sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Respostas às objeções mais comuns ao serviço exclusivamente masculino do altar.


Em nosso artigo anterior apresentamos uma refutação à defesa feita por Viviane Varela da página "O Catequista" a respeito da acolitagem feminina das missas. Na presente postagem responderemos às objeções mais comuns ao serviço exclusivamente masculino do altar.

Quanto ao discernimento vocacional

1. "O sacerdócio não exige o afastamento completo das mulheres, tal como a vocação religiosa. Assim, os rapazes devem se acostumar com mulheres no altar para aprenderem a lidar com o sexo oposto de maneira saudável." 

Esta objeção foi realizada pelo apologista católico Dave Armstrong e pode ser encontrada aqui. O argumento falha, contudo, em considerar que o serviço do altar não foi ordenado para ter interações próximas entre homens e mulheres.

Quando observamos a antiga tradição dos levitas, constamos que antes de servirem o Templo eles se abstinham de relações sexuais com suas esposas, para que suas mentes e corações estivessem completamente puros e livres de quaisquer pensamentos ou paixões contra a castidade durante o serviço divino (1 Sm 21, 5-6)

Esta prática, diz Bento XVI, em "Do profundo de nosso coração", inspirou o celibato cristão, que elevou o temporário celibato levita ao celibato permanente.

Portanto, o serviço do altar não foi feito para promover a interação entre os sexos, mas para diminuir esse intercâmbio.

Nesse sentido, a Igreja desenvolveu uma série de disciplinas, sem dúvidas inspiradas pelo Espírito Santo, que custodiavam a guarda dos olhos e a castidade do sacerdote e dos fiéis, tais como: a celebração versus Deum do sacrifício, o uso piedoso do véu, o serviço exclusivamente masculino do altar, a separação dos sexos durante a celebração do sacrifício e as rúbricas litúrgicas que orientavam o olhar do padre durante a Missa.

Infelizmente, no rito paulino, quase todas essas disposições foram removidas e os sacerdotes e os fiéis ficaram desprotegidos contra a imodéstia e a impureza. As desvantagens dessas remoções foram manifestas: imodéstia nas missas, revolta contra o ensino da Igreja a respeito da castidade, escândalos sexuais em profusão, entre outros.

Devemos dizer que o ambiente adequado para a interação entre sexos já existe e é a família. É nela que todos aprendem lidar com todos.

2. "O serviço feminino do altar ajuda as mulheres a discernirem sua vocação religiosa."

Este argumento logra ainda menos de força, pois a vida religiosa, como salienta Armstrong, exige uma forte separação dos sexos. Com efeito, a assistência mista do altar, ao invés de incentivar o discernimento religioso, ao contrário, atrapalha.

Ademais, a vida religiosa se define essencialmente pela profissão dos votos de pobreza, obediência e castidade, não sendo diretamente ordenada para o serviço do altar. O chamado a essa vocação sempre estará relacionado com a atração pelos votos, vida de oração e despreendimento do mundo, não sendo o exercício do serviço do altar um caminho ordinário de discernimento da vocação religiosa, ainda mais o serviço feminino cuja função é inadequada para as mulheres.

Nesse sentido, em nenhum dos grades escritos católicos de discernimento vocacional o serviço do altar é indicado como um sinal de vocação religiosa. A respeito, observa-se a lista do Pe. William Doyle, conhecido por ter escrito obras de discernimento vocacional, no livro "Vocations", que elenca 12 principais sinais de vocação religiosa:

"1. Um desejo de ter uma vocação religiosa, junto com a convição de que Deus está chamando você. Esse desejo é geralmente mais fortemente sentido quando a alma está calma, após a Sagrada Comunhão e em tempo de retiro.

2. Uma atração crescente pela oração e pelas coisas sagradas em geral, juntamente com um anseio por uma vida escondida e um desejo de estar mais intimamente unido a Deus.

3. Ter ódio do mundo, convicção de sua vacuidade e insuficiência para satisfazer a alma. Esse sentimento é geralmente mais forte em meio à diversão mundana.

4. Medo do pecado, no qual é fácil cair, e desejo de escapar dos perigos e tentações do mundo.

5. Às vezes é sinal de vocação quando uma pessoa teme que Deus possa chamá-la; quando ela reza para não tê-la e não consegue banir o pensamento de sua mente. Se a vocação for sólida, ela logo dará lugar a uma atração, por meio do Padre Lehmkulhl diz: “Não é preciso ter uma inclinação natural para a vida religiosa; pelo contrário, uma vocação divina é compatível com uma repugnância natural pelo estado.”

6. Ter zelo pelas almas. Perceber algo do valor de uma alma imortal e desejar cooperar em sua salvação.

7. Desejar dedicar toda a nossa vida para obter a conversão de alguém que nos é querido.

8. Desejar expiar nossos próprios pecados ou os dos outros e fugir das tentações às quais nos sentimos fracos demais para resistir.

9. Uma atração pelo estado de virgindade.

10. A felicidade que o pensamento da vida religiosa traz, suas ajudas espirituais, sua paz, mérito e recompensa.

11. Um desejo de sacrificar-se e abandonar tudo pelo amor de Jesus Cristo, e de sofrer por Ele.

12. A disposição de alguém que não tem dote ou muita educação de ser recebido em qualquer função é prova de uma vocação real."

Como se nota, o gosto pelo serviço do altar não se encontra entre os sinais preementes de vocação religiosa.

3. "Se o rapaz é chamado ao sacerdócio, não será a acolitagem feminina que irá impedi-lo".

Este argumento é dado novamente pelo apologista Dave Armstrong aqui:

"Eu tenho sustentado que se alguém tem um chamado, ele não será frustrado por meramente ser um coroinha ou não. Se um menino se sente levado a ser um coroinha, ele o fará, quer haja meninas ou não. Um chamado é muito mais profundo do que meros elementos externos e circunstanciais. Se pensarmos que depende deles, não acho que estamos compreendendo o que é uma vocação em primeiro lugar.

[...]

Como se passa de:

“Eu acredito [forte inclinação; não totalmente certo] que Deus está me chamando para ser padre”

para:

“Não tenho certeza se Deus ainda está me chamando”

só porque coroinhas mulheres estão servindo na paróquia de alguém?

Isso não faz sentido para mim. Deus está chamando uma pessoa para ser padre ou não. Se Ele está (da perspectiva de Deus) não tem absolutamente nenhuma relação com fatores externos como coroinhas, oposição na família, etc."

No entanto, o argumento também é falho. Armstrong presume que a vocação sacerdotal necessita de algum sentimento de confirmação interior do candidato. Contudo, a vocação sacerdotal, ao contrário da vocação religiosa, não exige qualquer inclinação ou atração por esse estado de vida, bastando a idoneidade e a reta intenção do candidato. É o que afirma a Santa Sé, como narra o Pe. Doyle no livro "Devo ser padre?":

"Grande ênfase foi colocada no fato de que, uma vez que uma vocação era um dom gratuito de Deus, um ato pelo qual Ele seleciona alguns em preferência a outros, essa escolha deve ser conhecida interiormente à alma tão favorecida; sem essa vocação interior, seria presunção e o cúmulo da tolice aspirar a tal dignidade, relembrando o aviso de São Paulo: “Ninguém toma para si a honra, senão aquele que é chamado por Deus, como Arão” (Heb. v.).

O resultado desse ensinamento impreciso, agora mostrado como totalmente contrário à mente da Igreja, foi que muitos rapazes, possuindo todas as qualificações para se tornarem padres esplêndidos, foram informados de que não tinham vocação, porque não tinham atração sensível pela vida, e até mesmo medo e pavor de suas obrigações.

[...] 

Uma comissão especial de cardeais, nomeada pelo Papa Pio X, tendo examinado a questão, aprovou totalmente o ensinamento do Cônego Lahitton sobre vocações sacerdotais, e seu julgamento foi formalmente sancionado pelo decreto de 2 de julho de 1912. Deste decreto da Santa Sé agora é certo:

(a) Que uma vocação ao sacerdócio não inclui necessariamente qualquer inclinação interior da pessoa ou inspiração do Espírito Santo;

(b) Que tudo o que é exigido dos aspirantes à Ordenação é “uma intenção correta, e tal aptidão de natureza e graça, como evidenciado na integridade de vida e suficiência de aprendizado, que dará uma esperança bem fundada de seu cumprimento correto das obrigações do sacerdócio.”

(c) Que, dadas essas condições, uma verdadeira vocação é inquestionavelmente conferida pelo Bispo no momento da Ordenação.

Sendo assim, podendo existir até mesmo certo medo do candidato, é mais que necessário que a vocação sacerdotal seja incentivada pela Igreja. E o método da Igreja mais tradicional e eficaz de incentivar e de quebrar todas as resistências psicológicas dos rapazes sempre foi o serviço exclusivamente masculino do altar.

Por fim, a objeção ignora que o discernimento e a escolha vocacional são sempre precedidos de uma boa preparação removendo-se todos os obstáculos possíveis, já que obstáculos, como o próprio nome sugere, apenas atrapalham o bom discernimento.

4. "As vocações estão aumentando. Não há porque temer o acolitato feminino."

Este argumento foi replicado por Viviane Varela em sua sequência de stories para justificar o acolitato feminino, que rebatemos no artigo "As grandes bobagens de Viviane Varela (O Catequista) sobre as diaconisas e o serviço feminino do altar".

