI, 2, ext. 2), como outrora, em Siracusa, todos desejassem a morte de Dionísio, certa velha orava continuamente a fim de que ele ficasse incólume e sobrevivesse a ela. Disso sabendo, interrogou o tirano por que fazia assim. Ao que respondeu: “Quando eu era menina, como tivéssemos pesado tirano, desejava a morte dele; morto esse, sucedeu-lhe outro algo mais rude, cujo fim de dominação eu tinha por grande bem. E começamos a ter um governo mais intolerável, que és tu. Portanto, se fores derrubado, sucederá um pior no teu lugar”." (Cap. VII)

2. Rezar pela recuperação do Papa, mas pedindo que ele se torne santo ou mude os rumos do pontificado. Nesse sentido, pode-se rezar a prece "Oremus Pro Pontifice Nostro" que pede a Deus que vivifique o Papa e lhe dê santidade de vida na Terra.

℣.Oremus pro Pontifice nostro NN.

℟. Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

℣. Tu es Petrus,

℟. Et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam.

Oremus.

Deus, omnium fidelium pastor et rector, famulum tuum NN, quem pastorem Ecclesiae tuae praeesse voluisti, propitius respice: da ei, quaesumus, verbo et exemplo, quibus praeest, proficere: ut ad vitam, una cum grege sibi credito, perveniat sempiternam. 

Per Christum, Dominum nostrum. 

℟. Amen.

3. Rezar para que a doença enfrentada pelo Papa o ajude a se santificar.

4. Rezar para que, se o destino do Papa for o pior, que ele descanse em amizade com Deus. Esta é a posição de Michael Matt.

5. Rezar para que, se o Papa falecer, ele descanse em amizade com Deus e que o seu sucessor seja um bom papa. Esta parece ser a posição de Timothy Gordon:



6. Rezar para que Deus exerça seu juízo e vontade sobre o pontífice poderando, na oração, as dificuldades do pontificado.

Todas essas atitudes não contrariam a devida piedade filial ao Papa e o amor aos inimigos. Em nenhuma dessas hipóteses se deseja o mal em si do Pontífice, mas somente o bem dele ou da Igreja nas condições pontuadas pelos teólogos.

Dito isso, rezemos pelo Papa Francisco para que Deus exerça sua soberana vontade em todas as coisas e que o Papa, quer nesta vida ou na outra, seja um grande amigo de Deus.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Rejeito a Carona (Augusto Pola Junior)


Um amigo perguntou-me se eu iria falar da questão da “conversão” de Pedro Affonseca, ex-presidente do Centro Dom Bosco (CDB) que recentemente fez um “mea culpa” em favor de uma, digamos, vida paroquial mais pacífica. Respondi que não tinha interesse, pois o drama da Igreja pós-conciliar, cujos maus frutos são vistos nas paróquias, e cuja esperança de mudança não são vistas no horizonte quando se está dentro desses muros oficialistas, é realmente causador de dissonâncias cognitivas grandes. Diante da visão tradicional em contraste com os hábitos paroquiais, na impossibilidade de haver harmonia entre ambos, não cabe a mim ser fiscal de sua consciência. Se ele acha que seu tesouro está na paróquia e quer vender todos os bens para estar nesse terreno, que seja.

Em vídeos anteriores, ainda na época de CDB, Pedro Affonseca tinha dito que era continuísta, mas depois, estudando a crise, passou a ser tradicionalista, embora sem querer moralizar os continuístas, respeitando-os. Recentemente se retratou desta sua postura anterior, optando por “ficar em harmonia com a hierarquia da Igreja”, concretamente em sua paróquia. Ok. Minha opinião sobre isso nem é capaz de mudar sua situação, nem é importante. O máximo que fiz foi, no privado com alguns amigos, compartilhar algumas análises de conjunturas e fazer algumas ironias sobre a situação precária da Igreja. É que a repercussão sobre o vídeo do Pedro não é uma causa, mas o efeito de um estado de coisas. Estou mais interessado neste âmbito.

