"Nos tempos antigos, pelo menos para igrejas maiores, frequentemente se via um edifício separado como batistério. Pode-se pensar aqui no batistério da basílica de Latrão, localizado no edifício octogonal do século III atrás da basílica propriamente dita. Fora do duomo de Florença e Pisa, também se pode ver batistérios de formato semelhante."
"Na maior parte da Igreja, portanto, uma solução veio naturalmente quando um problema pastoral surgiu com o batismo. Inicialmente, o batismo era de adultos nus. Como a Igreja poderia salvaguardar a modéstia das mulheres sendo batizadas e dos homens que as batizavam? Parte da resposta foi construir batistérios com cortinas, uma com uma abertura pela qual o padre ou diácono pudesse alcançar para colocar sua mão na cabeça da mulher batizada e pronunciar a fórmula batismal." (p. 190)
"Em nenhum momento as diaconisas no rito bizantino tiveram acesso ao santuário, nem essa proibição foi de alguma forma baseada nas visões de impureza encontradas no Livro de Levítico. O único texto que fez alguma alusão a isso não era nem grego. Foi uma resposta do bispo sírio, João de Telia, e essa questão dizia respeito apenas à competência da diaconisa no convento na ausência de um padre ou diácono. Mas quando Teodoro registrou que “hoje as diaconisas não são mais ordenadas”, devemos levá-lo ao pé da letra? Ou ele, devido à ideia inexata que tinha da antiga instituição da diaconisa, considerou as diaconisas presentes em Constantinopla em seu tempo como não sendo verdadeiras diaconisas?" (p. 172)
"Cânon 2. Naquela época, alguns sugeriram que, contrariamente à disciplina apostólica, até então desconhecida, as mulheres eram levadas para o ministério levítico em algum lugar; o que aliás, por ser indecente, a disciplina eclesiástica não admite; e tal arranjo deveria ser desfeito como contrário à razão: deveria-se tomar cuidado para que ninguém mais ouse fazer isso. ”
Cânon 26. As diaconisas não devem ser ordenadas sob qualquer hipótese: se houver, submetam a cabeça à bênção que é concedida ao povo.
“Mulheres não podem se aproximar do altar.” (Cânon 44)
Concílio de Paris:
"Cânon 45. Temos procurado por todos os meios possíveis impedir a admissão ilícita de mulheres no altar. Soubemos por meio de um relato de pessoas confiáveis que em algumas províncias, em contradição com a lei divina e com a instrução canônica, as mulheres se dirigem à área do altar, impudentemente pegam os vasos sagrados, estendem as vestes sacerdotais aos sacerdotes e — o que é ainda pior, mais indecente e impróprio do que tudo isso — dão ao povo o corpo e o sangue do Senhor e fazem outras coisas que em si mesmas são indecentes [ quae ipso dictu turpia sunt ].
É mais surpreendente como essa prática, não permitida na religião cristã, pôde se infiltrar; isto é, como as mulheres, a cujo sexo não é de forma alguma adequado fazer o que é contrário à lei divina, puderam se permitir fazer o que é proibido aos homens seculares. Sem dúvida, ocorreu por descuido e negligência de alguns bispos. Portanto, ai de nós, padres, em cujas mãos os fardos daquele padre passaram, como são descritos em Mach. 2: Pois eles realmente desconsideraram seu dever que lhes foi delegado para o culto e, enquanto o templo de Deus estava sem serviço sagrado, entregaram-se a paixões carnais e ações ilícitas, de modo que as mulheres, sem que ninguém as impedisse, se dirigiram a casas consagradas e ali puderam introduzir coisas não permitidas."
O Magistério dos Papas também não ficou em silêncio e igualmente confirmou a condenação do serviço feminino no altar.
Papa São Gelásio em Carta aos Bispos da Lucânia (496 dC):
"Com impaciência, ouvimos que as coisas divinas sofreram tanto desprezo que as mulheres são encorajadas a servir nos altares sagrados, e que todas as tarefas confiadas ao serviço dos homens são executadas por um sexo para o qual essas [tarefas] não são apropriadas" (Mansi VIII, 44).
“O Papa Gelásio, em sua nona carta (cap. 26) aos bispos da Lucânia, condenou a prática maligna que havia sido introduzida de mulheres servindo ao padre na celebração da missa. Como esse abuso havia se espalhado para os gregos, Inocêncio IV proibiu estritamente em sua carta ao bispo de Tusculum: 'As mulheres não devem ousar servir no altar; elas devem ter esse ministério completamente recusado.' Nós também proibimos essa prática nas mesmas palavras em Nossa constituição frequentemente repetida Etsi Pastoralis, seção 6, nº 21.”