O argumento, no entanto, é fantasioso. Viviane Varela não apresenta qualquer dado a respeito, mas apenas a sua impressão pessoal da sua realidade paroquial. Contudo, os fatos refutam Viviane. No anuário estatístico da Igreja de 2021-2022, período que houve a abertura às mulheres ao acolitato e leitorado instituídos, embora tenha crescido, em geral, o número de católicos, diminuiu o número de seminaristas e religiosos, como informa a  ACI Digital:

"Segundo dados de 2021, há 109.895 seminaristas, dos quais 61% são seminaristas diocesanos e os 39% restantes são religiosos. Em comparação com 2020, eles caíram 1,8%."

Nos anos anteriores, a realidade não foi muito diferente. Aumento de católicos, diminuição de vocações.

O aumento de católicos não surpreende. Apostolados aumentaram ao redor do mundo, principalmente nos EUA e na América Latina, o que tem auxiliado na conversão de leigos. Contudo, a vidas religiosa e sacerdotal continuam num vale de lágrimas. Não há qualquer atrativo atual nessas vocações. E não existe por hora qualquer indicativo de que essa situação irá melhorar.

Quanto à adequação pastoral

5. "O acolitato feminino é baseado na dignidade batismal do leigo. Assim, não há porque considerar mulheres indignas do serviço do altar."

Esta razão é um pouco mais substancial que as objeções anteriores, tendo em vista o apelo teológico ao sacerdócio comum dos fiéis. No entanto, ela falha em fazer uma importante distinção que mostraremos a seguir.

Boa parte dos fatos teológicos não existem em razão de alguma necessidade lógica. Por exemplo, a redenção do gênero humano não tinha por necessidade a morte de Cristo. Contudo, o consenso dos Santos Padres e dos Santos Doutores da Igreja era que a Paixão de Cristo foi um meio muito conveniente para Deus salvar a humanidade. 

Nesse sentido, quando verificamos a distinção entre sacerdócio comum e sacerdócio ministerial, constamos alguns atos do ministério ordenado que podem ser delegados para alguns leigos, como a distribuição da Eucaristia por um batizado ao invés de um não-batizado. Todavia, não há qualquer dúvida razoável de que a distribuição das espécies é um ato de dignidade sacerdotal, dado que as mãos do sacerdote foram consagradas para tocar o Corpo de Cristo, como aduz São Tomás:

"A distribuição do corpo de Cristo pertence ao sacerdote por três razões. Primeiro, porque, como foi dito acima ( Artigo 1 ), ele consagra como na pessoa de Cristo. Mas como Cristo consagrou Seu corpo na ceia, assim também Ele o deu a outros para serem partilhados por eles. Consequentemente, como a consagração do corpo de Cristo pertence ao sacerdote, assim também a distribuição pertence a ele. Segundo, porque o sacerdote é o intermediário designado entre Deus e o povo; portanto, como lhe pertence oferecer os dons do povo a Deus, assim também lhe pertence entregar os dons consagrados ao povo. Terceiro, porque por reverência a este sacramento, nada o toca, exceto o que é consagrado; portanto, o corporal e o cálice são consagrados , e da mesma forma as mãos do sacerdote, por tocarem neste sacramento. Portanto, não é lícito a ninguém mais tocá-lo, exceto por necessidade, por exemplo, se cair no chão, ou em algum outro caso de urgência." (S. Th., III pars, q. 82. a. 3)

Notemos que um não-consagrado é o último da fila para tocar o Corpo de Cristo, pois, ainda que tenha dignidade batistmal, há uma ordem de dignidades para certas funções e o simples batismo não confere ao leigo o direito de exercer prerrogativas sacerdotais sem uma causa justa ou grave.

Como demonstramos no artigo "As grandes bobagens de Viviane Varela (O Catequista) sobre as diaconisas e o serviço feminino do altar", embora a função de acólito possa ser desempenhada por um leigo, o serviço do altar não é uma função de leigo, mas de quem integra as ordens sagradas. Assim, a Igreja teve a sabedoria de sempre por o sexo masculino no serviço do altar, pois, quando não fosse possível o serviço por um diácono, se conservava melhor a dignidade das ordens sacras, já que ainda se preservava certa adequação e verossimilhança.

O sexo feminino, no entanto, não se mostra adequado de nenhum modo, tendo em vista que é vedada pela doutrina da Igreja a ascensão de mulheres ao diaconato e ao presbiterato, não guardando qualquer verossimilhança.

Não sem razão que o Papa São Gelásio nomeou o serviço feminino como um certo desprezo às coisas divinas, visto que não conservava a ordem de dignidades para o culto divino.

6. "O acolitato feminino permitirá uma melhor distinção entre as ordens sacras e as ordens não-sacras."

Este argumento foi fornecido pelo Papa Francisco na carta que acompanhava o motu proprio Spiritus Domini ao Prefeito do Discatério para a Doutrina da Fé.

"Desta forma, além de responder ao que é pedido para a missão no tempo presente e de acolher o testemunho dado por tantas mulheres que cuidaram e continuam a cuidar do serviço da Palavra e do Altar, tornar-se-á mais evidente — também para aqueles que se orientam para o ministério ordenado — que os ministérios do Leitor e do Acólito estão enraizados no sacramento do Batismo e da Confirmação. Deste modo, no caminho que conduz à ordenação diaconal e sacerdotal, aqueles que são instituídos Leitores e Acólitos compreenderão melhor que participam num ministério partilhado com outros batizados, homens e mulheres. Deste modo, o sacerdócio próprio de cada fiel (commune sacerdotium) e o sacerdócio dos ministros ordenados (sacerdotium ministeriale seu hierarquicum) serão  ordenados ainda mais claramente uns para os outros (cf. LG , n. 10), para a edificação da Igreja e para o testemunho do Evangelho."

Com todo o respeito filial que temos ao Santo Padre, mas as razões suscitadas não parecem se sustentar. Ponderemos com as seguintes observações:

1. As funções de ler as lições e de servir ao altar não estão enraizadas em si mesmas no sacramento do Batismo e da Confirmação, mas no da Ordem. O que, talvez, o Santo Padre queira dizer é que o exercício delegado dessas funções esteja enraizado no batismo e na confirmação, não o exercício do altar em si mesmo. Portanto, faltou ao texto esta distinção;

2. Depois de 50 anos de Reforma Litúrgica é impossível sustentar que a ordenação do sacerdócio comum para o sacerdócio ministerial ficou mais clara com a invasão de mulheres no altar. Na verdade, a prática mostra o contrário. Cada vez é mais comum a impugnação do sacerdócio e do diaconato exclusivamente masculino. Ora, na disposição anterior, isto é, com o serviço exclusivamente masculino, era possível entender quais funções realizadas por leigos eram ordenadas às Ordens Sagradas e quais não eram, pois as ordens menores claramente eram fases preparatórias para as Ordens Sacras, o que era adequado somente aos homens. Já a prática atual predominante em toda a Igreja traz confusão. Todos fazem tudo e se obscurece a razão das mulheres serem excluídas do diaconato. Deve-se lembrar que a ordem de uma coisa para outra se observa quando uma, de certo modo, tenciona à outra como fim. Com efeito, se mulheres não estão ordenadas às ordens sacras, fica incompreensível entender de que o modo o sacerdócio comum tenciona ao sacerdócio ministerial com o serviço feminino do altar.

 6. "O acolitato feminino ajudará a incluir cada vez mais as mulheres na Igreja."

Esta razão foi dada novamente dada pelo Papa Francisco na carta que acompanhava a "Spiritus Domini".

"O compromisso dos fiéis leigos, que «são simplesmente a imensa maioria do povo de Deus» (Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 102), certamente não pode e não deve esgotar-se no exercício dos ministérios não ordenados (cf. ibidem), mas uma melhor configuração destes ministérios e uma referência mais precisa à responsabilidade que nasce, para cada cristão, do Batismo e da Confirmação, pode ajudar a Igreja a redescobrir o sentido de comunhão que a carateriza e a iniciar um renovado compromisso na catequese e na celebração da fé (cf. ibidem ). E é precisamente nesta redescoberta que a sinergia frutuosa resultante da ordenação mútua do sacerdócio ordenado e do sacerdócio batismal pode encontrar uma melhor tradução. Esta reciprocidade, do serviço ao sacramento do altar, é chamada a refluir, na distinção das tarefas, para aquele serviço de «fazer de Cristo o coração do mundo», que é a missão particular de toda a Igreja. É precisamente este, embora distinto, serviço ao mundo que alarga os horizontes da missão da Igreja, impedindo-a de ser encerrada em lógicas estéreis destinadas sobretudo a reivindicar espaços de poder, e ajudando-a a experimentar-se como uma comunidade espiritual que «caminha juntamente com toda a humanidade, participa da mesma sorte terrena do mundo» (GS , n. 40). É nesta dinâmica que podemos verdadeiramente compreender o significado da “Igreja em saída”.

No horizonte de renovação traçado pelo Concílio Vaticano II, existe hoje um crescente sentido de urgência em redescobrir a corresponsabilidade de todos os batizados na Igreja, e especialmente a missão dos leigos. A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica (6-27 de outubro de 2019), no quinto capítulo do documento final assinalou a necessidade de pensar em “novos caminhos para a ministerialidade eclesial”. Não só para a Igreja Amazónica, mas para toda a Igreja, na variedade de situações, «é urgente promover e conferir ministérios a homens e mulheres... É a Igreja dos batizados que devemos consolidar promovendo a ministerialidade e, sobretudo, uma consciência da dignidade batismal» (Documento Final, n. 95).

[...]

Uma distinção mais clara entre as atribuições dos que hoje são chamados “ministérios não ordenados (ou laicais)” e “ministérios ordenados” torna possível dissolver a reserva dos primeiros apenas aos homens. Se em relação aos ministérios ordenados a Igreja «não tem de modo algum a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres» (cf. S. João Paulo II, Carta Apostólica Ordinatio sacerdotalis, 22 de maio de 1994), para ministérios não ordenados é possível, e hoje parece oportuno, superar esta reserva. Esta reserva fazia sentido num contexto particular, mas pode ser reconsiderada em novos contextos, tendo sempre como critério a fidelidade ao mandato de Cristo e o desejo de viver e proclamar o Evangelho transmitido pelos Apóstolos e confiado à Igreja para que possa ser escutado de forma religiosa, guardado de forma santa e fielmente anunciado.

