No artigo "Assédio, agressão e ataques à "bolha católica"", comentamos que o caso Miguel Soriani talvez fosse um sinal de uma erosão da nova onda conservadora do Catocilismo pós-pandêmica, essencialmente marcada por ser moralmente laxista, feminista, antitradicional e dinheirista. Argumentamos que o Miguel Soriani era filho dessa onda.
Conforme expomos no artigo "Conservadores católicos se rendem à imodéstia", a página de Instagram O Catequista certamente é um dos maiores expoentes dessa onda. O que decidamente marca a principal característica da página é o seu laxismo moral.
Relembremos que O Catequista já apoiou: católico organizar festa de casamento LGBT, pessoas casadas darem carona para colegas de trabalho do sexo oposto, banhos públicos e mistos, uso de leggings na academia, entre outros.
A lista é imensa e, infelizmente, a tendência é de crescimento.
Recentemente, como dissemos, estorou nas redes sociais o caso Miguel Soriani, um terapeuta católico que vendia cursos e consultoria contra a pornografia, mas que, ao final, sucumbiu a ela e passou a trair a esposa encaminhando nudes para suas seguidores e pedindo o mesmo delas.
A página O Catequista foi uma de muitas que não só criticou o terapeuta como também tirou sarro da situação.
Apesar de Soriani merecer todas as críticas, consideramos o hábito do Catequista e de outras páginas de debocharem dos outros por causa de suas faltas lamentável. A derrisão ou zombaria, que consiste em expor a faltas alheias para ser alvo de chacota dos outros, é pecado, como ensina Antonio Royo Marin em sua "Teologia Moral para Leigos":
"821. Entende-se por zombaria ou derrisão do próximo o vício ou pecado de lançar na face do próximo suas culpas ou defeitos de forma jocosa para envergonhá-lo diante dos demais.
O zombador não trata diretamente de injuriar o próximo (isso é próprio do contumelioso), mas unicamente de ridicularizá-lo diante dos demais. Claro que indiretamente obscurece também a honra do próximo, e neste sentido a derrisão se relaciona muito de perto com a contumélia, da qual constitui uma subespécie.
Este feio pecado se opõe diretamente à justiça - porque viola o direito do próximo ao apreço e estima dos demais - e indiretamente à caridade. Se o zombador pretender diretamente o desprezo do próximo, faltará direta e gravemente à caridade."
Assim, a atitude de O Catequista merece todo o nosso reproche. Porém, o que vamos demonstrar a seguir é que a página, apesar de zombar de Soriani, não é uma real opositora das atitudes dele.
Em uma recente resposta à caixinha de perguntas do Instagram, O Catequista deu uma resposta a respeito da licitude de um católico assistir o reality show "Largados e Pelados". Vejamos:
"Largados e Pelados" é um reality show americano, no qual os participantes são enviados nus para lugares inóspitos para sobreviverem dias ou semanas. Muitos dos participantes são pessoas que não se conhecem, de sexos opostos e até mesmo casadas. Ocorre muito a situação de um homem casado dormir com uma mulher solteira ou casada, ambos nus, numa cabana improvisada.
Devia ser evidente para qualquer católico de consciência bem formada que o reality show é imoral, uma vez que promove o nudismo, a infidelidade e a imodéstia dos participantes. Lembremos que o compartilhamento de leito e cama (tori et mensae) e a visualização da nudez do próximo são direitos exclusivos dos esposos.
Porém, o que são verdades muito evidentes para este modesto blog são coisas inalcançáveis e incompreensíveis para o O Catequista. Notemos como a página responde a pergunta do seguidor.
Primeiro, o O Catequista, que tanto ataca os influencers, responde a pergunta igual um, isto é, dando bronca no seguidor e pedindo pra comprar o seu produto salvador.
Após, a página aborda a questão reduzindo o problema moral do programa à existência ou não de tapa sexo.
