No artigo "Conservadores católicos se rendem à imodéstia", buscamos traçar um paralelo entre duas fases do catolicismo conservador no Brasil antes e depois da pandemia da COVID-19. Identificamos que o catolicismo brasileiro sofreu uma mudança significativa, entre elas o crescimento do que aqui chamamos de Feminismo Católico, tema corriqueiro em nosso blog.
O feminismo que aqui denominamos trata-se de um movimento cada vez mais crescente entre as católicas conservadoras que mina a doutrina da Igreja a respeito da hierarquia familiar, o trabalho da mulher, os filhos como fim primário do matrimônio e a modéstia no vestir. Não se trata de um feminismo explícito como o feminismo mundano, mas daquele tipicamente forjado pelo catolicismo liberal, isto é, que, aparamente, não rompe com a doutrina, porém a torna uma ideia que o católico pode facilmente relativizar ou dispor. Nas palavras do Pe. Augustin Roussel em sua obra "Liberalismo e Catolicismo":
"O "católico liberal"" separa o fim dos meios, a teoria da prática; pior ainda, ele os opõe até torná-los incompatíveis. Para ele, a "tese" é o "ideal" impossível, o absoluto quimérico, o abstrato irreal; a "hipótese" é o "possível", o concreto, o real. Tem ele a mania de certas oposições fantasiosas: do mesmo modo que contrapõe autoridade e liberdade, pretende de bom grado que os partidários da "tese" sejam incapazes de se dobrar à "hipotese", que os especulativos não possam ser práticos, não têm senso das realidades, que a intransigência doutrinal não poderia se aliar à prudência realizadora." (p. 114-115)
Esta mentalidade é corriqueiramente vista quando o tema é de modéstia. Moças raivosas porque não conseguem achar outra solução prática para a academia a não ser o uso de leggings. Ou ainda, moças que dizem que usar apenas saia ou vestido é necessariamente voltar a uma moda caricata do século XIX.
Pois bem, mas por que o feminismo cresceu tanto entre as católicas conservadoras?
Tendo como referência o período que o catolicismo conservador começou a migrar do conservador tradicional (2010-2019) para o conservador liberal, temos um esboço de resposta para o fenômeno: o Instagram.
Caraterísticas gerais do Instagram
Diversas pesquisas indicam que o uso do Instagram aumentou exponencialmente após o início da pandemia do coronavírus, o que coincide com a "virada de chave" das conservadoras católicas, que a partir de então tornaram-se progressivamente mais feministas.
Mas por que o Instagram teria provocado o fenômeno e não o Facebook, Twitter (X) e outras redes sociais? Para responder essa pergunta é necessário compreender as principais características do Instagram. Citemos algumas:
1) Ao contrário do Facebook e do Twitter, redes sociais focadas no texto, o Instagram é focado na imagem. Não apenas no compartilhamento de fotos, mas na divulgação de uma estilo de vida.
2) No Facebook, há possibilidade de criação de perfis, páginas e grupos (privados e públicos). No Instagram, somente há a possibilidade de criar perfis.
3) O Instagram é a principal ferramenta de divulgação de negócios onlines. Nele, não se "adiciona amigos", mas se "segue autoridades" de diversos ramos.
O Instagram, portanto, é uma rede social "narcisista", onde a pessoa vende a si mesma e seu estilo de vida para os outros. Por isso, ela é a rede social perfeita para a construção de autoridade em qualquer ramo.
Perigo para as mulheres
Diversos estudos apontam que o uso do Instagram tem sido a causa de depressão e ansiedade atingindo, em especial, as mulheres. Neste artigo da Joint Economic Commitee Republicans do Senado americano intitulado "Is Instagram Causing Poorer Mental Health Among Teen Girls?", nota-se que a depressão em jovens americanas é simplesmente descomunal quando comparada com os jovens do sexo masculino:
Segundo o artigo "Here’s How Instagram Harms Young Women According To Research" divulgado pela Forbes, o Instagram tem causado problemas, principalmente, com a autoestima da mulher.
A razão nos parece manifesta. As mulheres não buscam o Instagram como uma rede social normal, mas para encontrarem verdadeiros oráculos para guiarem suas vidas. Ademais, como esta rede social é voltada para a divulgação da imagem e de estilos de vida, a mulher tende a se comparar mais com outras que crê serem mais bem sucedidas, o que, muitas vezes, acaba afetando sua autoestima.