Mas isso é como eu decidi agir diante deste caso. Diferentemente é a mentalidade do influencer que precisa usar o caso para seu benefício. É o que fez o Santa Carona, que em seu Instagram montou todo um carrossel de textos e imagens que vamos analisar. Novamente, não estou interessado no Pedro (como ironizei em meu Facebook, sua retratação em nada impacta a indústria de anime, então, segundo este critério, não é importante), mas no âmbito mais psicológico-sociológico e, por que não, teológico (quando aplicável).


Mas que raio de título é esse? Tentação de Sempre? Até onde sei, a tentação de sempre é o “SEREIS COMO DEUSES”, ou seja, o pensamento que, uma vez consentido, causou o Pecado Original. O que isso tem a ver com uma posição diante da crise? Embora possa haver soberba em torno do debate acerca da crise da Igreja, tal vício capital não é exclusividade de uma só corrente. Todos – tradicionalistas, carismáticos, tradismáticos, continuístas, libertários, etc. – podem ter sua posição tanto por soberba (para querer se sentir superior aos outros ou para que suas próprias idiossincrasias estejam acima do bem e da verdade) quanto por humildade (de tudo que sabe e estudou, tem esse opinião).

Este título carrega consigo não só aquele sensacionalismo de que os influencers adoram (ditadura do like, como criticam corretamente os libertários, ainda que por motivos errados), mas também uma sugestão perniciosa, a saber, que a posição tradicionalista é fruto de uma tentação (a de sempre) enquanto que a posição continuísta estaria livre, não em potência, mas em ato, desta tentação.

Ainda bem que se trata de uma carona. Se fosse taxista, só pelo título já suspeitaria de que estaria trapaceando no taxímetro.


Claro, parou.




Parece que sentiu peso na consciência por criticar a hierarquia. Bom, isso é problema dele. Como não estou interessado no Pedro, mas na análise influencerística do Santa Carona, sigamos.





Zelo pelo sagrado é uma virtude. O problema dos zelotas é que trocaram o zelo religioso pela ambição política. O religioso deveria servir aos fins políticos, o que é obviamente uma inversão, o correto é que o poder temporal seja submisso ao poder religioso. Os zelotas inverteram os princípios. Neste sentido, descendente dos zelotas, hoje, seriam os teólogos da libertação ou, em sinal oposto a estes, os conservadores-direitistas, muito afoitos às narrativas ideológicas da política atual, não os tradicionalistas, que por princípio militam pelo Reinado Social de Cristo.

Aliás, o zelo, como dito, é uma virtude, muito em falta em nossos dias. Pecam terrivelmente pela falta de zelo, por exemplo, os laxistas, dentre os quais muito são conservadores-continuístas. É um zelo a mulher usar véu em lugar sagrado, ratificado perenemente por nada mais nada menos que São Paulo, mas os continuístas acham estranho usar véu. É um zelo comungar na boca e de joelhos, mas a maioria dos católicos não o fazem, apegando-se ao argumento do “direito” sobre a piedade. É um zelo o canto gregoriano na Missa, mas os continuístas não fazem questão de militar pela qualidade da música litúrgica… E assim poderíamos seguir passando por vários tópicos. O que quero mostrar é que essa falta de zelo é sempre em favor dos costumes do mundo contra o costumes tradicionais da Igreja (nem vou adentrar na questão doutrinal que fundamentam tais práticas, coloquemos em termo de costume, do jeito que o conservador gosta). Sendo assim, quem é mais zelota, espiritualmente falando, os tradicionalistas ou os continuístas, sobretudo em seu subgrupo laxistas?


As consequências do pensamento zelota não podem deixar de ser catastróficas, pois é a inversão da ordem que coloca o religioso a serviço de objetivos políticos.