A resposta é bastante reveladora, porque, no fundo, traz à luz o que O Catequista verdadeiramente pensa sobre várias coisas. Fica mais fácil entender os seus posicionamentos morais, porque eles nada mais são do que uma consequência lógica da adesão de vários princípios morais laxos. Senão vejamos:
a) Se é possível aceitar que pessoas não casadas durmam juntas nuas, então não há inconveniência de um homem casado dar carona para uma colega do trabalho.
b) Se é possível assistir um programa de pessoas nuas cobertas apenas por um tapa sexo digital, então não há problemas de pessoas seminuas usarem biquínis ou sungas na praia.
c) Se é possível se entreter com um programa que incentiva o nudismo, a luxúria e a infidelidade conjugal, então que mal haveria em levar a família ao Carnaval, à praia ou aos festivais de Halloween?
Daí se vê que a dificuldade da página em condenar entretenimentos notadamente mundados decorre de uma consciência moral deficiente e cauterizada pelo laxismo.
Entretanto, para o que nos interessa neste artigo, a resposta revela ainda mais: o O Catequista adere todos os princípios que levaram Soriani à queda.
Expliquemos.
Ora, se é lícito ao católico assistir um programa de nudismo onde se pratica a infidelidade conjugal, como se pode condenar um homem casado, como Miguel Soriani, pelo compartilhamento de nudes com outras mulheres?
Diríamos até que o O Catequista incentiva algo ainda mais grave, pois "Largados e Pelados" promove todas essas coisas em rede nacional enquanto Soriani o fez apenas no particular.
Alguém dirá: "Não é a mesma coisa. O Catequista defende o uso de "tapa sexo digital".
Na verdade, é a mesmíssima coisa. Como dissemos em vários lugares deste blog, não é o bastante cobrir as partes íntimas para tornar a coisa aceitável. É gravemente desonesto e pecaminoso não cobrir as partes privadas e semiprivadas quando se está na presença do sexo oposto, conforme ensina Antonio Peinador Navarro em "Cursos Brevior Theologiae Moralis":
"Não devem ser escusados de pecado grave as pessoas de diferente sexo que mutuamente se olham, conversam, passeiam, etc., quase nuas, nos balneários públicos, com trajes sumaríssimos que cobrem apenas as partes genitais dos homens ou das mulheres e os seios destas últimas. Embora não se procurem movidos por má intenção, entretanto o convívio demorado será necessariamente gravemente excitante. Ademais, quem assim se expõe à contemplação pública, comete pecado de grave escândalo" (COCULSA, Madrid, 1956, t. III, p. 596.)
E Dom Pius Mary Noonan em "Fig Leaves Are Not Enough: Open Letters on Modesty in Dress":
"Vamos começar descartando categoricamente e condenando vigorosamente o biquíni, para o qual não há literalmente nenhuma justificativa. Longe de respeitar a medida da modéstia, é o epítome da extrema e grave imodéstia. Embora satisfaça erroneamente o requisito legal de não estar nu (felizmente ainda existem leis na maioria dos lugares que proíbem a nudez pública), não atende aos requisitos da razão. Sejamos claros: usar um biquíni é estar nu, pela simples razão de que o próprio design não deixa opção ao olho a não ser ver as partes que faltam.
Uma observação simples provará meu ponto. Todos nós sabemos por experiência que tudo o que se destaca visualmente irá capturar e prender nossa atenção primeiro. Por exemplo, se temos um grupo de dez pessoas vestidas de preto e uma no meio vestida de vermelho, é a de vermelho que atrai a maior parte da atenção; a vermelha simplesmente se destaca. O primeiro ponto de interesse chama nossa atenção. Aplicando isso ao biquíni, quando o corpo nu de uma mulher tem apenas duas pequenas peças de roupa que cobrem as partes íntimas, mas revelam cuidadosa e intencionalmente sua forma, o olho do observador é, necessariamente, atraído precisamente para essas partes íntimas. Essas pequenas peças de roupa, portanto, não são projetadas para vestir, mas para revelar, atraindo toda a atenção para essa área. Sendo esse o caso, o observador está vendo essas áreas como objetos — isso explica por que o observador tende a objetificar a mulher — em vez de parte da pessoa inteira. Portanto, fica claro que o biquíni não é projetado para vestir, mas para despir. Em outras palavras, não se qualifica como roupa e parece ter sido projetado para despertar intencionalmente a luxúria nos homens. Aliás, se o biquíni fosse útil para nadar, nadadores profissionais os usariam, mas não o fazem. Sobre esse assunto, quando você for comprar roupas, lembre-se deste ponto fundamental: roupas são sobre esconder. Se você se pegar perguntando o quanto pode escapar em termos do que revela, você não está realmente procurando por roupas, mas por nudez."