"Cânon 813. Cuide-se para que nenhuma mulher ouse caminhar até o altar ou ministrar ao sacerdote ou ficar de pé ou sentar-se dentro da capela-mor" (c. 1, X).
Liturgicae Instaurationes (1970):
"Em conformidade com as normas tradicionais da Igreja, as mulheres (solteiras, casadas, religiosas), seja em igrejas, lares, conventos, escolas ou instituições para mulheres, estão proibidas de servir o sacerdote no altar."
a) Tradição Dominical - Aquilo que Cristo instituiu oralmente. Ex: indissolubilidade do matrimônio e os preceitos da caridade).b) Tradição Apostólica/Divino-Apostólica - Aquilo que os Apóstolos instituíram sob inspiração do Espírito Santo. Ex: ordenação de diáconos.
a) Tradição humano-eclesiástica: Tradições iniciadas pelos Apóstolos, mas que não foram divinamente reveladas. Ex: ritos da Igreja, leis de jejum e abstinência que diferem de igreja para igreja, etc.b) Tradição meramente eclesiástica: é toda aquela instituída pela Igreja após o tempo dos Apóstolos. Ex: festas litúrgicas.
"Além disso, quanto mais longa a tradição humano-apostólica, maior a causa para uma mudança deve ser manifesta. Portanto, se uma tradição humano-apostólica está em vigor desde o tempo dos Apóstolos, somente sob as mais graves circunstâncias ela deve ser mudada, já que a vontade de Deus é manifesta em Sua aprovação da tradição, já que ela permaneceu em vigor por tal duração."
"O presbiterado consagra os sacerdotes “à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Hebr. 5, 1-10; 7,24; 9, 11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento” (Lumen Gentium, 28)."O diaconato serve o presbiterato. “É próprio do diácono, segundo for cometido pela competente autoridade, administrar solenemente o Batismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, ler aos fiéis a Sagrada Escritura, instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, dirigir os ritos do funeral e da sepultura.” (Lumen Gentium, 29)
“Na Igreja primitiva, todos os ministérios inferiores eram confiados aos diáconos por causa da escassez de ministros, como fica evidente no que Dionísio diz: “outros ministros ficam nos portões fechados do templo; outros trabalham em outra coisa de sua ordem própria; outros colocam o pão sagrado e o cálice da bênção sobre o altar com os sacerdotes”. No entanto, todos os poderes mencionados estavam lá, mas implicitamente no único poder do diaconato. Mais tarde, porém, o culto divino foi mais difundido, e o que a Igreja tinha implicitamente em uma ordem, ela distribuiu [tradidit] explicitamente sobre muitos; e segundo isso, o Mestre diz no texto que “a Igreja instituiu para si outras ordens”."
Dom Athanasius Schneider, no mesmo sentido, explica que o Concílio de Trento escolheu a expressão "ministros" ao invés de "diáconos" justamente para incluir as ordens menores ao poder implícito do diaconato:
"Definindo dogmaticamente a estrutura divinamente estabelecida da hierarquia, o Concílio de Trento escolheu o termo “ministros” ao lado dos termos “bispo” e “sacerdotes”, evitando o termo “diáconos”. Provavelmente o Concílio quis incluir no termo “ministros” tanto o diaconato quanto as ordens menores, para dizer implicitamente que as ordens menores são parte do diaconato. Esta é a formulação do cânon 6 da sessão XXIII: “Se alguém disser que na Igreja Católica não há hierarquia estabelecida por um arranjo divino, que é composta de bispos, padres e ministros, seja anátema”. Pode-se dizer, portanto, que ordens inferiores ou menores, como o leitorado e o acolitato, têm sua raiz no diaconato pela instituição divina, mas foram formadas e distribuídas em vários graus pela instituição eclesiástica (cf. Dom Gréa, loc. cit.)."
Dom Athanasius sublinha, portanto, que o diaconato é de instituição divina e as ordens menores de instituição eclesiástica. Porém, elas surgiram para proteger o diaconato, isto é, reafirmá-lo.
Quanto à historicidade das ordens, a Administração Apostólica São João Maria Vianney afirma que o subdiaconato foi instituído ainda na era apostólica, sendo, portanto, uma tradição humano-eclesiástica:
"O subdiaconato é a primeira das ordens maiores, embora não seja parte mesma do sacramento da Ordem, é a Ordem pela qual os ordenados são tidos na Liturgia como ministros sagrados pela qual a Igreja confere o poder de servir ao diácono na missa solene, de lhe oferecer o cálix e a patena, de preparar a água para o s. sacrifício, de cantar a epístola e de abluir as palas e os corporais.