Agora, o que isso tem a ver com os tradicionalistas? Estes não têm nem estão lutando pelo poder político. Quanto ao poder eclesiástico, eles são perseguidos. Por mais que se diga que se deva acolher a “todos, todos e todos”, sabe-se que, na prática, os tradicionalistas não são bem-vindos nas paróquias. Ademais, são, segundo a quantidade, minoritários. Tudo o que os tradicionalistas têm é a defesa de um conjunto de teses críticas ao Concílio Vaticano II, argumentando que dito Concílio rompeu com a ortodoxia da fé. Ou seja, o âmbito de influencia das correntes tradicionalistas é o campo cultural, sem influência sobre o poder eclesiástico vigente.

O tradicionalismo cresce “por fora” da Igreja, porque “por dentro” são perseguidos.


A preocupação dos zelotas era terrena. Quem se enquadraria melhor na descrição de “zelo exacerbado e desordenado pelo Templo” é o fariseu, justamente quem mandava no templo, quem detinha o poder espiritual. E precisamente porque não queriam que alguém reinasse acima deles no Templo, mataram o próprio Deus.

Toda uma bizarra analogia com os zelotas para chegar no grosseiro sofisma de que a culpa é do mensageiro?

Se as coisas estão ruins, a culpa não é do reformador e de quem detém o poder da ação concreta, mas de quem denuncia os maus frutos?

Malvados “zelotas” que falam o que estão vendo. Seria melhor que fizesse como o avestruz, que enterra a cabeça na terra para não ver.

forma mentis do Carona lembra-me uma passagem que escrevi na Apresentação da edição que fizemos das obras morais e pastorais de Santo Agostinho:

"Havia na época de Santo Agostinho os hereges priscilianistas que, além de muitas heresias doutrinais, defendiam um método de atuação a partir de um pensamento permissivo à mentira: “pode-se mentir para converter o próximo à nossa religião”. Por conta disso, eles fingiam ser católicos para, quando tivessem oportunidade, convencer os católicos a apostasiarem em favor da heresia de Prisciliano. Consêncio está preocupado com a refutação das heresias, e nisto foi elogiado pelo Doutor da Igreja, e com o desmascaramento dos hereges que se fingem de católicos para enganar os católicos. Neste ponto, consulta Santo Agostinho para saber se seria uma boa ideia imitar o método priscilianista “para o bem”, ou seja, mentir para fazer-se passar por priscilianista a fim de os converter à fé católica, isto é, à Verdade, ou pelo menos, quando isso não fosse possível, os descobrir para que não mais pudessem mais atuar a modo de espião no meio católico.

Eis uma obra obrigatória [A obra Contra a Mentira] para qualquer teólogo pastoralista moderno, incluindo também os defensores do ecumenismo irenista moderno, cuja abordagem pastoral se tornou hegemônica no período após o Concílio Vaticano II. Descobrirão que Santo Agostinho já refutava e previa o fracasso de seus intentos pastoralistas, pois, em relação ao que praticam hoje, no que diferem em essência do método priscilianista?

Em nome de um diálogo ecumênico, por exemplo, os católicos não devem fingir que a devoção aos Santos e a Nossa Senhora não são, assim, tão importantes? Não cedem os bispos as suas igrejas para serem sacrilegamente profanadas pelos cultos de falsas religiões? Não são marginalizados os católicos polemistas, porque supostamente estariam atrapalhando a pastoral da igreja com seus discursos dito rígidos? Na conversão dos próprios jovens, não omitem os padres aqueles preceitos doutrinais que mais contrastam contra o mundo moderno, principalmente os de modéstia e castidade, porque isso supostamente os entristeceria de praticar a religião? E o que dizer dos casados? Estaria a castidade conjugal fora de moda? E para que combater o feminismo em favor dos conselhos do Apóstolo Paulo aos Efésios, se em nome da “adaptação para conversão” a Igreja pode incentivar disciplinas feministas, até chegar ao ponto de aceitar que acessem a Sagrada Comunhão os adúlteros recasados? E o termo empregado para permitir esses e outros desvios escandalosos não é o tal do “discernimento pastoral”?"