Portanto, sim, o O Catequista é do mesmo time de Miguel Soriani. Debocham do último, mas Alexandre e Viviane Varela levam os filhos à praia moderna, com todos os problemas graves de imodéstia que ela tem, e defendem como eventual entretenimento dominical um programa cujo própósito é promover a nudez e a infidelidade matrimonial. Pelas premissas aderidas pela página até mesmo a Banheira do Gugu estaria liberada para a família católica.
Em um nível mais profundo e considerando os princípios que se adota, portanto, conclui-se que O Catequista não é uma página realmente oposta ao comportamento de pessoas como Soriani, ao contrário, é uma investidora das mesmas ações (Stonks).
A pergunta do seguidor apenas relembrou vagamente ao O Catequista essa singela verdade, mas a página preferiu reprimir a própria consciência e chamar o seguidor de neurótico, maluco e sugerir a busca de um psicoterapeuta (pelos critérios da página podia ser o próprio Soriani).
Esse tipo de pertinácia do O Catequista já vimos em outros lugares, como demonstramos aqui (onde o O Catequista nega que a condenação dos Papas e teólogos dos banhos públicos seja das praias modernas), e não é um bom sinal. Em geral, significa uma cauterização profunda da consciência para diversos pecados.
Esperamos, no entanto, que um dia a página se atente para o que está fazendo e encaminhe seu apostolado para uma direção realmente sadia.
Recentemente, o meio conservador sofreu um abalo sísmico com as denúncias envolvendo o terapeuta Miguel Soriani.
O terapeuta ficou conhecido nas redes sociais por vender cursos e mentoria sobre o combate à pornografia. Contudo, conforme revelação do influenciador Gil Louteiro, Soriani aproveitava as mentorias para dar em cima de mulheres, oferecer nudes, um verdadeiro horror.
Soriani, no dia seguinte, confessou que, de fato, havia sucumbido à pornografia e que dava em cima de outras mulheres, apesar de ser casado, mas que estava se tratando. Acusou o uso de anabolizantes pela "má-fase". Uma piada.
O caso, obviamente, é muitíssimo triste e lamentável. Esperamos que Soriani realmente se arrependa perante Deus do que fez e que a humilhação pública que sofreu seja uma oportunidade de penitência e redenção.
Ataques à "bolha católica"
O caso Soriani acendeu nas redes sociais uma revolta contra a "bolha católica". Chuva de "metainfluencers" criticando outros influencers e afirmando que a "bolha católica" explodiu.
É importante frisar, no entanto, que não se trata de qualquer bolha. Muitos "metafluencers" estão direcionando as críticas, como sempre, a católicos tradicionais. Todavia, a bolha que está estourando, definitivamente, não é dos tridentinos.
Soriani é católico e terapeuta e teve como inspiração Ítalo Marsili, Dr. Jorge Rodrigues, Thiago Vieira, etc., ou seja, ele é claramente filho da nova vibe católica pós-pandemia (cf. "Conservadores católicos se rendem à imodéstia"), que classificamos como marcadamente laxista, feminista, dinheirista e antitradicional.
Em sua live de esclarecimento, Soriani disse que o que o fez sucumbir novamente à pornografia foi ouvir a experiência sexual de outras pessoas. Ora, no meio tradicional é arquissabido que nem mesmo um padre pode se expor a esse tipo de conversa. Mas Soriani é da vibe católica laxista, que não se atenta à modéstia no vestir, no ouvir, de nada.
O nosso palpite, portanto, é que o caso Soriani está revelando o início da erosão dessa nova vibe católica e que seus frutos com o tempo serão mostrados.
O Caso Cíntia Chagas e o feminismo aproveitador
Apesar dessa nova onda católica ser altamente feminista, o caso Soriani serviu de oportunidade para o feminismo católico praguejar contra o "machismo" da bolha católica em relação às mulheres.