[...]
A origem do subdiaconato deve-se à necessidade de auxiliares para os sete diáconos, cujo número não se quis mudar. Por isso esse auxiliar subalterno é chamado subdiácono, pois que o diácono é o primeiro ministro. Foi instituído ainda no tempo dos apóstolos, “desde o princípio da Igreja.” Antigamente o subdiácono estava encarregado de ajudar o diácono, recebendo com ele as ofertas do povo e colocando no altar uma parte delas, suficiente para a comunhão dos fiéis. Devia guardar a porta das mulheres, ao passo que o diácono guardava a dos homens. Estava-lhe confiado o cuidado dos sepulcros dos mártires, das relíquias dos santos e das sagradas hóstias restantes da comunhão. Ocupava, portanto, uma posição muito honrosa de que ainda hoje está investido. Contudo esta ordem é sacramento. Na Igreja grega é ordem menor. Na Igreja romana só no século XIII (Inocêncio III) se começa a contá-la entre as ordens maiores. Mas a importância que a Igreja liga a este grau eclesiástico pode-se inferir das obrigações impostas aos que têm a honra de pertencer a ele. Cada dia o subdiácono deve rezar o oficio divino, e na Igreja romana deve guardar o celibato."
A obrigação do celibato é igual à do voto solene de castidade e é impedimento dirimente do matrimônio. A violação desta lei é um sacrilégio, de sorte que o transgressor pelo pecado, quer interno quer externo, comete dois pecados, contra a castidade e contra o voto."
Já acolitato tem o seu possível registro mais antigo datado no ano de 189 dC, sob o pontificado de São Vitor I.
O leitorado Tertuliano, já no século II, o testemunha.
No século III, encontra-se o registro das sete ordens completas, como testemunha Eusébio de Cesareia:
“Na Igreja Romana há quarenta e seis presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, quarenta e dois acólitos, cinquenta e dois exorcistas, leitores e porteiros” (História Eclesiástica , VI, 43, 11)
Portanto, o registro dessas ordens é realmente antigo, sendo mais antigo, por exemplo, que as referências documentais à assunção de Nossa Senhora.
Aqui convém relembrar as tradições são muito antigas, de origem oculta e extremamente duradouras na História da Igreja é muito provável que elas pertençam à Tradição Apostólica, como ensina o Pe. Ripperger em seu livro "The Limits of Papal Autorithy Over the Liturgy"
Devido ao fato de Deus ser o Senhor da História, de ter estabelecido a Igreja para Lhe dar um culto bem ordenado, tanto que Ele deu instruções detalhadas, nada permanece na liturgia durante um longo período de tempo que não seja a Vontade de Deus que esteja aí. A partir disso, o princípio é que a longevidade de um elemento da liturgia dá indicação da Vontade de Deus em relação a esse elemento. Formulando de outra forma, a duração de algo nos livros litúrgicos determina o quanto Deus deseja isso na liturgia. Se algo é da Tradição Apostólica, isso indica que Deus geralmente quer esse elemento na liturgia por toda a duração da História da Igreja." (p. 42-43)
Mesmo considerando o atual status da pastoral litúrgica, a Igreja deixa claro que existe uma obrigação de conservar-se o serviço masculino do altar. Em 1994, a Congregação do Culto Divino e o Conselho para Interpretação dos Textos Legislativos fizeram o seguinte comunicado:
"A Santa Sé respeita a decisão que alguns Bispos, por determinadas razões locais, adotaram, com base ao previsto no cân. 230 § 2, mas contemporaneamente a mesma Santa Sé recorda que sempre será muito oportuno seguir a nobre tradição do serviço ao altar pelos meninos. Isto, como se sabe, permitiu inclusive um consolador desenvolvimento das vocações sacerdotais. Portanto, sempre existirá a obrigação de continuar a sustentar tais grupos de coroinhas."
Assim, mesmo que se considere a atual e confusa pastoral moderna de permitir mulheres no altar fundamentada na dignidade batismal do leigo, o que a Igreja ensino é que o serviço do altar tanto pela doutrina quanto pela conveniência é essencialmente masculino. O serviço masculino sempre será uma obrigação, enquanto o serviço feminino uma mera permissão.