[...] 

 A decisão de conferir estes ofícios, que implicam estabilidade, reconhecimento público e um mandato do bispo, também às mulheres, torna  mais eficaz na Igreja a participação de todos na obra de evangelização. «Isto também permite que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na liderança das comunidades, mas sem deixar de o fazer com o estilo próprio da sua marca feminina» (Francisco, Exortação Apostólica Querida Amazonia, n. 103). O “sacerdócio batismal” e o “serviço à comunidade” representam assim os dois pilares sobre os quais se baseia a instituição dos ministérios."

Causa estranheza esta argumentação do Papa Francisco. Ao mesmo tempo em que afirma que a Igreja não pode ser "encerrada em lógicas estéreis destinadas sobretudo a reivindicar espaços de poder" ele diz que o ministério do Acolitato e do Leitorado foram conferidos às mulheres para que "elas tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na liderança das comunidades". Em outras palavras, a razão pastoral para se abrir tais funções às mulheres é justamente a lógica que se diz combater, isto é, a lógica da reinvidicação de poder.

Infelizmente, parece que subjaz no âmago dessa argumentação a suposição da teoria marxista da luta de classes dentro da Igreja. Sabemos que o Papa Francisco tem simpatia pela Teologia da Libertação e não é nada improvável que várias das suas perspectivas pastorais estejam embuídas do espírito dessa teologia.

Não negamos que alguma luta de classes possa ter existido dentro da Igreja, mas certamente as ordens menores não fizeram parte disso. A lógica pastoral da Igreja até o século XX era exclusivamente adequar os meios aos fins, isto é, preservar as Ordens Sacras e incentivar as vocações com o serviço exclusivamente masculino do altar. Não havia nenhuma "lógica estéril" ou de poder nisso.

Se a ideia é abrir espaço para as mulheres, não é preciso conferir serviço próprios das Ordens Sacras. Basta recorrer às pastorais tradicionais que, em regra, são muito melhores e mais saudáveis que as atuais. Na Igreja Antiga, as viúvas e as virgens consagradas davam catequese às outras mulheres e ajudavam no trabalho caritativo. Nada impede que as mulheres hoje façam o mesmo.

Por fim, a carta indica que atualmente parece oportuno (deixando claro que se trata de um juízo prudencial e não doutrinal) superar a reserva de que o serviço do altar se destine exclusivamente ao sexo masculino. Contudo, Papa Francisco não deixa claro a razão de superar essa reserva. Fica a coisa no ar. "Podemos superar porque sim".

Quanto à Indefectibilidade da Igreja

7. "O serviço de mulheres não pode ser um mal à Igreja, visto que as leis disciplinares da Igreja não podem impelir os fiéis ao pecado."

Primeiramente, negamos a universalidade de Spiritus Domini. O motu proprio não obriga os bispos a adotarem mulheres acólitas, apenas faculta. Spiritus Domini também sequer vincula todos os ritos, uma vez que no Rito Romano Tradicional e em diversos ritos orientais o serviço feminino continua proibido, não sendo realmente uma lei universal.

Em segundo lugar, concordamos que as leis disciplinares da Igreja não podem impelir os fiéis ao pecado. Contudo, elas podem conter elementos humanos que obscurecem a Tradição e concorrem para novos problemas. Já explicamos esse tópico em nosso artigo anterior.

Os elementos humanos, neste caso, seriam a falta de prudência da lei. A Igreja, hoje, ao fazer a delegação universal do serviço do altar a qualquer leigo, parece desistir da adequação entre meios e fins para o aperfeiçoamento do culto divino. O que era feito na boa teologia tomista apenas em caso de necessidade, agora tornou-se regra geral. Diversos exemplos dessa desistência geral podem ser dados: a substituição do latim pelo vernáculo e o consequente fim do canto gregoriano, a comunhão na mão, a orientação versus populum, etc. São práticas que, infelizmente, atraíram o desprezo pela excelência do culto divino.

A situação da Igreja lembra analogamente a de Oza, levita encarregado por Davi de levar a Arca da Aliança a Jerusalém. Narram as Sagradas Escrituras que Oza foi morto quando tentou salvar com suas próprias mãos a Arca, que caía da carroça que era levada:

"Colocaram a arca de Deus em um carro no­vo e levaram-na da casa de Abinadab, situada na colina. Oza e Aio, filhos de Abinadab conduziram o carro novo. Oza andava junto da arca de Deus e Aio marchava diante dela. Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor e cantavam acompanhados de harpa, cítaras, tamborins, sistros e címbalos. Quando chegaram à eira de Nacon, Oza estendeu a mão para a arca do Senhor e susteve-a, porque os bois tinham escorregado. Então a cólera do Senhor se inflamou contra Oza; feriu-o Deus por causa de sua imprudência e Oza morreu ali mesmo, perto da arca de Deus." (II Sm 6, 3-7)

Boa parte dos autores católicos buscaram explicar porque Deus castigou Oza com tamanha severidade sendo que ele apenas buscava salvar a Arca da Aliança com toda reta intenção. A explicação comum que Oza não foi morto apenas porque tocou na Arca com as mãos, mas também porque negligenciou a Tradição de como a Arca devia ser conduzida. Primeiramente, a Arca devia ser carregada nos ombros dos levitas, mas estava sendo levada por uma carroça. É muito provável que Oza se amparava no exemplo dos filiteus quando estes devolveram a Arca da Aliança aos hebreus (I Sm 6, 10). Os filiteus, que haviam roubado a Arca, após sofrerem muitos males pelo furto, a devolveram em uma carroça e nada aconteceu a eles. Contudo, esqueceu-se Oza que os filisteus eram pagãos e as leis divinas não os vinculavam. Assim Oza buscando "adaptar-se aos costumes pagãos" deu duplamente um tratamento inadequado à Arca, primeiro transportando-a de modo inadequado e depois buscando corrigir o problema com outro erro ainda maior.

A Igreja, nos últimos 60 anos, busca uma adaptação ao homem moderno e nesse encalço tem abandonado diversos monumentos da Tradição. Assim, quando as pastorais novas se mostram falhas, os problemas oriundos disso se acumulam. O canto sacro desapareceu das paróquias, a reverência com o Sacramento igualmente e há uma revolta generalizada contra as Ordens Sacras, dado o feminismo crescente entre as mulheres católicas. As autoridades da Igreja, contudo, ao invés de agirem como Davi agiu, isto é, com prudência sobrenatural buscando imediamente corrigir o erro apelando à Tradição, aprofundam o problema com razões até bem intencionadas, mas que, no fundo, são erros ainda piores. O castigo divino disso são abusos litúrgicos absolutamente fora de controle no Novus Ordo.

Notemos, nesse sentido, que a justificativa tradicional para o serviço exclusivamente masculino do altar é assegurar vocações para a Igreja e aperfeiçoar o culto divino, enquanto que a justificativa atual para liberar o acolitato ao sexo feminino não é a nobreza ou o aperfeiçoamento do culto divino, mas o apelo democrático de que mulheres precisam ter novas instâncias de poder e de liderança. O apelo à nobreza ou ao aperfeiçoamento do culto divino simplesmente não é dado ou é secundário. Deus não deixará isso impune.

Ademais, toda essa linguagem de poder é inadequada às mulheres, visto que a Igreja é um patriarcado, porque Cristo quis assim. É claro que este patriarcado não é despótico, mas político. No entanto, as funções de cada um devem ser adequadas. O serviço do altar por mulheres é o equivalente a mulher sustentar o homem dentro da família. Isso pode acontecer, mas apenas a título de necessidade, não como uma regra ou costume geral.

8. "A Igreja não pode errar habitualmente em seus juízos prudenciais. É temerário, portanto, afirmar que uma prática autorizada por 3 papas (SJPII, BXVI e Papa Francisco) seja um erro prudencial."

Concordamos com que o argumento de que a Igreja não pode errar habitualmente em seus juízos prudenciais. Isto é ensinado pelo documento Donum Veritatis:

"Neste âmbito, de intervenções de tipo prudencial, aconteceu que alguns documentos magisteriais não fossem isentos de carências. Os Pastores nem sempre colheram prontamente todos os aspectos ou toda a complexidade de uma questão. Mas seria contrário à verdade se, a partir de alguns casos determinados, se inferisse que o Magistério da Igreja possa enganar-se habitualmente nos seus juízos prudenciais, ou não goze da assistência divina no exercício integral da sua missão." (n. 24)

Por isso mesmo não podemos concordar que o juízo da Igreja de pelo menos 2000 anos da inadequação do serviço do altar pelo sexo feminino seja falso ou inseguro. Por outro lado, o acolitato feminino é uma experiência recente o suficiente, isto é, cerca de 30 anos, para afirmarmos que possa ser uma carência prudencial. A Igreja não limita o tempo e nem o número de pastores que pode emitir juízos prudenciais equivocados, mas sabemos que ele não pode ser de um tipo que dure praticamente a história da Igreja inteira, o que equivaleria a negar a assistência do Espírito Santo.

Este argumento ao invés de prejudicar o argumento a favor da exclusividade do serviço masculino apenas o favorece.