Semana passada, veio a público que Miguel Soriani, um psicoterapeuta católico conhecido por sua liderança no movimento antipornografia, assediava sexualmente mulheres vulneráveis que o buscavam para tratamento.
Soriani fez uma live para esclarecer o “exposed” e, pasmem!, ele confirmou! Repito: ele não desmentiu as vítimas; ele confirmou. Claro, ele culpou o uso de anabolizantes, vício etc.
Disse que ficaria afastado da internet por um tempo. Mas abriu um curso de 600 Janjas e, pasmem!, há pessoas comprando. Já abusou de um monte de mulheres mesmo; por que não ganhar um troco, não é mesmo?
É como se nada tivesse acontecido.
Agora, a Cíntia Chagas revela que terminou seu casamento de forma brevíssima porque foi agredida por seu então marido, o político Lucas Bove.
Cintia foi duramente criticada pelo divórcio. Pessoas especularam os motivos e, claro, a responsabilizaram. Como ela é uma empresária de sucesso e uma mulher independente, entenderam que ELA que não se adequou ao matrimônio. Ninguém especulou sobre o que ele pudesse ter feito… é como se ela tivesse casado sozinha! Para dançar Tango e brigar, é necessário ter duas pessoas, gente!
A bolha conservadora/católica pretende ignorar isso como fez com o caso do Soriani?
Não é possível!
É preciso mobilizar um cinismo de forma muito astuta para defender ou encobrir os feitos desses homens.
E eu sei que, quando acontece casos similares na bolha adversária, ninguém lembra de passar pano.
Enganem quantas pessoas puderem, mas lembrem: Deus tá vendo!
A reclamação de Preta é que todos presumiram mal de Cíntia ao invés de Lucas. Façamos algumas observações sobre isso.
O primeiro ponto é que a socióloga não modera as palavras. Usa, no caso de Soriani, as palavras "assédio" e "abuso" de forma temerária. Assédio sexual requer uma relação de hierarquia que Soriani não tinha com suas seguidoras.
Em nosso entendimento,caberia, talvez, o crime de importunação sexual, caso seja comprovado que ele encaminhava sem consentimento nudes para suas seguidoras. Fora isso, dar em cima de mulheres pode ser prova de mau-caratismo, mas não de crime.
O segundo ponto é que Preta enfatiza que as pessoas presumiram Cíntia foi a pivô da separação por ela ser uma empresária de sucesso e mulher independente. Bom, neste ponto, devemos dizer que as pessoas presumiram certo. No casamento, a esposa ser independente é uma notável receita de bolo para o desastre das famílias.
O terceiro ponto é que a "bolha católica" não ignorou Soriani. Ele foi um dos assuntos mais comentados entre católicos. Foi comentado por Ítalo Marsili, Dr. Jorge, Thiago Vieira, Rafael Vitola Broadbeck, entre outros. Nenhum dos grandes players deixou de falar do caso. Mas aqui precisamos entender a mente feminista. Não basta comentar ou condenar Soriani. É preciso impor um penoso sôfrego látego.
O quarto ponto é que, independentemente da agressão ter ocorrido ou não, as pessoas julgaram Cíntia Chagas com base no seu histórico de "casamentos" (dois casamentos e dois amasiamentos) e de várias declarações dela a respeito da sua visão pessoal sobre o matrimônio, como neste podcast, onde revela que não deseja mais casar, que ser divorciada é elegante, que já traiu, que sua família a educou para ser independente, etc.
Cíntia é, assim como muitas mulheres do nosso tempo, uma feminista automatizada (carreirista, independente e ruim de relacionamentos), mesmo se entendendo uma mulher de direita. O feminismo automatizado dela é profundamente antifeminino, sendo evidente que os próximos relacionamentos amorosos da professora de português, se nada mudar, estarão fadados ao fracasso. Os homens que Cíntia se relacionar ou serão maridos fracos que ela montará em cima, dado o seu espírito de independência, ou serão homens que a dominarão de forma desordenada, às vezes, até por meio da violência.
Outro ponto, é que Preta de Rodinhas faz uma falsa equivalência entre Cíntia e Lucas Bove. Observemos:
- De Lucas nada se sabe sobre casamentos passados.
- Lucas não gravou podcasts com outros homens praguejando contra o casamento.