Em nada ficaria surpreso Santo Agostinho em ver que, diante de tal pastoral enlouquecida, ou mais precisamente, mentirosa, pois não são estas as práticas que a Igreja crê e defende, mesmo os católicos supostamente convertidos seriam mais mundanos do que católicos, uma espécie de pagão batizado:

Ficaria, pois, muito claro que não hesitamos em condenar, com toda a sinceridade de nossa piedade, os perversos erros da heresia priscilianista acerca de Deus, da alma, do corpo e de outros temas; porém, no que se refere a mentir para ocultar a verdade, admitiríamos (Deus nos livre!) um dogma comum com eles? Ora, este é um mal tão grande, que mesmo se nosso empenho de os capturar e os mudar por meio da mentira prosperasse, de modo que fossem conquistados e mudados, nenhum ganho compensaria o dano que resultou disso: nós mesmos nos corrompemos ao buscar sua correção. De fato, ao utilizar este embuste, perverteríamos a nós mesmos em parte, e eles seriam corrigidos pela metade, visto que não corrigiríamos neles a opinião errônea de que se pode mentir em prol da verdade, pois seria o que lhes ensinaríamos e lhes mandaríamos pôr em prática a fim de poder capturá-los. E assim, não os emendaríamos ao não lhes arrancar essa patranha pela qual creem que se possa camuflar a verdade, e, além disso, enganaríamos a nós mesmos ao lhes buscar por meio dessa falsidade. Ademais, nunca poderemos saber a sinceridade da conversão daqueles aos quais mentimos quando estavam na perversão, pois provavelmente farão, uma vez capturados, o que fizemos para capturá-los, e não só porque estavam acostumados a fazê-lo, mas também porque encontraram o mesmo comportamento conosco” (Santo Agostinho, Contra a Mentira, 6)

Em essência, a pastoral moderna, que é permissiva com os pecados do mundo, e, por isso, favorece a corrupção dos costumes, junto com seu ecumenismo moderno, que pratica o relativismo religioso e favorece a difusão de heresias e erros doutrinais, já nasceram para fracassar. Não tinha como dar certo."

É verdade que Santa Carona não chega ao absurdo de propor a mentira, mas a simples omissão para “não expor” as fragilidades. Todavia, tais fragilidades são fruto de má doutrina e, portanto, expô-las não é zelo excessivo, mas zelo.

Estão errados os tradicionalistas em seus argumentos? Denunciam erros que não são erros? Que sejam refutados ou contrapostos. Rotulá-los de “zelotas”, porém, é desonesto.

O problema é que fazer isso significa adentrar no mérito de questões sensíveis. E para o Santa Carona, fazer isso não é zelo, mas “expor a fragilidade da Igreja”, como se a Igreja estivesse fragilizada por causa de seus críticos, e não por causa de heresias que obscurecem a sua pureza doutrinal…

É arriscado pegar carona com esse tipo de miopia.


Também não me espanta, ainda que por motivos diferentes do Carona. De fato, a dinâmica hodierna das paróquias modernas não são harmonizáveis com o conhecimento da Crise da Igreja à luz da Tradição. É um contraste muito grande que vai desde a música litúrgica (normalização do violão) até conteúdo catequético.


Novamente demonstração da miopia do Carona. Mas antes, vamos colocar um pingo no "i".

É um elemento desonesto da retórica na internet chamar de ataque o que é crítica. Santa Carona faz isso. Espero que o faça por vício inconsciente de influencers, que por usar muito a internet acaba pegando, sem notar, muitos cacoetes. Mas ataque é diferente de crítica. Quem ataca a Igreja é, doutrinalmente, a heresia, e, moralmente, os pecados públicos, que, por causa de seu mau exemplo, induzindo outros ao pecado e ao erro, se chamam escândalos.

Quem refuta uma heresia ou critica escândalos pratica um ato de zelo, na esteia de como disse Santo Agostinho: “Ficaria, pois, muito claro que não hesitamos em condenar, com toda a sinceridade de nossa piedade, os perversos erros da heresia“.

Os apostolados tradicionais não são um tabloide ou mídia de fofoca, senão que seus discursos, em sua atuação polêmica-intraeclesiástica – versam sobre a crise e/ou sobre os efeitos gerados por ela.