Neste ponto, Viviane Varela, que diz como uma feminista que "vai ter menina no altar, sim", e outros conservadores cometem o erro do "positivismo magisterialista". Pe. Chad Ripperger, em "Topics on Tradition", chama de "positivismo magisterialista" a postura dos católicos e das autoridades eclesiásticas que ignoram a posição prévia do Magistério a respeito de um tema e sequer tentam articular a nova posição com a antiga:

"Magisterialismo é uma fixação nos ensinamentos que pertencem apenas aos membros atuais do Magistério. Como a tradição extrínseca foi subvertida e como o Vaticano tende a promulgar documentos que exibem uma falta de preocupação com relação a alguns dos atos magisteriais anteriores, muitos começaram a ignorar os atos magisteriais anteriores e ouvir apenas o magistério atual.

Este problema é exacerbado por nossas atuais condições históricas. À medida que a comunidade intelectual teológica começou a se desfazer antes, durante e depois do Vaticano II, aqueles que se consideravam ortodoxos eram aqueles que eram obedientes e intelectualmente submissos ao magistério, já que aqueles que discordam não são ortodoxos. Portanto, o padrão de ortodoxia foi deslocado da Escritura, tradição intrínseca (da qual o magistério é parte) e tradição extrínseca (que inclui atos magisteriais do passado, como o Syllabus de Erros de Pio IX), para um estado psicológico no qual apenas o magistério atual é seguido."

O resultado disso, diz Pe. Ripperger, é a amnésia coletiva e a suspeita mútua:

À medida que o positivismo e o magistério cresceram e a tradição extrínseca não permaneceu mais como norma para julgar o que deveria e o que não deveria ser feito, os neoconservadores aceitaram a noção de que a Igreja deve se adaptar ao mundo moderno. Em vez de ajudar o mundo moderno a se adaptar aos ensinamentos da Igreja, ocorreu o processo inverso. Isso levou os neoconservadores a se preocuparem excessivamente com questões seculares politicamente corretas. Em vez de ter uma certa desconfiança do mundo que Cristo nos exorta a ter, muitos padres só ensinarão algo do púlpito, desde que não cause problemas. Por exemplo, quantos padres estão dispostos a pregar contra o feminismo antiescriturístico? O fato é que eles adotaram uma maneira imanentizada de olhar para o que deve ser feito, muitas vezes de um ponto de vista emocional. E isso, juntamente com a correção política, incapacitou as autoridades eclesiásticas diante do mundo e dentro da própria Igreja, onde o processo de imanentização, com sua compreensão falha da natureza do homem e sua condição de trabalhar sob o Pecado Original, minou severamente a disciplina. Mesmo aqueles que tentam ser ortodoxos se acostumaram a normas disciplinares mais brandas, que se encaixam bem na natureza caída, resultando em uma falta de desapego da maneira atual de fazer as coisas e uma consequente relutância dos neoconservadores em exercer autoridade - precisamente porque eles não têm o desapego vital necessário para fazê-lo.
Tudo o que foi dito acima resultou na rejeição dos neoconservadores da tradição extrínseca como norma. É por isso que, mesmo em "bons" seminários, o patrimônio espiritual dos santos praticamente nunca é ensinado. Além disso, isso explica por que os neoconservadores parecem confusos sobre o real significado da tradição. Como não é um princípio de julgamento para eles, eles são incapazes de discuti-la em profundidade. Na verdade, eles ignoram a tradição extrínseca quase tanto quanto os "liberais". Mesmo quando os neoconservadores expressam o desejo de recuperar e seguir a tradição extrínseca, eles raramente o fazem quando se trata de tomar decisões concretas.

 [...]

Essa mudança fundamental de perspectiva deixou os tradicionalistas com a sensação de que estão lutando pelo bem da tradição extrínseca sem a ajuda e muitas vezes impedidos pelo magistério atual. Liturgicamente, os tradicionalistas julgam o Novus Ordo à luz da Missa de Pio V e os neoconservadores julgam a Missa Tridentina, como é chamada, à luz do Novus Ordo. Isso vem do hegelianismo que sustenta que o passado é sempre compreendido à luz do presente, ou seja, a tese e a antítese são entendidas à luz de sua síntese. Isso leva a uma mentalidade de que o mais novo é sempre melhor, porque a síntese é melhor do que a tese ou a antítese tomadas isoladamente. Sendo afetados por isso, os neoconservadores muitas vezes assumem ou são incapazes de imaginar que a disciplina atual da Igreja pode não ser tão boa quanto a disciplina anterior. Existe hoje uma mentalidade que sustenta que "porque está presente (hegelianismo), porque vem de nós (imanentismo), é necessariamente melhor".

[...] 

 O domínio do hegelianismo e do imanentismo também levou a uma forma de amnésia eclesiástica coletiva. Durante o início dos anos 1960, existia uma geração que recebeu toda a tradição eclesiástica, pois a tradição ainda estava sendo vivida. No entanto, porque eles trabalharam sob os erros acima mencionados, essa geração escolheu não passar a tradição eclesiástica para a geração subsequente como algo vivo. Consequentemente, em uma geração, a tradição extrínseca praticamente morreu. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, a formação em seminário e universidade na Igreja Católica excluía aquelas coisas que pertenciam à tradição eclesiástica. Uma vez que a geração anterior escolheu esse curso, não lembrar e ensinar as coisas do passado, isso nunca foi passado adiante e, portanto, aqueles que eles treinaram, ou seja, a geração atual, foram consignados a sofrer ignorância coletiva sobre seu patrimônio e herança."

Pe. Ripperger sintetiza com brilhantismo o pensamento católico conservador atual ou o "opusdeísmo cultural". O conservador católico médio despreza a tradição extrínseca da Igreja. Basta observar as razões suscitadas por Viviane Varela para explicar o porquê antigamente mulheres eram excluídas do altar. Nenhuma justificação doutrinária ou espiritiual é levantada, apenas motivações machistas e de ignorância. O conservador médio nunca tenta salvar a Tradição mostrando a nobreza dela ou articulá-la com a disciplina atual, mas sempre defende a atual disciplina contrapondo um cenário anterior como se fosse um estado de coisas indefensável. Viviane em sua defesa do acolitato feminino chega dizer que um cenário em que somente homens servem no altar "não volta mais" (Não volta mais por que, Viviane? Muitos hábitos na Igreja voltaram). Este tipo de frase é comum ao conservador hegeliano, principalmente quando se trata de uma conservadora feminista, pois, para ele, é inconcebível voltar de verdade à Tradição.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

As grandes bobagens de Viviane Varela (O Catequista) sobre as diaconisas e o serviço feminino do altar


A página O Catequista, conhecida pelo seu progressismo, atacou novamente. Desta vez, por meio de sua administradora Viviane Varela, que tem se notabilizado por aderir ao feminismo católico, a página veio justificar o uso de acólitas na celebração da Santa Missa.


O que foi mais notável, porém, foram as inumeráveis afirmações históricas falsas feitas por Viviane para defender o acolitato feminino. Vamos a elas.

Viviane busca responder uma pergunta da caixinha do Instagram que fazia o seguinte questionamento:


Viviane primeiro faz a distinção entre "Tradição" com "T" maiúsculo e "tradição" com "t" minúsculo e responde que a "Tradição" nunca proibiu. Em seguida afirma que na Igreja Primitiva as mulheres participavam do serviço do presbitério exercendo um papel litúrgico, como a unção do óleo do batismo nas mulheres, que eram batizadas nuas.

A primeira coisa que se nota é a imprecisão de Viviane a respeito do serviço feminino no batismo no presbitério. Não há evidências robustas de que os batismos antigos eram realizados no presbitério. Na verdade, as principais piscinais batismais dos primeiros séculos que hoje temos evidência encontravam-se em construções separadas das igrejas e eram chamadas de batistérios, como informa Tribe Shawn em artigo para a Liturgical Arts Journal:
"Nos tempos antigos, pelo menos para igrejas maiores, frequentemente se via um edifício separado como batistério. Pode-se pensar aqui no batistério da basílica de Latrão, localizado no edifício octogonal do século III atrás da basílica propriamente dita. Fora do duomo de Florença e Pisa, também se pode ver batistérios de formato semelhante."
O mesmo é atestado por Catherine Brown Tracz aqui:
"Na maior parte da Igreja, portanto, uma solução veio naturalmente quando um problema pastoral surgiu com o batismo. Inicialmente, o batismo era de adultos nus. Como a Igreja poderia salvaguardar a modéstia das mulheres sendo batizadas e dos homens que as batizavam? Parte da resposta foi construir batistérios com cortinas, uma com uma abertura pela qual o padre ou diácono pudesse alcançar para colocar sua mão na cabeça da mulher batizada e pronunciar a fórmula batismal." (p. 190)
Seguem algumas imagens desses batistérios:

Batistério de Latrão


Batistério de Pisa

Mesmo na Tradição das Igrejas orientais a evidência de mulheres no santuário é escassa. Pe. Aimé Georges Martimort, que realizou o principal estudo do século XX sobre diaconisas em seu livro "Deaconess: An Historical Study", afirma que, no rito bizantino, as diaconisas jamais tiveram acesso ao santuário:
"Em nenhum momento as diaconisas no rito bizantino tiveram acesso ao santuário, nem essa proibição foi de alguma forma baseada nas visões de impureza encontradas no Livro de Levítico. O único texto que fez alguma alusão a isso não era nem grego. Foi uma resposta do bispo sírio, João de Telia, e essa questão dizia respeito apenas à competência da diaconisa no convento na ausência de um padre ou diácono. Mas quando Teodoro registrou que “hoje as diaconisas não são mais ordenadas”, devemos levá-lo ao pé da letra? Ou ele, devido à ideia inexata que tinha da antiga instituição da diaconisa, considerou as diaconisas presentes em Constantinopla em seu tempo como não sendo verdadeiras diaconisas?" (p. 172)
A segunda coisa que se observa é que Viviane não traz um mísero exemplo da Tradição litúrgica da Igreja de serviço feminino no altar, que era, de fato, o objeto da pergunta. E falha por um motivo muito simples: ele não existiu na Tradição da Igreja.