- Também não se tem notícias de denúncias passadas de violência doméstica contra ele.
Assim, estamos falando de um homem com reputação aparentemente limpa ou simplesmente Ok vs uma mulher com uma reputação para relacionamentos bastante queimada.
Claro, isso não prova nada. Mas explica porque as pessoas entenderam que ela não se adequou ao matrimônio.
Preta de Rodinhas, porém, não se apercebe dessas verdades evidentes preferindo pregar um suposto preconceito contra Cíntia pelo simples fato de ser mulher, mesmo que a opinião pública a esteja julgando pelas inúmeras redflags que ela sempre apresentou.
Quanto ao caso em si, ele merece prudência. Não se descuida da possibilidade de Cíntia ter sido realmente agredida. Por outro lado, a falsa acusação de assédio, estupro, agressão, etc., tornou-se o golpe do século, visto que, mesmo sem provas, uma mulher pode acabar com a vida e reputação de um homem pela mera acusação desses crimes.
Lembremos que o exemplo mais conhecido da História humana de falsa acusação foi bíblico, o caso de José do Egito, acusado de tentativa de estupro:
"Certo dia, tendo ele entrado na casa para fazer seus serviços, e não se encontrando ali ninguém da casa, ela segurou-o pelo manto, dizendo: “Dorme comigo!”. Mas José, largando-lhe o manto nas mãos, fugiu. Vendo a mulher que ele lhe tinha deixado o manto nas mãos e fugido, chamou a gente de sua casa e disse-lhes: “Vede: trouxeram-nos este hebreu para a casa a fim de que ele abuse de nós. Este homem veio-me procurar para dormir comigo, mas eu gritei. E vendo que eu me punha a gritar, deixou seu manto ao meu lado e fugiu”. E guardou junto de si as vestes de José até a volta de seu senhor. E fez-lhe a mesma narrativa: “O escravo hebreu – disse ela – que nos trouxeste, veio à minha procura para abusar de mim. Mas, pondo-me a gritar, deixou o seu manto ao meu lado e fugiu”.Ao ouvir isso de sua mulher, contando-lhe como se tinha comportado com ela o seu servo, ele enfureceu-se, e lançou José na prisão, onde se encontravam detidos os prisioneiros do rei. E José foi encarcerado." (Gn 39, 11-20)
Na história de José do Egito, houve falsa denunciação e manipulação de provas. Portanto, todo cuidado é pouco. É totalmente descabível Preta de Rodinhas "pagar geral" pela tomada de partido em favor de Cíntia.
O Caso Guilherme Freire e o Feminismo Derrisório de Garibaldo
Quem também surfou na onda das "denúncias" foi a página "Garibaldo Cansado" comentando sobre o caso Guilherme Freire.
Como todos sabem, neste mês de outubro, Guilherme foi processado por Catarina Zavaglia por assédio moral e sexual supostamente ocorrido na época em que trabalhavam na Brasil Paralelo. A petição inicial de Catarina pode ser encontrada na plataformaScribd.
Ao comentar sobre o caso, Garibaldo tentou demonstrar o suposto preconceito das pessoas em relação à mulher nesses casos, uma vez que sempre presumem que o homem fala a verdade.
Garibaldo, porém, falha no raciocínio.
Não é possível acusar sem provas, mas é perfeitamente possível desconfiar sem elas.
Que não seja possível ou obrigatório acusar sem provas ensina Santo Tomás:
"Portanto, se o crime for tal, que redunde em detrimento da república, estamos obrigados a acusar, contanto que possamos suficientemente prová-lo, o que pertence ao dever de acusador. Por exemplo, quando o pecado de alguém contribui para a corrupção corporal ou espiritual da multidão. Se porém o pecado não for tal que redunde em detrimento da multidão; ou ainda se dele não for possível dar prova cabal, não estamos obrigados a intentar a acusação, porque ninguém está obrigado ao que não pode realizar de modo devido." (S. Th. II-II, a. 68, q.1)
Que seja possível desconfiar sem provas, ensina-o a Igreja em múltiplos contextos, principalmente, no de aparições.
A reta desconfiança, no contexto das acusações, nada mais é do que uma prudente reserva perante casos em que há incongruências nos relatos ou mesmo emprego de atos imorais.