Ademais, os escândalos e heresias são tanto mais graves quanto mais alta é a hierarquia de quem cai neles. Assim, por ser maior os escândalos causados por prelados, maior a necessidade de corrigi-lo, sob risco de outras almas – sobretudo as sem instrução – perecerem juntas.


Outros artigos [aqui e aqui] já lidaram recentemente sobre essa questão do tradicionalista e a vida paroquial. Mas volto a repetir: Se a vida paroquial é nociva ao progresso espiritual [por causa do tal aggiornamento pós-conciliar que impregnou na pastoralidade moderna], é prudente o afastamento (que não necessariamente significa isolamento).

Sobre “se refugiar em centros ideológicos”, aqui já saímos da miopia para adentrar na absurdidade.

O “Maledicente Carona” sugere que a vida paroquial não é ideológica enquanto que os centros – associações civis criadas por católicos – o são. Primeiramente, não é porque uma associação de leigos católicos não está sob jurisdição paroquial que ela é ideológica. Segundo, sobre ideologia nas paróquias, basta voltar ao que escrevi na Apresentação que reuniu algumas obras de Santo Agostinho.

A coisa é absurda, porque é uma completa inversão. Centros como o Dom Bosco buscam ter uma forte base tomista, cuja característica é não ser ideológica. As paróquias, em geral, estão mais ou menos contaminadas por uma corrente teológico-ideológica chamada “Nova Teologia”.

Ok, talvez eu esteja sendo injusto com o Santa Carona. Ele toma paróquia em seu sentido ideal, que significa “estabelecimento no estrangeiro”. Seria o local onde os leigos, após seu período de trabalho no mundo, mas não sendo do mundo, iriam para poder estar em casa, ou seja, seguros quanto aos ensinos e atividades, todos eles iluminados pela fé e aquecidos pela caridade.

Ó Carona, pretensamente Santa, que imagem fazes da paróquia? Medita, recomendo, a passagem de São Lucas 18,1: “Acaso quando o filho homem voltar achará a fé na terra?”. Medita o que o Catecismo atual da Igreja (não vou recomendar o Catecismo Romano de Trento, para não soar ideológico) em seu n. 675: “Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado“.

Medita e depois responde: Estão as paróquias blindadas da impostura religiosa? Coloque os óculos para não ver miopemente, e responde: A substituição do canto gregoriano por ritmos mais sentimentais, o padre rezando de frente ao povo, o leigo leitor em substituição às ordens menores, o não-uso do véu, a comunhão na mão, a imodéstia feminina, o dialoguismo, a escassez de parresia, etc., está mais próximo do homem que glorifica a Deus ou do homem que glorifica a si mesmo?

Responde Carona, quem é o responsável por esse estado de coisas? Todo esse turbilhão humanista (humanismo será a religião do Anticristo, isto é, o homem que se glorifica a si mesmo) propicia ou atrapalha o progresso na santidade?

Não é na Eucaristia onde mais gloriamos a Deus? Então por que a liturgia é onde a coisa está mais avacalhada? Por que é tão difícil achar um lugar onde a Adoração Eucarística seja feita de maneira recolhida, sem o barulho dos instrumentos e dos ritmos mundanos?

A realidade paroquial está ruim. E o que você faz? Culpa quem é vítima desse estado de coisas!

Honestamente, quem tu achas que causa mais mal do que bem às almas sem instrução, quem denuncia esse estado de coisas, mostrando que há uma riqueza que as próprias autoridades atuais estão escondendo, ou quem, devendo instruir as almas na ortodoxia da Fé, não só não o faz, como ainda o faz ensinando ao modo hegemônico, isto é, humanista?

Carona, para que a Igreja não fosse considerada machista, mudaram a tradução de São Paulo! Não é mais submissão (sede submissas a seus maridos), mas solicitude (sede solícitas). Isto é lido em plena missa, em determinado domingo!