Ao contrário do que alega o Catequista, o serviço feminino no altar sempre foi repreendido pela Igreja e sua prática sempre envolveu costumes de igrejas cismáticas que praticavam a ordenação de diaconisas. Um exemplo disso eram os chamados Montanistas. Eles ordenavam diaconisas e admitiam o serviço feminino do altar. Essa prática foi condenada pelos concílios regionais de Nimes, Oranges e Laodicéia. Aliás, sempre que o serviço feminino era retomado na História da Igreja havia Concílios Regionais que condenavam a prática apelando sempre à Tradição Apostólica e e à tradição eclesiástica da Igreja. Senão vejamos algumas dessas condenações:

Concílio de Nimes (394 d.C):
"Cânon 2. Naquela época, alguns sugeriram que, contrariamente à disciplina apostólica, até então desconhecida, as mulheres eram levadas para o ministério levítico em algum lugar; o que aliás, por ser indecente, a disciplina eclesiástica não admite; e tal arranjo deveria ser desfeito como contrário à razão: deveria-se tomar cuidado para que ninguém mais ouse fazer isso. ”
Concílio de Orange (441 d.C):
Cânon 26. As diaconisas não devem ser ordenadas sob qualquer hipótese: se houver, submetam a cabeça à bênção que é concedida ao povo.
Concílio de Laodicéia (365 d.C.): 
“Mulheres não podem se aproximar do altar.” (Cânon 44)

Concílio de Paris:

"Cânon 45. Temos procurado por todos os meios possíveis impedir a admissão ilícita de mulheres no altar. Soubemos por meio de um relato de pessoas confiáveis ​​que em algumas províncias, em contradição com a lei divina e com a instrução canônica, as mulheres se dirigem à área do altar, impudentemente pegam os vasos sagrados, estendem as vestes sacerdotais aos sacerdotes e — o que é ainda pior, mais indecente e impróprio do que tudo isso — dão ao povo o corpo e o sangue do Senhor e fazem outras coisas que em si mesmas são indecentes [ quae ipso dictu turpia sunt ].

É mais surpreendente como essa prática, não permitida na religião cristã, pôde se infiltrar; isto é, como as mulheres, a cujo sexo não é de forma alguma adequado fazer o que é contrário à lei divina, puderam se permitir fazer o que é proibido aos homens seculares. Sem dúvida, ocorreu por descuido e negligência de alguns bispos. Portanto, ai de nós, padres, em cujas mãos os fardos daquele padre passaram, como são descritos em Mach. 2: Pois eles realmente desconsideraram seu dever que lhes foi delegado para o culto e, enquanto o templo de Deus estava sem serviço sagrado, entregaram-se a paixões carnais e ações ilícitas, de modo que as mulheres, sem que ninguém as impedisse, se dirigiram a casas consagradas e ali puderam introduzir coisas não permitidas."

O Magistério dos Papas também não ficou em silêncio e igualmente confirmou a condenação do serviço feminino no altar.

Papa São Gelásio em Carta aos Bispos da Lucânia (496 dC):

"Com impaciência, ouvimos que as coisas divinas sofreram tanto desprezo que as mulheres são encorajadas a servir nos altares sagrados, e que todas as tarefas confiadas ao serviço dos homens são executadas por um sexo para o qual essas [tarefas] não são apropriadas" (Mansi VIII, 44).
O mesmo é confirmado pelo Papa Bento XIV:
“O Papa Gelásio, em sua nona carta (cap. 26) aos bispos da Lucânia, condenou a prática maligna que havia sido introduzida de mulheres servindo ao padre na celebração da missa. Como esse abuso havia se espalhado para os gregos, Inocêncio IV proibiu estritamente em sua carta ao bispo de Tusculum: 'As mulheres não devem ousar servir no altar; elas devem ter esse ministério completamente recusado.' Nós também proibimos essa prática nas mesmas palavras em Nossa constituição frequentemente repetida Etsi Pastoralis, seção 6, nº 21.”
Código de Direito Canônico de 1917:
"Cânon 813. Cuide-se para que nenhuma mulher ouse caminhar até o altar ou ministrar ao sacerdote ou ficar de pé ou sentar-se dentro da capela-mor" (c. 1, X).

Liturgicae Instaurationes (1970):

"Em conformidade com as normas tradicionais da Igreja, as mulheres (solteiras, casadas, religiosas), seja em igrejas, lares, conventos, escolas ou instituições para mulheres, estão proibidas de servir o sacerdote no altar."

Do exposto, devemos concluir que a Tradição da Igreja sempre proibiu a participação feminina no serviço do altar.

A qual Tradição pertence o serviço masculino do altar?

Convém questionarmos agora qual Tradição proibiu o serviço feminino do altar. Para tanto, expliquemos o que significa "Tradição".

"Tradição" não possui um sentido unívoco e diversos teólogos buscaram distinguir os tipos de tradição. Expliquemos seus sentidos:

Quando o autor da Tradição é Deus:
a) Tradição Dominical - Aquilo que Cristo instituiu oralmente. Ex: indissolubilidade do matrimônio e os preceitos da caridade).

b) Tradição Apostólica/Divino-Apostólica - Aquilo que os Apóstolos instituíram sob inspiração do Espírito Santo. Ex: ordenação de diáconos.
A Tradição fundada por Deus é imutável e não pode ser alterada.

Quando o autor da Tradição é a Igreja:
a) Tradição humano-eclesiástica: Tradições iniciadas pelos Apóstolos, mas que não foram divinamente reveladas. Ex: ritos da Igreja, leis de jejum e abstinência que diferem de igreja para igreja, etc.

b) Tradição meramente eclesiástica: é toda aquela instituída pela Igreja após o tempo dos Apóstolos. Ex: festas litúrgicas.
A Tradição fundada pela Igreja pode ser alterada. No entanto, cabe aqui uma observação oportuna. A mudança não pode ser arbitrária. Como observa o Pe. Chad Ripperger em se livro"Topics on Tradition":
"Além disso, quanto mais longa a tradição humano-apostólica, maior a causa para uma mudança deve ser manifesta. Portanto, se uma tradição humano-apostólica está em vigor desde o tempo dos Apóstolos, somente sob as mais graves circunstâncias ela deve ser mudada, já que a vontade de Deus é manifesta em Sua aprovação da tradição, já que ela permaneceu em vigor por tal duração."
Estabelecidas estas distinções, perguntemo-nos: a qual Tradição o serviço masculino do altar pertence?

Podemos afirmar, sem sombras de dúvidas, que pertence à Tradição divina, porque é um serviço ínsito aos poderes do presbítero e do diácono. Relembremos quais são eles:
"O presbiterado consagra os sacerdotes “à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Hebr. 5, 1-10; 7,24; 9, 11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento” (Lumen Gentium, 28).

"O diaconato serve o presbiterato. “É próprio do diácono, segundo for cometido pela competente autoridade, administrar solenemente o Batismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, ler aos fiéis a Sagrada Escritura, instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, dirigir os ritos do funeral e da sepultura.” (Lumen Gentium, 29)
Mas e as ordens menores? A qual Tradição pertence? Para responder essa pergunta, façamos uma breve digressão histórica das ordens menores.

Segundo Santo Tomás, no Comentário às Sentenças, as ordens menores foram instituídas pela Igreja como uma distribuição das funções do diácono:
“Na Igreja primitiva, todos os ministérios inferiores eram confiados aos diáconos por causa da escassez de ministros, como fica evidente no que Dionísio diz: “outros ministros ficam nos portões fechados do templo; outros trabalham em outra coisa de sua ordem própria; outros colocam o pão sagrado e o cálice da bênção sobre o altar com os sacerdotes”. No entanto, todos os poderes mencionados estavam lá, mas implicitamente no único poder do diaconato. Mais tarde, porém, o culto divino foi mais difundido, e o que a Igreja tinha implicitamente em uma ordem, ela distribuiu [tradidit] explicitamente sobre muitos; e segundo isso, o Mestre diz no texto que “a Igreja instituiu para si outras ordens”."

Dom Athanasius Schneider, no mesmo sentido, explica que o Concílio de Trento escolheu a expressão "ministros" ao invés de "diáconos" justamente para incluir as ordens menores ao poder implícito do diaconato:

"Definindo dogmaticamente a estrutura divinamente estabelecida da hierarquia, o Concílio de Trento escolheu o termo “ministros” ao lado dos termos “bispo” e “sacerdotes”, evitando o termo “diáconos”. Provavelmente o Concílio quis incluir no termo “ministros” tanto o diaconato quanto as ordens menores, para dizer implicitamente que as ordens menores são parte do diaconato. Esta é a formulação do cânon 6 da sessão XXIII: “Se alguém disser que na Igreja Católica não há hierarquia estabelecida por um arranjo divino, que é composta de bispos, padres e ministros, seja anátema”. Pode-se dizer, portanto, que ordens inferiores ou menores, como o leitorado e o acolitato, têm sua raiz no diaconato pela instituição divina, mas foram formadas e distribuídas em vários graus pela instituição eclesiástica (cf. Dom Gréa, loc. cit.)."

Dom Athanasius sublinha, portanto, que o diaconato é de instituição divina e as ordens menores de instituição eclesiástica. Porém, elas surgiram para proteger o diaconato, isto é, reafirmá-lo.