A injusta desconfiança, por outro lado, é aquela lançada sem prudentes razões, como esta comentada pela advogada Débora:
No caso de Guilherme, quando o processo ainda não tramitava em segredo de justiça, era possível constatar diversas incongruências, que iremos comentar a seguir, e que autorizavam uma pessoa ter uma prudente reserva em relação às acusações de Catarina.
A primeira dificuldade que se constata é que Catarina não juntou nenhum áudio, imagem ou vídeo de Guilherme fazendo qualquer coisa. Não há provas diretas contra Guilherme Freite, mas somente prints e áudios de conversas de Catarina com terceiros. Simplesmente não se tem sequer indícios do "assédio sexual" contra Catarina (OK, era esperado), nem do assédio moral de Guilherme que supostamente fazia na frente das outras pessoas. Ao menos desse último fato provas poderiam ter sido apresentadas, mas não foram.
E, em razão dessa ausência substancial de provas, o juiz indeferiu todos os pedidos liminares de Catarina.
A respeito desse indeferimento, Garibaldo tenta contornar a situação explicando que o juiz apenas teria indeferido o "julgamento antecipado" da ação:
Porém, página e a pessoa que encaminhou o comentário não explicam bem os fatos processuais.
O juiz não indeferiu o "julgamento antecipado" do processo. Segundo o artigo 355, I, do Código de Processo Civil, o julgamento antecipado da ação se dará somente quando as partes já tiverem apresentado suas versões dos fatos e o juiz entender que não há necessidade de produzir outras provas:
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
No caso em questão, o juiz não poderia sequer deferir/indeferir o julgamento antecipado neste momento processual, porque:
(i)Catarina não pediu o julgamento antecipado do processo. Assim, não poderia o juízo deferir ou indeferir o que não foi pedido;
(ii)Catarina solicitou a produção de outras provas, conforme se verifica nos Pedidos:
"177. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas tais como testemunhal, documental, pericial, o depoimento pessoal do Requerido, estudo social, bem como juntada posterior de documentos – em especial da ata notarial encaminhada junto ao Tabelionato, a qual não ficou pronta até a data do protocolo da presente ação, bem como laudos e documentos médicos posteriores –, sem prejuízo de todas as demais que se fizerem necessárias para a elucidação do feito e que desde já ficam requeridas."
(iii) Guilherme não havia sido citado nos autos, ou seja, não tinha apresentado a sua versão dos fatos.
Mas ok, peguemos leve com Garibaldo neste ponto. Ninguém tem obrigação de saber essas coisas de direito e a página apenas confiou na informação da seguidora. Sigamos.
O que o juiz indeferiu então?
O que o juiz indeferiu foi o pedido liminar de urgência de Catarina. Uma liminar de urgência é uma antecipação provisória parcial ou total dos pedidos do processo sem que a parte precise esperar até o trânsito em julgado para ser atendida. Para a liminar ser deferida, a pessoa precisa demontrar dois requisitos:
(1) a verossimilhança do direito, isto é, que há elementos razoáveis que pareçam demonstrar que ela tem razão, e
(2) o perigo da demora, ou seja, que ela necessita com urgência da antecipação dos pedidos para não sofrer, desde já, um dano de difícil reparação.
Nestas premissas, Catarina pediu liminarmente:
(a) a proibição de contato de Guilherme Freire com ela;
(b) bloqueio de conteúdos difamatórios contra ela; e
(c) que Guilherme custeasse, desde já, os seus tratamentos médicos.
Todos esses pedidos liminares foram indeferidos pelo juízo, sob o fundamento de que:
(a.1) não havia indícios de periculosidade de Guilherme;
(b.1) não havia provas de conteúdos ofensivos contra Catarina; e
(c.1) não havia, por hora, elementos de nexo causal e culpa de Guilherme para justificar o custeio dos tratamentos.
Em suma, os pedidos liminares foram rejeitados porque o juízo viu, ainda que em prima facie, que a ação não tinha provas suficientes. Embora seja verdade que o processo seguirá seu curso normal e com o devido contraditório, o indeferimento de tutelas liminares, geralmente, representam um "spoiler" da decisão final do juiz. É um "aviso": "Se você não apresentar mais provas, perderá a ação".