Continuas tankando o que sugeriste? Não há ideologia nas paróquias?

É verdade que dirás, mais a frente, que há muito modernismo nas paróquias. Mas por que deixar vago demais? Por que, não mais sendo míope, mas se cegando, criticas aqueles que com palavras condenam os erros que a hierarquia pratica com ação?


Só pode haver comunhão na verdade. Na Igreja, a comunhão significa, efetivamente, concórdia na Fé. Ou seja, além do batismo (que nos dá a vida sobrenatural) é necessário a integridade da fé.

Aqui evidenciamos novamente a miopia de Carona. Ele inverteu a lógica. diz que “a fé católica só está verdadeiramente viva quando há comunhão com a Igreja”, quando na realidade só há comunhão com a Igreja quando a fé católica está verdadeiramente viva.

A régua não é a comunhão, mas a ortodoxia da fé. Xô fraternidade humanista!

Assim, quando o Papa Francisco mina a ortodoxia, gera escândalo. E criticar – filialmente, claro – o escândalo não será “ferir” a comunhão ou “expor fragilidade”, mas zelo.

forma mentis continuísta é uma bagunça mesmo.

Ele admite, corretamente, uma heresia em roga: o modernismo. Admite que o modernismo é canal para perdição das almas. Admite que invadiu as paróquias. MAS AÍ DE TI SE NÃO FREQUENTAR AS PARÓQUIAS E TENTAR FAZER APOSTOLADO PRESCINDINDO DELAS! Acima de tudo, é preciso a comunhão, embora a heresia não seja fonte de comunhão. Mas estar em comunhão é estar próximo da heresia, de outro modo, seria melhor afastar-se da vida paroquial. Mas se afastar da vida paroquial é não querer pagar o preço da comunhão. E o preço da comunhão é uma vida lado a lado com a heresia, em pleno ambiente paroquial, que é fonte de descomunhão.

Parece contraditório. Mas só o é do ponto de vista Tradicional. Do ponto de vista humanista, é perfeitamente possível conciliar esse estado de coisas. Basta colocar a “paz com o irmão” acima da ortodoxia da fé, e chamar isso de caridade ou prudência. Aos críticos desse estado de coisa – desse “fingimento pastoral-paroquial”, de fingir por exemplo, que comunhão na mão e tão piedoso quanto comunhão na boca, ou que o véu é mera questão de gosto, quando não esquesitice reacionária – basta chamá-los de “revoltosos” que lançam “ataques”. Jogo de linguagem, sim, mas a “comunhão” tem seus preços a pagar…

O Carona mira numa coisa e acerta noutra. De fato, é próprio da estratégia diabólica trabalhar com opostos igualmente errôneos (os revolucionários chamam de dialética e tomam isso como método de vida válido. Sim, os revolucionários pensam segundo a lógica dialética, ou seja, demoníaca). Diante de um problema real, sugerirá o demônio duas soluções falsas, ou se preferir, uma falsa solução à esquerda e uma falsa solução à direita. Em última instância, a nota para discernir se a solução é falsa ou não reside no que eu chamo de “critério do Anticristo”. Se a solução está baseada em humanismo, é falsa; se está baseada na glória de Deus e defesa da fé em sua integralidade, é provavelmente verdadeira.

De fato, diante do modernismo reinante, que atualmente obscurece a verdadeira Igreja, escondendo seus tesouros e combatendo sua Tradição, duas são as atitudes erradas. À esquerda, promover ou ser conivente com a heresia. À direita, revoltar-se contra a autoridade.

Em relação à autoridade, devemos ser dóceis sempre. Porém, não somos kantianos. Não pensamos segundo imperativos categóricos. O princípio da docilidade à autoridade existe porque é obrigação desta zelar (olha o termo de novo) pela verdade e pela retidão. Ora, se a autoridade é pela verdade e pelo bem, é insensatez revoltar-se contra ela. Contudo, quando o que está em jogo é a própria verdade e o próprio bem, a autoridade descumpre seu papel, então, neste caso, é lícito que o inferior não obedeça ao superior (Cf. Suma Teológica, II-II, q. 105, art. 5).