Quanto à historicidade das ordens, a Administração Apostólica São João Maria Vianney afirma que o subdiaconato foi instituído ainda na era apostólica, sendo, portanto, uma tradição humano-eclesiástica:

"O subdiaconato é a primeira das ordens maiores, embora não seja parte mesma do sacramento da Ordem, é a Ordem pela qual os ordenados são tidos na Liturgia como ministros sagrados pela qual a Igreja confere o poder de servir ao diácono na missa solene, de lhe oferecer o cálix e a patena, de preparar a água para o s. sacrifício, de cantar a epístola e de abluir as palas e os corporais.

[...]  

A origem do subdiaconato deve-se à necessidade de auxiliares para os sete diáconos, cujo número não se quis mudar. Por isso esse auxiliar subalterno é chamado subdiácono, pois que o diácono é o primeiro ministro. Foi instituído ainda no tempo dos apóstolos, “desde o princípio da Igreja.” Antigamente o subdiácono estava encarregado de ajudar o diácono, recebendo com ele as ofertas do povo e colocando no altar uma parte delas, suficiente para a comunhão dos fiéis. Devia guardar a porta das mulheres, ao passo que o diácono guardava a dos homens. Estava-lhe confiado o cuidado dos sepulcros dos mártires, das relíquias dos santos e das sagradas hóstias restantes da comunhão. Ocupava, portanto, uma posição muito honrosa de que ainda hoje está investido. Contudo esta ordem é sacramento. Na Igreja grega é ordem menor. Na Igreja romana só no século XIII (Inocêncio III) se começa a contá-la entre as ordens maiores. Mas a importância que a Igreja liga a este grau eclesiástico pode-se inferir das obrigações impostas aos que têm a honra de pertencer a ele. Cada dia o subdiácono deve rezar o oficio divino, e na Igreja romana deve guardar o celibato."

A obrigação do celibato é igual à do voto solene de castidade e é impedimento dirimente do matrimônio. A violação desta lei é um sacrilégio, de sorte que o transgressor pelo pecado, quer interno quer externo, comete dois pecados, contra a castidade e contra o voto."

Já acolitato tem o seu possível registro mais antigo datado no ano de 189 dC, sob o pontificado de São Vitor I.

O leitorado Tertuliano, já no século II, o testemunha.

No século III, encontra-se o registro das sete ordens completas, como testemunha Eusébio de Cesareia:

“Na Igreja Romana há quarenta e seis presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, quarenta e dois acólitos, cinquenta e dois exorcistas, leitores e porteiros” (História Eclesiástica , VI, 43, 11)

Portanto, o registro dessas ordens é realmente antigo, sendo mais antigo, por exemplo, que as referências documentais à assunção de Nossa Senhora. 

Aqui convém relembrar as tradições são muito antigas, de origem oculta e extremamente duradouras na História da Igreja é muito provável que elas pertençam à Tradição Apostólica, como ensina o Pe. Ripperger em seu livro "The Limits of  Papal Autorithy Over the Liturgy"

Devido ao fato de Deus ser o Senhor da História, de ter estabelecido a Igreja para Lhe dar um culto bem ordenado, tanto que Ele deu instruções detalhadas, nada permanece na liturgia durante um longo período de tempo que não seja a Vontade de Deus que esteja aí. A partir disso, o princípio é que a longevidade de um elemento da liturgia dá indicação da Vontade de Deus em relação a esse elemento. Formulando de outra forma, a duração de algo nos livros litúrgicos determina o quanto Deus deseja isso na liturgia. Se algo é da Tradição Apostólica, isso indica que Deus geralmente quer esse elemento na liturgia por toda a duração da História da Igreja." (p. 42-43)

Mesmo considerando o atual status da pastoral litúrgica, a Igreja deixa claro que existe uma obrigação de conservar-se o serviço masculino do altar. Em 1994, a Congregação do Culto Divino e o Conselho para Interpretação dos Textos Legislativos fizeram o seguinte comunicado:

"A Santa Sé respeita a decisão que alguns Bispos, por determinadas razões locais, adotaram, com base ao previsto no cân. 230 § 2, mas contemporaneamente a mesma Santa Sé recorda que sempre será muito oportuno seguir a nobre tradição do serviço ao altar pelos meninos. Isto, como se sabe, permitiu inclusive um consolador desenvolvimento das vocações sacerdotais. Portanto, sempre existirá a obrigação de continuar a sustentar tais grupos de coroinhas."

Assim, mesmo que se considere a atual e confusa pastoral moderna de permitir mulheres no altar fundamentada na dignidade batismal do leigo, o que a Igreja ensino é que o serviço do altar tanto pela doutrina quanto pela conveniência é essencialmente masculino. O serviço masculino sempre será uma obrigação, enquanto o serviço feminino uma mera permissão.

Nestas premissas, é possível concluir que a Tradição que conservou o serviço masculino e proibiu o serviço feminino foi tanto divina quanto eclesiástica. A primeira por ensinar que o serviço do altar pertence essencialmente às ordens sagradas, a segunda por proteger as ordens sagradas com as ordens menores. 

O status atual das ordens menores

Se o serviço masculino do altar é uma Tradição divina e ela mesma proibe a participação feminina, como explicar a mudança operada pelo Papa Francisco de abrir o acolitato e o leitorado às mulheres?

Pois bem, segundo alguns teólogos, o que Paulo VI fez no Motu Proprio Ministeria Quaedam não foi apenas renomear as ordens menores, mas criar algo inteiramente novo. Em outras palavras, o Papa substituiu o uso das ordens menores na Missa Nova pelos ministérios laicais. Assim, o acolitato e o leitorado, embora recebam o mesmo nome das ordens tradicionais, eles só o são de maneira análoga, tal como o "coroinha" não ordenado é chamado de acólito.

Em reforço a esse entendimento, o Pe. Chad Ripperger em certa conferência explica que os ministérios laicais instituídos por Paulo VI não podem ser identificados com as ordens menores:

"Os ministérios que a Igreja regulamentou recentemente não a mesma coisa que as ordens. Ministério é a permissão para fazer algo, é a capacidade de fazer algo sem obter permissão adicional. Não é um cargo oficial que você recebe que muda você de alguma forma. [...] O que acontece é que cada vez que você passa por essas ordens, você está passando por um ritual em que o bispo pede para você graças específicas para aquela ordem" (46'20")

Segundo o padre, embora as tarefas litúrgicas sejam materialmente as mesmas, as ordens realmente conferiam um poder ao ordenado, "graças diaconais", enquanto que os ministérios atuais concedem apenas uma faculdade ao leigo, isto é, uma permissão.

O entendimento de que Paulo VI criou ministérios completamente novos é baseado nos seguintes fundamentos:

a) Quanto à finalidade. Os ministérios laicais atuais não possuem como finalidade geral o exercício da diakonia na liturgia, mas, sim, a promoção do estado de leigo.

b) Quanto aos efeitos. Os novos ministérios recebem graças inferiores às das ordens menores. O acolitato e o leitorado, embora tenham incorporado as funções do subdiaconato, não tornam o ministro leigo um clérigo, isto é, uma pessoa sagrada, como era o caso do subdiácono, e nem lhe confere poderes diaconais, como o de benzer o pão e os frutos novos, como faziam os leitores no rito tradicional.

Portanto, é inequívoco que as ordens menores se diferem essencialmente dos ministérios laicais. As ordens menores conferiam poderes reais e permanentes aos ordenados, isto é, alguns poderes do diácono, enquanto que os atuais ministérios laicais são meras permissões para incentivar a participação ativa do leigo e que não transformam o status dele, isto é, não o tornam clérigo e nem lhe é atribuído qualquer poder especial típico das ordens sagradas, como o poder de abençoar.

Peter Kwasnieski, aqui, resume melhor:

"A conferência das ordens menores é mais do que uma mera delegação, mas menos do que uma ordenação sacramental no sentido pleno, que inscreve uma marca ou caráter indelével na alma. Se (como na opinião teológica mais comum) as ordens menores não conferem um caráter e não fazem parte do sacramento da ordem, mas são instituídas pela Igreja, elas devem ser classificadas como sacramentais. Isso parece estar de acordo com a definição de sacramentais dada no Código de 1917: “coisas ou ações que a Igreja usa em certa imitação dos sacramentos, a fim de, em virtude de suas orações, alcançar efeitos, acima de tudo de natureza espiritual”.

Especificamente, as cerimônias são bênçãos constitutivas que delegaram permanentemente as pessoas ao serviço divino, conferindo-lhes alguma identidade sagrada, pela qual assumem um novo e distinto relacionamento espiritual. Essas bênçãos dão direito aos seus destinatários a graças reais para o desempenho de seus ministérios, muito parecido com as graças sacramentais associadas à recepção dos sacramentos e semelhantes à bênção de um abade. Isso faz com que os homens em ordens menores sejam sacramentalia permanentia — tipos de objetos abençoados e consagrados! Por exemplo, a bênção de um rosário é um sacramental; o próprio rosário abençoado é um sacramental; o uso do rosário abençoado é um sacramental. Da mesma forma, podemos dizer que as cerimônias que conferem as ordens menores são sacramentais, as ordens menores são sacramentais e os exercícios de seus ofícios são sacramentais."

Pe. Louis Bacuez na obra "Minor Orders" ensina, por fim, que aqueles que recebem as orders menores recebem gradualmente os poderes do sacerdócio:

“Aquele que é investido com essas primeiras Ordens começa a ter uma parte nos poderes do grande Sumo Sacerdote.” (p. 160)

Assim, a substituição das ordens menores pelos ministérios laicais, em termos prudenciais, é altamente discutível, tendo em vista que os novos ministros recebem menos graças do que antes e se retira do Novus Ordo um importante monumento da Tradição. Igualmente discutível é a abertura feita pelo Papa Francisco do serviço do altar às mulheres, uma vez que o Magistério, em diversas ocasiões, ensinou que tais funções são inadequadas para o sexo feminino.