Nestas premissas, é possível concluir que a Tradição que conservou o serviço masculino e proibiu o serviço feminino foi tanto divina quanto eclesiástica. A primeira por ensinar que o serviço do altar pertence essencialmente às ordens sagradas, a segunda por proteger as ordens sagradas com as ordens menores.
O status atual das ordens menores
Se o serviço masculino do altar é uma Tradição divina e ela mesma proibe a participação feminina, como explicar a mudança operada pelo Papa Francisco de abrir o acolitato e o leitorado às mulheres?
Pois bem, segundo alguns teólogos, o que Paulo VI fez no Motu Proprio Ministeria Quaedam não foi apenas renomear as ordens menores, mas criar algo inteiramente novo. Em outras palavras, o Papa substituiu o uso das ordens menores na Missa Nova pelos ministérios laicais. Assim, o acolitato e o leitorado, embora recebam o mesmo nome das ordens tradicionais, eles só o são de maneira análoga, tal como o "coroinha" não ordenado é chamado de acólito.
Em reforço a esse entendimento, o Pe. Chad Ripperger em certa conferência explica que os ministérios laicais instituídos por Paulo VI não podem ser identificados com as ordens menores:
"Os ministérios que a Igreja regulamentou recentemente não a mesma coisa que as ordens. Ministério é a permissão para fazer algo, é a capacidade de fazer algo sem obter permissão adicional. Não é um cargo oficial que você recebe que muda você de alguma forma. [...] O que acontece é que cada vez que você passa por essas ordens, você está passando por um ritual em que o bispo pede para você graças específicas para aquela ordem" (46'20")
Segundo o padre, embora as tarefas litúrgicas sejam materialmente as mesmas, as ordens realmente conferiam um poder ao ordenado, "graças diaconais", enquanto que os ministérios atuais concedem apenas uma faculdade ao leigo, isto é, uma permissão.
O entendimento de que Paulo VI criou ministérios completamente novos é baseado nos seguintes fundamentos:
a) Quanto à finalidade. Os ministérios laicais atuais não possuem como finalidade geral o exercício da diakonia na liturgia, mas, sim, a promoção do estado de leigo.
b) Quanto aos efeitos. Os novos ministérios recebem graças inferiores às das ordens menores. O acolitato e o leitorado, embora tenham incorporado as funções do subdiaconato, não tornam o ministro leigo um clérigo, isto é, uma pessoa sagrada, como era o caso do subdiácono, e nem lhe confere poderes diaconais, como o de benzer o pão e os frutos novos, como faziam os leitores no rito tradicional.
Portanto, é inequívoco que as ordens menores se diferem essencialmente dos ministérios laicais. As ordens menores conferiam poderes reais e permanentes aos ordenados, isto é, alguns poderes do diácono, enquanto que os atuais ministérios laicais são meras permissões para incentivar a participação ativa do leigo e que não transformam o status dele, isto é, não o tornam clérigo e nem lhe é atribuído qualquer poder especial típico das ordens sagradas, como o poder de abençoar.
Peter Kwasnieski, aqui, resume melhor:
"A conferência das ordens menores é mais do que uma mera delegação, mas menos do que uma ordenação sacramental no sentido pleno, que inscreve uma marca ou caráter indelével na alma. Se (como na opinião teológica mais comum) as ordens menores não conferem um caráter e não fazem parte do sacramento da ordem, mas são instituídas pela Igreja, elas devem ser classificadas como sacramentais. Isso parece estar de acordo com a definição de sacramentais dada no Código de 1917: “coisas ou ações que a Igreja usa em certa imitação dos sacramentos, a fim de, em virtude de suas orações, alcançar efeitos, acima de tudo de natureza espiritual”.
Especificamente, as cerimônias são bênçãos constitutivas que delegaram permanentemente as pessoas ao serviço divino, conferindo-lhes alguma identidade sagrada, pela qual assumem um novo e distinto relacionamento espiritual. Essas bênçãos dão direito aos seus destinatários a graças reais para o desempenho de seus ministérios, muito parecido com as graças sacramentais associadas à recepção dos sacramentos e semelhantes à bênção de um abade. Isso faz com que os homens em ordens menores sejam sacramentalia permanentia — tipos de objetos abençoados e consagrados! Por exemplo, a bênção de um rosário é um sacramental; o próprio rosário abençoado é um sacramental; o uso do rosário abençoado é um sacramental. Da mesma forma, podemos dizer que as cerimônias que conferem as ordens menores são sacramentais, as ordens menores são sacramentais e os exercícios de seus ofícios são sacramentais."