Mas como explicar essas nuances para quem confunde crítica com ataque e revolta?

Os tradicionalistas rezam pelo Papa. Suas adorações, muito mais sóbrias e solenes do que vemos nas paróquias diocesanas, suplicam a Deus a favor do Papa e a favor das autoridades.

Então, sim, a revolta é uma atitude errônea (é por isso que os tradicionalistas não passam pano para os sedevacantistas, senão que os desprezam). Mas também o é a condescendência e a omissão. Em termos de espiritualidade: a mornidão.

É fake news atrelar as críticas à Igreja pós-conciliar a uma atitude, em si, revoltosa. É pelos frutos que conhecereis. Os frutos dos modernismo são maus. Não dá para tapar o sol com a peneira do fingimento nem com truques linguísticos (rotulagem barata, chamar a crítica de ataque, falar de “comunhão” na paróquia num contexto de hegemonia herética, etc).


Deve ser fantástico dirigir-se ao grupo mais perseguido atualmente e, ao mesmo tempo, o mais doutrinalmente correto – os tradicionalistas – para difamá-lo chamando de ideológico e revoltado e, não obstante, crendo-se ser obediente e uma arauto da comunhão. É a receita para praticar o mal em ato, imaginando-se estar fazendo o bem. Cuidemos para não cair na tentação do “Santa” Carona.


Nominalismo nas alturas.

Ao contrário das ideias soltas do Carona, cuja forma mentis já criticamos (mas que ele, se ler, vai entender como um ataque), os católicos tradicionalistas, por sua base tomista, preferem discernir não com base em canetada ou carteiraço, nem surfar em modas doutrinais ou fazer malabarismo com costumes mundanos, mas com base na Tradição Magisterial, uma vez que a Verdade não se contradiz.

Enfim, está batendo num espantalho.


Quanta coragem! Curvar-se, na prática, ao status quo do conservadorismo católico e tornar vago problemas graves concretos no dia a dia paroquial, tudo em nome da “comunhão”, da “obediência” e, claro, implicitamente, da fraternidade #CNBB.

Novamente, não está nem no Catecismo Romano, mas no Catecismo atual (n. 675), “A perseguição (…) porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade".

Não é uma impostura religiosa como o modernismo, que é o responsável pelas desordens na vida da Igreja (embora o Carona atribua a culpa aos tradicionalistas por uma inversão que é típica da mentalidade revolucionária), mas está mitigada nas posturas conservadoras e continuístas, onde a defesa da Tradição jamais deve cobrar o preço de descontentar o irmão ou criticar – sem revolta ou ódio, é claro – a má autoridade. Não deixa de ser um apreço por uma falsa paz à custa da apostasia da verdade.

Não se assuste o leitor. Chesterton já via essa marcha revolucionária no espírito conservador: “⁠O mundo está dividido entre conservadores e progressistas. O negócio dos progressistas é continuar cometendo erros. O negócio dos conservadores é evitar que erros sejam corrigidos“. Os católicos tradicionais têm o hábito de denunciar essa dialética hegeliana que faz avançar a Crise da Igreja. Naturalmente, isso causa raiva e unem sinistramente libertários e conservadores em ataque contra os tradicionalistas. Que coisa, não? #quico #chaves

Mas, claro, é sempre possível optar pela “obediência” e pela “comunhão”. Sendo assim, não esqueçamos! Se houver escândalo, ignore, pois, ignorando-o, não irá expor nenhuma fragilidade. Se for criticar, ainda que seja o modernismo, que seja de forma vaga; colocar as coisas em termos concretos pode ofender a sensibilidade dos sem instrução. E se for criticar os tradicionalistas, faça através de um espantalho sem nunca entrar no mérito de suas teses; para isso, chame-os de desobedientes e revoltosos, se eles têm razão ou não, é secundário, que tudo fique de forma vaga. Mais genialmente humanista que isso é impossível.

Fonte: Instituto Santo Atanásio

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