Certamente, Deus oferece graças aos ministros leigos para o cumprimento de suas funções, mas o sexo feminino, sendo inadequado para o ofício, traz elementos humanos que podem prejudicar a perfeição da Tradição.

Nesse sentido, pontuam os teólogos Joseph Willhelm e Thomas B. Scannell, na obra "A Manual of Catholic Theology", que os elementos humanos inseridos numa tradição eclesiástica podem eclipsar parcialmente verdades fundamentais da Tradição revelada:

"No entanto, deve-se admitir que o elemento humano modifica a perfeição da Tradição. Pode haver uma quebra em sua continuidade e universalidade. Um eclipse temporário e parcial da verdade é possível, assim como desenvolvimentos posteriores. É possível que por um tempo uma parte do Depósito não seja conhecida e reconhecida por toda a Igreja ou expressa e distintamente atestada pelos principais órgãos do Apostolado." (p. 71)

O primeiro eclipse da Tradição é o mais óbvio de todos: a defesa do diaconato feminino. Uma vez que a Igreja já não mais protege o diaconato com as ordens menores, a verdade do diaconato católico é a primeira a ser atacada. Atualmente, membros do alto clero da Igreja discutem se é possível ordenar sacramentalmente diaconisas. Não existiria essa discussão se o serviço do altar fosse realizado só por homens.

O próprio O Catequista advoga pelo serviço de mulheres no altar presumindo que diaconisas tinham poderes diaconais para servir o altar. Em outras palavras, o acolitato e o leitorado feminino acaba por ser uma defesa da diaconato feminino por procuração.

O segundo eclipse da Tradição é a impugnação ao sacerdócio católico. Meninas já não sabem porque não podem ser sacerdotisas, uma vez que não há diferenciação das funções litúrgicas em função do sexo.

O terceiro eclipse da Tradição é a ideologia de gênero. Não havendo funções litúrgicas segundo o sexo de cada pessoa, a ideologia de gênero torna-se verossímil e mais difícil de se combater.

O quarto eclipse da Tradição é o feminismo. O serviço feminino do altar promove uma perspectiva horizontalista dos papeis sexuais. Isso pode trazer profundas dificuldades no matrimônio, pois mulheres podem pensar que, uma vez que já fazem funções inadequadas para o seu sexo, agora elas podem fazer outras igualmente inapropriadas, como liderar seu marido ou não conhecê-lo como chefe da família.

Paremos por aqui. É patente que as inconveniências são muitas e a honestidade intelectual irá reconhecê-las.

Temos a tese inclusive que muito dos abusos litúrgicos que imperam sem controle no rito paulino ocorrem justamente em razão da ausência dos sacramentalia permanentia, isto é, de homens permanentemente consagrados e robustamente agraciados para o serviço divino. Mas isso é papo para outro dia.

O status do serviço feminino do altar

Viviane Varela buscou completar seu vídeo inicial com uma sequência de stories explicando melhor as supostas razões que teriam levado a Igreja ao abandono das diaconisas (que ela crê errôneamente que serviam no presbitério) e o consequente serviço feminino no altar. Viviane elenca duas razões:

1) Leis obsoletas de impureza ritual

Viviane de modo impreciso e sem nenhuma fonte afirma que "voltou com força na Idade Média uma distorção religiosa chamada impureza ritual".

Provavelmente, Viviane sequer fez uma pesquisa sobre o assunto e está literalmente chutando tudo o que fala.

Não há notícias de que no Ocidente mulheres fossem impedidas de acessar o altar em razão de leis de impureza ritual. Esta foi uma realidade abundantemente presente nas Igrejas Ortodoxas durante a Idade Média, mas não na Igreja latina. Tanto que essas leis levíticas de impureza ritual continuam até hoje em certas Igrejas ortodoxas, sendo o exemplo mais famoso a Igreja Ortodoxa Russa.

Segundo Christine Tracz, no artigo "Deaconess and Ritual Impurity", na Igreja Latina, a impureza ritual nunca foi levada a sério e foi exatamente por isso que as deaconisas não eram necessárias.

"No Ocidente, mesmo em grupos dualistas, não eram necessárias diaconisas nas paróquias. Isso foi positivo para as mulheres. As mulheres nas igrejas latinas podiam falar diretamente com o clero; nenhuma diaconisa era necessária como intermediária. As mulheres durante a menstruação ou a gravidez eram livres de adorar na igreja, pelo que não era necessária nenhuma diaconisa para levar a Eucaristia às mulheres grávidas nas suas casas. Na verdade, o Papa Gregório Magno ensinou que as mulheres menstruadas e as mulheres recém-partas podem frequentar a igreja e receber a Sagrada Comunhão, e explicou que as ações de Jesus (como no caso da Hemorrissa) tinham posto de lado as leis levíticas da impureza ritual. Também no Ocidente, enquanto o batismo de adultos era a norma, as batizadas eram assistidas por diversas mulheres cristãs, porque eram reconhecidas como qualificadas para preparar as batizadas na fé e para auxiliar no sacramento; novamente, nenhuma diaconisa foi necessária. Por exemplo, Gennadius de Marselha citou viúvas e freiras bem capazes aperto et sano sermone docere (para ensinar com um discurso claro e saudável), instruindo as mulheres para este sacramento." Embora os estudiosos modernos que desejam que as mulheres sejam ordenadas sugiram que a falta de diaconisas no Ocidente mostra uma restrição misógina às mulheres, o oposto é verdadeiro: as diaconisas evidentemente não eram necessárias no Ocidente devido ao reconhecimento adequado das capacidades das mulheres." (p. 195)

Viviane, portanto, ao pontuar que diaconisas foram extintas por causa de padres reaças e radicais que aderiam leis de impureza ritual, traz uma informação completamente fantasiosa. Na verdade, como atesta Catherine Tracz, foi a existência dessas leis levíticas que levaram ao crescimento das diaconisas:

"Uma característica comum de muitas cristologias heréticas é o dualismo cósmico, que implica a crença de que apenas o espiritual é bom e que a matéria é inerentemente má. Em seu foco na transcendência de Deus, esses grupos consideraram blasfêmia pensar que o divino de fato se tornaria humano. Muitos dos grupos que consideraram a Encarnação problemática também segregaram fortemente os sexos socialmente. Consequentemente, os sírios, coptas, paulinos, armênios e outros monofisitas tinham diaconisas. Manfred Hauke ​​observou em 1982: “O aparecimento de diaconisas pressupõe, portanto, condições patriarcais”.

Nessas igrejas, as diaconisas prestavam serviços sociais às mulheres, como os diáconos faziam pelos homens. Lá as mulheres não tinham permissão para falar com um clérigo, mas poderiam falar com uma diaconisa que transmitiria suas preocupações. As mulheres grávidas eram proibidas de ir à igreja e, como indica a Didascalia, teria sido considerado escandaloso para um homem visitar suas casas. Portanto, uma diaconisa levaria a ela a comunhão."

Martimort em "Deaconess" resume tudo informando que, de maneira geral, as diaconisas somente surgiram na Igreja, mais precisamente nas igrejas orientais, unicamente para suprir as necessidades de outras mulheres. Elas não surgiram num contexto de serviço litúrgico geral.

"As diaconisas surgiram na Igreja em uma região do Oriente onde a separação estrita das mulheres exigia um ministério feminino específico para servir outras mulheres." (p. 44)

Martimort informa ainda que nem mesmo o auxílio que prestavam no batismo de mulheres podia ser considerado um serviço litúrgico:

"As diaconisas não participavam da liturgia. Na verdade, sua parte no rito do batismo em si era muito restrita; elas simplesmente completavam a unção iniciada pelo celebrante. Nem pronunciavam a invocação, ou epiclese. De forma alguma elas poderiam ser consideradas no mesmo nível que os diáconos: elas eram suas auxiliares." (p.43)

Pois bem. A evidência histórica é devastadora contra a posição Viviane. Contudo, ainda que concedêssemos que durante a Idade Média as leis de impureza ritual fossem influentes no Ocidente, isso não explicaria a proibição da Igreja do serviço feminino do altar antes da Idade Média e nem séculos depois dela, uma vez que a proibição de mulheres no serviço do altar permaneceu formalmente até o século XX. Ou seja, a proibição por razões sanitárias somente poderia ser apenas mais um motivo para impedir mulheres de servirem o altar, não o único.

2) Invasões bárbaras e queda do Império Romano.


Viviane continua falando baboseiras sobre impureza ritual, mas agora acrescenta outra informação: as as diaconisas desapareceram da Igreja em razão das invasões bárbaras e da queda do Império Romano, o que veio a trazer muita insegurança para as mulheres.

Contudo, a informação é novamente imprecisa. No Ocidente, segundo Tracz e Martimort, a figura da diaconisa, tal como aparecia em algumas igrejas orientais, simplesmente não existia.