Perigo para as mulheres católicas
Contudo, apesar dos perigos psicológicos serem evidentes, reputamos que o maior perigo do Instagram seja de alimentar as piores tendências e tentações do sexo feminino. Citemos algumas:
1) Vaidade. O Instagram valoriza a divulgação da imagem da pessoa. Para as mulheres isso é tentador. Postar selfies todos os dias, fotos na academia, ganhar likes, interações, compartilhamentos, são típicos comportamentos da mulher que usa Instagram, atitudes estas que só tem por finalidade acalentar a estima pessoal.
A autoexposição desordenada, no entanto, é um dos principais obstáculos para se obter a virtude da modéstia. Não é à toa que o aumento do uso do Instagram pelas mulheres também coincidiu com a onda de moças católicas questionando padrões de modéstia que antes não duvidavam. Não se deve assim subestimar esta rede social neste ponto. Ela tem realmente o poder de mudar a psicologia da mulher na percepção de si mesma e alterar seu padrão de compartamento.
Se antes ela se contentava em vestir-se de modo feminino usando vestidos e praticando a devoção do véu, agora ela já odeia essas coisas e precisa se adequar às massas ou à moda para conseguir mais likes.
2) Masculinização. Como dissemos acima, o Instagram incentiva a construção de "autoridades". A rede social valoriza a autopromoção. No Facebook, a construção de autoridade é mais difícil, tendo em vista que há maiores mecanismos para o perfil ser contestado em suas ideias. No Instagram, não. A pessoa abre uma "caixinha de perguntas" e "doutrina" seus seguidores. Contudo, como pontuamos no artigo "Paul Fahey, feministo do "Where Peter Is", fala groselha sobre Efésios 5", não é adequado para as mulheres assumirem papéis de "doutrinadoras", "autoridades" ou de "guia das massas". O Instagram cria uma falsa sensação para as mulheres de que a sua posição no mundo é a de guiar massas de pessoas adultas. Em outras palavras, o Instagram masculiza as mulheres na medida que lhes incute o sentimento de que devem ser líderes ensinando como vida das pessoas deve ser.
Neste sentido, dizia São João Crisóstomo em seus "Comentários às Cartas de São Paulo":
"Não ensinem, mas coloquem-se na posição de discípulos; demonstrem submissão através do silêncio. O sexo feminino é um tanto loquaz e por isso Paulo sempre o reprime. “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, seduzida, caiu em transgressão.” Importa às mulheres de nosso tempo? Sim, assegura. O gênero masculino alcançou honra maior. O homem foi plasmado primeiro. Em outro lugar trata da primazia, dizendo: “O homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem” (1Cor 11,9). Por que o assevera? A fim de atribuir ao homem múltipla prevalência. Em primeiro lugar porque tem a primazia no tempo; segundo, pelos acontecimentos. Ela ensinou uma vez ao homem, tudo subverteu e tornou-o culpado de desobediência. Deus a submeteu, porque empregou mal o domínio, ou antes a igualdade.“Teu desejo te levará ao teu marido” (Gn 3,16). Anteriormente não fora dito. Adão não foi seduzido? Não teria desobedecido se não tivesse sido seduzido? Atenção! “E a mulher respondeu: a serpente me seduziu” (Gn 3,13). Adão não disse: A mulher me seduziu, mas: “A mulher me deu, e eu comi”. Não é o mesmo ser enganado por uma companheira, uma parente ou por um animal, um servo, submisso ao homem, o que constitui verdadeira sedução. Em comparação, portanto, com a mulher afirma-se que ele não foi seduzido, porque ela fora enganada por um súdito e subordinado e ele por uma mulher livre. Ainda relativamente a Adão não foi dito: “Viu que a árvore era boa ao apetite” (Gn 3,6), mas a respeito da mulher diz-se que comeu e deu ao marido. Por conseguinte, ele não prevaricou, vencido pela concupiscência, mas simplesmente obedeceu à mulher."
Em outras palavras, o Pecado Original entrou no mundo porque Eva liderou Adão.
Santo Tomás, na Suma Teológica, acrescenta que, em regra, mulheres não possuem sabedoria eminente para ensinar em público:
Dois usos pode ter a palavra. – Um privado, quando falamos familiarmente a um ou a poucos. E, então, as mulheres podem receber a graça da palavra. – Outro público, quando a palavra é dirigida a toda a Igreja. E isto não é permitido à mulher.