Pe. Louis Bacuez na obra "Minor Orders" ensina, por fim, que aqueles que recebem as orders menores recebem gradualmente os poderes do sacerdócio:
“Aquele que é investido com essas primeiras Ordens começa a ter uma parte nos poderes do grande Sumo Sacerdote.” (p. 160)
Assim, a substituição das ordens menores pelos ministérios laicais, em termos prudenciais, é altamente discutível, tendo em vista que os novos ministros recebem menos graças do que antes e se retira do Novus Ordo um importante monumento da Tradição. Igualmente discutível é a abertura feita pelo Papa Francisco do serviço do altar às mulheres, uma vez que o Magistério, em diversas ocasiões, ensinou que tais funções são inadequadas para o sexo feminino.
Certamente, Deus oferece graças aos ministros leigos para o cumprimento de suas funções, mas o sexo feminino, sendo inadequado para o ofício, traz elementos humanos que podem prejudicar a perfeição da Tradição.
Nesse sentido, pontuam os teólogos Joseph Willhelm e Thomas B. Scannell, na obra "A Manual of Catholic Theology", que os elementos humanos inseridos numa tradição eclesiástica podem eclipsar parcialmente verdades fundamentais da Tradição revelada:
"No entanto, deve-se admitir que o elemento humano modifica a perfeição da Tradição. Pode haver uma quebra em sua continuidade e universalidade. Um eclipse temporário e parcial da verdade é possível, assim como desenvolvimentos posteriores. É possível que por um tempo uma parte do Depósito não seja conhecida e reconhecida por toda a Igreja ou expressa e distintamente atestada pelos principais órgãos do Apostolado." (p. 71)
O primeiro eclipse da Tradição é o mais óbvio de todos: a defesa do diaconato feminino. Uma vez que a Igreja já não mais protege o diaconato com as ordens menores, a verdade do diaconato católico é a primeira a ser atacada. Atualmente, membros do alto clero da Igreja discutem se é possível ordenar sacramentalmente diaconisas. Não existiria essa discussão se o serviço do altar fosse realizado só por homens.
O próprio O Catequista advoga pelo serviço de mulheres no altar presumindo que diaconisas tinham poderes diaconais para servir o altar. Em outras palavras, o acolitato e o leitorado feminino acaba por ser uma defesa da diaconato feminino por procuração.
O segundo eclipse da Tradição é a impugnação ao sacerdócio católico. Meninas já não sabem porque não podem ser sacerdotisas, uma vez que não há diferenciação das funções litúrgicas em função do sexo.
O terceiro eclipse da Tradição é a ideologia de gênero. Não havendo funções litúrgicas segundo o sexo de cada pessoa, a ideologia de gênero torna-se verossímil e mais difícil de se combater.
O quarto eclipse da Tradição é o feminismo. O serviço feminino do altar promove uma perspectiva horizontalista dos papeis sexuais. Isso pode trazer profundas dificuldades no matrimônio, pois mulheres podem pensar que, uma vez que já fazem funções inadequadas para o seu sexo, agora elas podem fazer outras igualmente inapropriadas, como liderar seu marido ou não conhecê-lo como chefe da família.
Paremos por aqui. É patente que as inconveniências são muitas e a honestidade intelectual irá reconhecê-las.
Temos a tese inclusive que muito dos abusos litúrgicos que imperam sem controle no rito paulino ocorrem justamente em razão da ausência dos sacramentalia permanentia, isto é, de homens permanentemente consagrados e robustamente agraciados para o serviço divino. Mas isso é papo para outro dia.
O status do serviço feminino do altar
Viviane Varela buscou completar seu vídeo inicial com uma sequência de stories explicando melhor as supostas razões que teriam levado a Igreja ao abandono das diaconisas (que ela crê errôneamente que serviam no presbitério) e o consequente serviço feminino no altar. Viviane elenca duas razões:
1) Leis obsoletas de impureza ritual
Viviane de modo impreciso e sem nenhuma fonte afirma que "voltou com força na Idade Média uma distorção religiosa chamada impureza ritual".
Provavelmente, Viviane sequer fez uma pesquisa sobre o assunto e está literalmente chutando tudo o que fala.
Não há notícias de que no Ocidente mulheres fossem impedidas de acessar o altar em razão de leis de impureza ritual. Esta foi uma realidade abundantemente presente nas Igrejas Ortodoxas durante a Idade Média, mas não na Igreja latina. Tanto que essas leis levíticas de impureza ritual continuam até hoje em certas Igrejas ortodoxas, sendo o exemplo mais famoso a Igreja Ortodoxa Russa.