Tracz:
"Nas paróquias ocidentais, várias mulheres realizavam o trabalho atribuído no Oriente às diaconisas. Os estudiosos examinaram diversos documentos, buscando evidências de diaconisas latinas. Em Roma, na África e na Espanha, faltam registros que listem todas as funções da Igreja. O Papa Cornélio citou vários papéis, desde padres até viúvas, incluindo exorcistas e carregadores, mas nenhuma diaconisa. Eles também estão ausentes das orações da Missa, listando todos os grupos dentro da Igreja pelos quais orar: "Oremus et pro omnibus episcopis, presbyteris, diaconibus, subdiaconibus, acolythis, exorcistis, lectoribus, ostiariis [porteiros], confessoribus, virginibus, viduis [viúvas) , et pro omni populo sancto Dei." Apenas em alguns mosteiros femininos existiam diaconisas, e elas não são atestadas antes da Idade Média."
Martimort aduz que não há informação de diaconisas na Roma Ocidental durante os primeiros cinco séculos:
"Nas extremidades orientais do Império Romano, a instituição das diaconisas surgiu durante as primeiras décadas do século III e continuou a desenvolver-se de várias maneiras nas igrejas de língua grega e semítica. As igrejas de língua latina, porém, não experimentaram o mesmo desenvolvimento desta instituição, nem a igreja do Egito. Isto pode ter sido o resultado do fato de, tanto em Roma como em Alexandria, a Tradição Apostólica de Santo Hipólito de Roma ter permanecido o ideal para a organização eclesiástica. Observamos como este documento não previa lugar para qualquer ministério feminino. Mais do que isso, sem dúvida, a falta da instituição de diaconisas no Ocidente também foi o resultado do fato de tal ministério feminino não ser considerado necessário; até despertou suspeitas em alguns setores.

No entanto, alguns historiadores ficaram tão convencidos da existência de diaconisas em toda a Igreja antiga que procuraram diligentemente qualquer evidência que apoiasse a sua tese - procuraram mesmo para além dos limites da probabilidade."

Observemos a informação do autor. Nas igrejas do Império Romano do Oriente as diaconisas surgiram por volta do século III e continuaram a se desenvolver, mas nas igrejas ocidentais elas não existiram. Portanto, não houve decréscimo de diaconisas ocidentais durante as invasões bárbaras (III a VIII d.C), porque não havia essa instituição no Ocidente.

Novamente, Viviane destila groselha.

Prossigamos.


Viviane conclui o raciocínio afirmando que esses dois fatores históricos que impediam o acesso das mulheres ao serviço do altar eram circunstanciais e caíram e com base nisso os Papas decidiram abrir espaço novamente para o serviço da mulher no altar.

Como de praxe, Viviane fala coisas inventadas da própria cabeça. Nem na Ministeria Quaedam tampouco na Spiritus Domini, os Papas indicam que tenham sido essas razões para abrir o serviço do altar às mulheres. O único que justificou essa abertura foi o Papa Francisco. Segundo o Pontífice:

"Uma prática consolidada na Igreja latina confirmou que tais ministérios laicais, baseando-se no Sacramento do Batismo, podem ser confiados a todos os fiéis que forem idôneos, de sexo masculino ou feminino, de acordo com quanto já é implicitamente previsto pelo cânone 230 § 2."

Em outras palavras, os ministérios laicais, por não estarem essencialmente ordenados às ordens sagradas e por serem meras permissões, podem admitir mulheres.

A justificativa do Papa apenas reforça o entendimento da diferença essencial entre as ordens menores e os ministérios laicais.

Sigamos.




Por fim, Viviane termina seu discurso com boas pitadas do bom e velho feminismo. Primeiro, orgulhando-se da filha que agora fará uma função litúrgica inadequada para o seu sexo. Depois, afirmando que os homens tem que começar a se acostumar a não se sentirem inseguros em ambientes predominante femininos. Dá como exemplo o ambiente de trabalho onde mulheres ocupam a maioria dos postos.

Primeiramente, nota-se que Viviane desconhece por completo a psicologia masculina. Ela ignora que os processos de aprendizagem de virtudes tipicamente masculinas são completamente diferentes dos processos femininos.

Homens, por exemplo, para aprenderem a serem homens, precisam de ambientes predominante masculinos. Joseph Shaw, comentando a obra León J. Podles “The Church Impotent”, explica bem este ponto:

"... Devo reservar um momento para enfatizar o fato de que os aspectos masculinos da Igreja não precisam ser desconcertantes para as mulheres. Afinal, as mulheres são capazes de apreciar as virtudes masculinas; elas tendem a ser heterossexuais. Muitas vezes são, de fato, portadores  de virtudes masculinas, assim como os homens podem ter virtudes associadas ao feminino. O ponto dessas postagens não é sobre a exclusão das mulheres, mas a não exclusão dos homens. Faça a missa parecer uma noite de garotas, e os rapazes fugirão paras colinas. As mulheres são muito mais tolerantes com uma liturgia que parece um pouco masculina. Sua feminilidade não é ameaçada por isso; não pode, de fato, ser tão facilmente tirado delas. A masculinidade dos rapazes, ao contrário, não é garantida de forma alguma. Eles devem se separar do reino feminino se quiserem ser homens."

Em outras palavras, meninos não aprendem a ser homens com mulheres. Mulheres tendem a ter maior inteligência emocional e, em regra, não são boas em ensinarem homens a se guiarem de maneira objetiva. Por isso homens precisam de outros homens para agirem como tais. Por esta razão, no passado, as escolas seguiam o costume da separação dos alunos por sexo justamente para potencializar as virtudes próprias de meninos e meninas.

Outro ponto, é que Viviane quer justificar uma postura pastoral da Igreja com base na cultura da mulher carreirista. O problema é que essa cultura é altamente corrompida, como já explicamos em outros artigos deste blog. O carreirismo não é um desenvolvimento normal da feminilidade. Da mesma maneira, o serviço feminino do altar não é um desenvolvimento normal da liturgia.

Vimos que as diaconisas que existiram na História da Igreja não eram ordenadas e surgiram unicamente para ajudar outras mulheres, não para agirem como homens tomando papéis litúrgicos essencialmente ordenados para eles. As únicas diaconisas que participavam do serviço do altar eram pertencentes a seitas cismáticas que aceitavam a ordenação diaconal de mulheres, ou seja, que destruíam o sacramento da Ordem.

Disso conclui-se imperiosamente que o serviço feminino do altar é realmente algo sem precedentes históricos e, no sentido mais rigoroso e científico do termo, uma novidade. Pe. Ripperger em "Topics of Tradition" define novidade:
"Novidade é aquilo que se opõe à tradição, já que a novidade por natureza suplanta ou contradiz a tradição. Novidade é ruim porque quebra a continuidade da tradição. Já que nossa salvação depende da tradição, a continuidade na tradição pela qual os meios de salvação são passados de geração em geração e para o maior número possível de pessoas é imperativa. Além disso, a continuidade da tradição garante que cada geração herdará a riqueza do patrimônio dos santos."
A novidade é um elemento humano que se mistura à Tradição e lhe retira força. Não é impossível que a Igreja em determinada circunstância aprove leis eclesiásticas que contenham esses elementos humanos, afinal, como ensinam unanimemente os teólogos, a Igreja não possui infalibilidade prudencial.

Nesse sentido, Adolphe Tanquerey:
“Esta infalibilidade consiste em que a Igreja num juízo doutrinal nunca possa estabelecer uma lei universal, que seja contrária à fé, aos bons costumes e à salvação das almas…(no entanto) em lugar algum foi prometido à Igreja um sumo grau de prudência para promulgar as melhores leis para todos os tempos, lugares e circunstâncias.” (Theol. Dogm. Fundamentalis, n. 932.)

Embora não devamos crer que a Igreja habitualmente se engana em seus juízos prudenciais, como assinala a Donum Veritatis, é possível que a Igreja não tenha o melhor juízo em determinadas circunstâncias, principalmente quando a decisão prudencial é de um ou outro pontífice e que não segue a tradição consolidada da Igreja. Quando a decisão prudencial não se apoia na tradição sólida da Igreja falta-lhe um dos requisitos necessários à virtude da prudência, a saber, a memória do passado.

A introdução de mulheres ao serviço do altar enquadra-se exatamente nessa situação, visto que somente foi oficialmente autorizada pelo Papa Francisco, que não fez qualquer questão de harmonizar a posição de seus predecessores com a nova disciplina adotada. Sua decisão, portanto, está mais sujeita a equívocos prudenciais, sendo possível que num futuro próximo ela seja revertida.

Por outro lado, tomando o mesmo critério da Donum Veritatis, é impossível que o juízo constante da Igreja que condenou reiteradas vezes o serviço feminino do altar classificando-o como "desprezo das coisas divinas", "inadequado para o sexo feminino" e "prática maligna" ao longo de 2000 anos esteja errado ou não corresponda de nenhum modo à verdade.

Conclusão

Viviane ao afirmar que mulheres a serviço do altar não contraria a Tradição da Igreja, seja ela divina ou eclesiástica, simplesmente não fala a verdade. Como demonstramos, a prática foi energicamente condenada pelos Papas até o século XX, tendo em vista que o serviço masculino do altar sempre foi considerado uma Tradição divina pela Igreja.

Também constatamos que Viviane também não fala a verdade sobre as diaconisas. O panorama histórico é que diaconisas só cresceram no contexto onde existiam leis de impureza ritual ou para atender demandas especificamente femininas. Em todos os casos em que foram inseridas no serviço do altar, houve condenação dos Concílios e dos Papas. Viviane ao distorcer esses fatos históricos para defender o serviço feminino do altar está, sem sombras de dúvidas, defendendo o diaconato feminino por procuração.

Não é a primeira vez que Viviane fala um monte de bobagens, mas é assustador como sobre este assunto ela simplesmente se superou. Recentemente, ela reclamou do "machismo" que sofre de seus seguidores que a acusam de ser incapaz de falar de qualquer assunto. Viviane alega que sofre isso por ser mulher. Claro, não duvidamos da capacidade de Viviane de falar acertadamente em outros temas, mas, a respeito do assunto do nosso artigo, ela se mostrou absolutamente incompetente. Ela foi incapaz de fazer a menor apuração histórica dos papéis da diaconisa e da posição constante da Igreja sobre o serviço feminino do altar. 


Dom Bosco caiu na folia? Derrubando mais uma lorota de Viviane Varela (O Catequista)

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