Primeiro e principalmente, pela condição do seu sexo, que a torna sujeita ao homem, como se lê na Escritura. Ora, ensinar e persuadir publicamente, na Igreja, não pertence aos súditos, mas aos superiores. Contudo, mais que a mulher, os homens dependentes de um superior o podem por delegação; porque a sujeição deles ao superior não se funda naturalmente no sexo, como se dá com as mulheres, mas nalgum acidente sobreveniente. – Segundo, para que não se desperte a concupiscência do homem, pois, diz a Escritura: A sua conversação se ateia como fogo. – Terceiro, porque geralmente as mulheres não têm sabedoria perfeita a ponto de convenientemente se lhes poder cometer o ensino em público. (S. Th. II-IIae, q. 177, a. 2, sol.)
Os ouvidos modernos nessas horas gritam de raiva, ódio e uma eventual leitora pode se indignar contra os Doutores da Igreja. Contudo, o que todos os Doutores querem simplesmente dizer é que a mulher possui uma inteligência mais emocional e por isso a arte da persuasão pública não lhes convém ou, em regra, induzirá as pessoas a muitos erros. Ter uma inteligência mais emocional, no entanto, não é um defeito. Como afirma o Pe. Chad Ripperger no vídeo "Feminism and Natural Order":
"Na Queda, Satanás foi atrás de Eva, porque as mulheres estão mais ordenadas à vida emocional. Isso não é uma desordem em si. [...] O que isso significa é que mulheres estão mais ordenadas às emoções, porque é necessário que elas sejam capazes de focar nos filhos, a fim de direcionar o desenvolvimento emocional e psicológico deles. Por exemplo, se um homem ficou responsável pelos filhos o tempo todo e um deles cai no chão, o homem, por causa da sua condição masculina de lidar com coisas difíceis, simplesmente vai ignorá-lo, para continuar a perseguir o que é certo. Quando ele vê a criança caída e arranhada, a maioria dos homens percebe intelectualmente que ela está bem, [...] mas não tem empatia. [...] Quando as crianças são mais novas, elas realmente têm necessidade da empatia da mãe que as faça reconhecer que isso que aconteceu foi uma coisa triste, mas, ao mesmo tempo, que as direcione para o fim certo." (7'10")
A inteligência emocional das mulheres, portanto, é um bem querido por Deus para o bom exercício da maternidade. Por outro lado, tendo em vista que as emoções afetam o julgamento racional, é que melhor que as mulheres sejam sempre conduzidas pelo homem ao invés de conduzirem. Por isso Deus também deseja que os homens assumam a responsabilidade pela liderança dos seus lares e da Igreja.
Pe. Chad Ripperger continua e afirma, assim como todos os Doutores da Igreja, que o pecado de Eva foi de tentar controlar Adão e sair da ordem natural estabelecida por Deus:
"Porque Eva rompeu sua submissão a Adão, ela agora e até o fim dos tempos teria essa desordem do pecado original de tentar se afastar de sua autoridade e até se ressentiria com ela. Essa desordem é o que o movimento feminista trabalha." (9'38")
Sendo assim, concluímos que o Instagram é uma péssima ferramenta para a mulher cultivar a virtude da docilidade, pois a todo instante ela precisa sustentar e ostentar uma posição de autoridade. No Instagram, as mulheres são incentivadas a serem líderes, o que é péssimo para a índole feminina.
Por isso tem aumentado a frequência de moças tradicionais que, à medida que usam o Instagram, vão se tornando progressivamente mais liberais e feministas.
3) Insubmissão. Por fim, o Instagram possibilita a mulher buscar várias "autoridades" sobre sua vida que não são a do seu marido e do seu diretor espiritual. Não é incomum, portanto, que o marido se surpreenda com mudanças repentinas de opiniões e pensamentos da mulher que utiliza o Instagram, já que ele precisa disputar sua autoridade com outras mulheres ou com outros homens. A falta de controle no uso Instagram pode gerar casamentos infelizes ou simplesmente estragá-los, se já iniciaram.
Esta é, sem dúvidas, uma das principais razões do crescimento do feminismo católico. A mulher tem buscado em outros homens e mulheres aquilo que deveria buscar no seu marido.
Remédios
A melhor medicina para esta situação é simplesmente não ter Instagram. A rede social traz mais malefícios que benefícios. Contudo, se isso não for possível, é recomendável que a mulher siga somente alguns poucos perfis, tenha horários para acessar a plataforma e nunca siga pessoas que contrariam o entendimento do marido, caso tenha, e do sacerdote que guia a família.
É necessário, ademais, que o marido ajude a esposa a regular o uso do Instagram, conhecendo os perfis seguidos, recomendando ou desaconselhando um ou outro, não permitindo jamais que a mulher comece a virar uma espécie de coach ou diretora espiritual dos seus seguidores.