Segundo Christine Tracz, no artigo "Deaconess and Ritual Impurity", na Igreja Latina, a impureza ritual nunca foi levada a sério e foi exatamente por isso que as deaconisas não eram necessárias.
"No Ocidente, mesmo em grupos dualistas, não eram necessárias diaconisas nas paróquias. Isso foi positivo para as mulheres. As mulheres nas igrejas latinas podiam falar diretamente com o clero; nenhuma diaconisa era necessária como intermediária. As mulheres durante a menstruação ou a gravidez eram livres de adorar na igreja, pelo que não era necessária nenhuma diaconisa para levar a Eucaristia às mulheres grávidas nas suas casas. Na verdade, o Papa Gregório Magno ensinou que as mulheres menstruadas e as mulheres recém-partas podem frequentar a igreja e receber a Sagrada Comunhão, e explicou que as ações de Jesus (como no caso da Hemorrissa) tinham posto de lado as leis levíticas da impureza ritual. Também no Ocidente, enquanto o batismo de adultos era a norma, as batizadas eram assistidas por diversas mulheres cristãs, porque eram reconhecidas como qualificadas para preparar as batizadas na fé e para auxiliar no sacramento; novamente, nenhuma diaconisa foi necessária. Por exemplo, Gennadius de Marselha citou viúvas e freiras bem capazes aperto et sano sermone docere (para ensinar com um discurso claro e saudável), instruindo as mulheres para este sacramento." Embora os estudiosos modernos que desejam que as mulheres sejam ordenadas sugiram que a falta de diaconisas no Ocidente mostra uma restrição misógina às mulheres, o oposto é verdadeiro: as diaconisas evidentemente não eram necessárias no Ocidente devido ao reconhecimento adequado das capacidades das mulheres." (p. 195)
Viviane, portanto, ao pontuar que diaconisas foram extintas por causa de padres reaças e radicais que aderiam leis de impureza ritual, traz uma informação completamente fantasiosa. Na verdade, como atesta Catherine Tracz, foi a existência dessas leis levíticas que levaram ao crescimento das diaconisas:
"Uma característica comum de muitas cristologias heréticas é o dualismo cósmico, que implica a crença de que apenas o espiritual é bom e que a matéria é inerentemente má. Em seu foco na transcendência de Deus, esses grupos consideraram blasfêmia pensar que o divino de fato se tornaria humano. Muitos dos grupos que consideraram a Encarnação problemática também segregaram fortemente os sexos socialmente. Consequentemente, os sírios, coptas, paulinos, armênios e outros monofisitas tinham diaconisas. Manfred Hauke observou em 1982: “O aparecimento de diaconisas pressupõe, portanto, condições patriarcais”.
Nessas igrejas, as diaconisas prestavam serviços sociais às mulheres, como os diáconos faziam pelos homens. Lá as mulheres não tinham permissão para falar com um clérigo, mas poderiam falar com uma diaconisa que transmitiria suas preocupações. As mulheres grávidas eram proibidas de ir à igreja e, como indica a Didascalia, teria sido considerado escandaloso para um homem visitar suas casas. Portanto, uma diaconisa levaria a ela a comunhão."
Martimort em "Deaconess" resume tudo informando que, de maneira geral, as diaconisas somente surgiram na Igreja, mais precisamente nas igrejas orientais, unicamente para suprir as necessidades de outras mulheres. Elas não surgiram num contexto de serviço litúrgico geral.
"As diaconisas surgiram na Igreja em uma região do Oriente onde a separação estrita das mulheres exigia um ministério feminino específico para servir outras mulheres." (p. 44)
Martimort informa ainda que nem mesmo o auxílio que prestavam no batismo de mulheres podia ser considerado um serviço litúrgico:
"As diaconisas não participavam da liturgia. Na verdade, sua parte no rito do batismo em si era muito restrita; elas simplesmente completavam a unção iniciada pelo celebrante. Nem pronunciavam a invocação, ou epiclese. De forma alguma elas poderiam ser consideradas no mesmo nível que os diáconos: elas eram suas auxiliares." (p.43)
Pois bem. A evidência histórica é devastadora contra a posição Viviane. Contudo, ainda que concedêssemos que durante a Idade Média as leis de impureza ritual fossem influentes no Ocidente, isso não explicaria a proibição da Igreja do serviço feminino do altar antes da Idade Média e nem séculos depois dela, uma vez que a proibição de mulheres no serviço do altar permaneceu formalmente até o século XX. Ou seja, a proibição por razões sanitárias somente poderia ser apenas mais um motivo para impedir mulheres de servirem o altar, não o único.
2) Invasões bárbaras e queda do Império Romano.
"Nas paróquias ocidentais, várias mulheres realizavam o trabalho atribuído no Oriente às diaconisas. Os estudiosos examinaram diversos documentos, buscando evidências de diaconisas latinas. Em Roma, na África e na Espanha, faltam registros que listem todas as funções da Igreja. O Papa Cornélio citou vários papéis, desde padres até viúvas, incluindo exorcistas e carregadores, mas nenhuma diaconisa. Eles também estão ausentes das orações da Missa, listando todos os grupos dentro da Igreja pelos quais orar: "Oremus et pro omnibus episcopis, presbyteris, diaconibus, subdiaconibus, acolythis, exorcistis, lectoribus, ostiariis [porteiros], confessoribus, virginibus, viduis [viúvas) , et pro omni populo sancto Dei." Apenas em alguns mosteiros femininos existiam diaconisas, e elas não são atestadas antes da Idade Média."Martimort aduz que não há informação de diaconisas na Roma Ocidental durante os primeiros cinco séculos:
"Nas extremidades orientais do Império Romano, a instituição das diaconisas surgiu durante as primeiras décadas do século III e continuou a desenvolver-se de várias maneiras nas igrejas de língua grega e semítica. As igrejas de língua latina, porém, não experimentaram o mesmo desenvolvimento desta instituição, nem a igreja do Egito. Isto pode ter sido o resultado do fato de, tanto em Roma como em Alexandria, a Tradição Apostólica de Santo Hipólito de Roma ter permanecido o ideal para a organização eclesiástica. Observamos como este documento não previa lugar para qualquer ministério feminino. Mais do que isso, sem dúvida, a falta da instituição de diaconisas no Ocidente também foi o resultado do fato de tal ministério feminino não ser considerado necessário; até despertou suspeitas em alguns setores.No entanto, alguns historiadores ficaram tão convencidos da existência de diaconisas em toda a Igreja antiga que procuraram diligentemente qualquer evidência que apoiasse a sua tese - procuraram mesmo para além dos limites da probabilidade."
Observemos a informação do autor. Nas igrejas do Império Romano do Oriente as diaconisas surgiram por volta do século III e continuaram a se desenvolver, mas nas igrejas ocidentais elas não existiram. Portanto, não houve decréscimo de diaconisas ocidentais durante as invasões bárbaras (III a VIII d.C), porque não havia essa instituição no Ocidente.
Novamente, Viviane destila groselha.
Prossigamos.
Viviane conclui o raciocínio afirmando que esses dois fatores históricos que impediam o acesso das mulheres ao serviço do altar eram circunstanciais e caíram e com base nisso os Papas decidiram abrir espaço novamente para o serviço da mulher no altar.
Como de praxe, Viviane fala coisas inventadas da própria cabeça. Nem na Ministeria Quaedam tampouco na Spiritus Domini, os Papas indicam que tenham sido essas razões para abrir o serviço do altar às mulheres. O único que justificou essa abertura foi o Papa Francisco. Segundo o Pontífice:
"Uma prática consolidada na Igreja latina confirmou que tais ministérios laicais, baseando-se no Sacramento do Batismo, podem ser confiados a todos os fiéis que forem idôneos, de sexo masculino ou feminino, de acordo com quanto já é implicitamente previsto pelo cânone 230 § 2."
Em outras palavras, os ministérios laicais, por não estarem essencialmente ordenados às ordens sagradas e por serem meras permissões, podem admitir mulheres.
A justificativa do Papa apenas reforça o entendimento da diferença essencial entre as ordens menores e os ministérios laicais.
Sigamos.
"... Devo reservar um momento para enfatizar o fato de que os aspectos masculinos da Igreja não precisam ser desconcertantes para as mulheres. Afinal, as mulheres são capazes de apreciar as virtudes masculinas; elas tendem a ser heterossexuais. Muitas vezes são, de fato, portadores de virtudes masculinas, assim como os homens podem ter virtudes associadas ao feminino. O ponto dessas postagens não é sobre a exclusão das mulheres, mas a não exclusão dos homens. Faça a missa parecer uma noite de garotas, e os rapazes fugirão paras colinas. As mulheres são muito mais tolerantes com uma liturgia que parece um pouco masculina. Sua feminilidade não é ameaçada por isso; não pode, de fato, ser tão facilmente tirado delas. A masculinidade dos rapazes, ao contrário, não é garantida de forma alguma. Eles devem se separar do reino feminino se quiserem ser homens."
Em outras palavras, meninos não aprendem a ser homens com mulheres. Mulheres tendem a ter maior inteligência emocional e, em regra, não são boas em ensinarem homens a se guiarem de maneira objetiva. Por isso homens precisam de outros homens para agirem como tais. Por esta razão, no passado, as escolas seguiam o costume da separação dos alunos por sexo justamente para potencializar as virtudes próprias de meninos e meninas.
Outro ponto, é que Viviane quer justificar uma postura pastoral da Igreja com base na cultura da mulher carreirista. O problema é que essa cultura é altamente corrompida, como já explicamos em outros artigos deste blog. O carreirismo não é um desenvolvimento normal da feminilidade. Da mesma maneira, o serviço feminino do altar não é um desenvolvimento normal da liturgia.
"Novidade é aquilo que se opõe à tradição, já que a novidade por natureza suplanta ou contradiz a tradição. Novidade é ruim porque quebra a continuidade da tradição. Já que nossa salvação depende da tradição, a continuidade na tradição pela qual os meios de salvação são passados de geração em geração e para o maior número possível de pessoas é imperativa. Além disso, a continuidade da tradição garante que cada geração herdará a riqueza do patrimônio dos santos."
“Esta infalibilidade consiste em que a Igreja num juízo doutrinal nunca possa estabelecer uma lei universal, que seja contrária à fé, aos bons costumes e à salvação das almas…(no entanto) em lugar algum foi prometido à Igreja um sumo grau de prudência para promulgar as melhores leis para todos os tempos, lugares e circunstâncias.” (Theol. Dogm. Fundamentalis, n. 932.)
Embora não devamos crer que a Igreja habitualmente se engana em seus juízos prudenciais, como assinala a Donum Veritatis, é possível que a Igreja não tenha o melhor juízo em determinadas circunstâncias, principalmente quando a decisão prudencial é de um ou outro pontífice e que não segue a tradição consolidada da Igreja. Quando a decisão prudencial não se apoia na tradição sólida da Igreja falta-lhe um dos requisitos necessários à virtude da prudência, a saber, a memória do passado.
A introdução de mulheres ao serviço do altar enquadra-se exatamente nessa situação, visto que somente foi oficialmente autorizada pelo Papa Francisco, que não fez qualquer questão de harmonizar a posição de seus predecessores com a nova disciplina adotada. Sua decisão, portanto, está mais sujeita a equívocos prudenciais, sendo possível que num futuro próximo ela seja revertida.
Por outro lado, tomando o mesmo critério da Donum Veritatis, é impossível que o juízo constante da Igreja que condenou reiteradas vezes o serviço feminino do altar classificando-o como "desprezo das coisas divinas", "inadequado para o sexo feminino" e "prática maligna" ao longo de 2000 anos esteja errado ou não corresponda de nenhum modo à verdade.
Conclusão
Viviane ao afirmar que mulheres a serviço do altar não contraria a Tradição da Igreja, seja ela divina ou eclesiástica, simplesmente não fala a verdade. Como demonstramos, a prática foi energicamente condenada pelos Papas até o século XX, tendo em vista que o serviço masculino do altar sempre foi considerado uma Tradição divina pela Igreja.
Também constatamos que Viviane também não fala a verdade sobre as diaconisas. O panorama histórico é que diaconisas só cresceram no contexto onde existiam leis de impureza ritual ou para atender demandas especificamente femininas. Em todos os casos em que foram inseridas no serviço do altar, houve condenação dos Concílios e dos Papas. Viviane ao distorcer esses fatos históricos para defender o serviço feminino do altar está, sem sombras de dúvidas, defendendo o diaconato feminino por procuração.
Não é a primeira vez que Viviane fala um monte de bobagens, mas é assustador como sobre este assunto ela simplesmente se superou. Recentemente, ela reclamou do "machismo" que sofre de seus seguidores que a acusam de ser incapaz de falar de qualquer assunto. Viviane alega que sofre isso por ser mulher. Claro, não duvidamos da capacidade de Viviane de falar acertadamente em outros temas, mas, a respeito do assunto do nosso artigo, ela se mostrou absolutamente incompetente. Ela foi incapaz de fazer a menor apuração histórica dos papéis da diaconisa e da posição constante da Igreja sobre o serviço feminino do altar.
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