Ainda que não seja, como corretamente comentou Garibaldo, uma extinção do processo sem resolução do mérito, o indeferimento das liminares não deixa de ser um excelente sinal para a defesa de Guilherme.
Outro ponto que chama a atenção no processo de Catarina são os pedidos. Vários advogados, incluindo mulheres, criticaram os pedidos feitos por Catarina classificando-os como surreais.
Mas o que pediu Catarina? Bom, em síntese:
(i) "valor não inferior" a 200 mil reais, à título de danos morais;
(ii) 170 mil reais de lucros cessantes;
(iii) 17 mil reais de danos materiais e
(iv) 5 mil reais de pensão vitalícia.
Comentemos cada um.
1) Quanto ao dano moral, Catarina pede um valor que supera em muito o que famosos ganham em processos judiciais. Citemos alguns exemplos:
Contudo, no contexto da ação de Catarina, há a alegação de "assédio" sexual da parte de Guilherme. Segundo ela, ele teria tentado tocar a mão dela. Diante disso façamos mais. Senão vejamos o quantum indenizatório fixado pela jurisprudência Justiça do Trabalho em casos piores, em que houve, de fato, toques na perna, beijos forçados, agarração, etc.
Notemos que os valores, até mesmo para casos de estupro, não chegam nem à metade do que pediu Catarina.
Catarina justifica que o alto valor pedido é para cumprir uma função pedagógica, pois Guilherme teria suspostamente "mobilizado sua audiência contra Catarina" e destruído sua vida profissional.
135. De fato, a presença massiva de GUILHERME FREIRE nas redes sociais e sua habilidade de influenciar a opinião pública tornam suas ações ainda mais perniciosas. A utilização de suas plataformas para desmoralizar e difamar a autora não só intensificou o dano moral, mas também configurou uma violação dos princípios éticos que deveriam nortear a atuação de qualquer profissional, especialmente aqueles com grande visibilidade pública.
Contudo, em nossa memória, Guilherme nunca sequer mencionou o nome de Catarina em suas redes sociais. Ao contrário, sempre a ignorou.
Ora, se o fator pedagógico da indenização está atrelado a este fato e o fato simplesmente não existe, então é completamente descabido o pedido nessa monta de valores.
2) Quanto aos lucros cessantes, Catarina pede de Guilherme 170 mil reais, isto é, todos os salários da BP que ela deixou de ganhar desde a sua saída da empresa até agora.
Catarina justifica:
"155. É importante assinalar que a autora, enquanto empregada da BRASIL PARALELO, recebia uma remuneração mensal de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), e, desde sua saída forçada da empresa, em dezembro de 2021, até a presente data, ela tem estado incapacitada para o trabalho, totalizando um período de aproximadamente 34 meses até outubro de 2024.
156. Dessa forma, os lucros cessantes podem ser quantificados com base na remuneração mensal que a autora recebia, multiplicada pelo número de meses em que esteve impossibilitada de trabalhar.
(...)
159. Portanto, Excelência, requer a condenação do requerido GUILHERME FREIRE ao pagamento de lucros cessantes no valor de R$ 170.000,00 (cento e setenta mil reais), correspondentes ao período de 34 meses em que a autora esteve incapacitada para o trabalho, sem prejuízo de correção monetária e juros de mora a contar da citação, até o efetivo pagamento, e sem prejuízo dos meses que se seguirem, sem que a autora tenha possibilidade de trabalhar, o que deverá ser calculado por ocasião da liquidação de sentença."
Acontece que Catarina não era empregada da Brasil Paralelo, mas prestadora de serviço, estando bem claro em seu Contrato de Prestação de Serviços juntado nos autos que a relação dela com a BP não configuraria, em hipótese alguma, vínculo de emprego.
O pedido de condenação de Guilherme ao pagamento de todas as remunerações não recebidas nos últimos três anos é realmente algo inexplicável, fora da realidade.
Conforme se constata no Contrato de Prestação de Serviços, a duração do contrato de Catarina era apenas de 3 meses. Com efeito, a menos que Catarina comprove que assinou uma prorrogação para mais 3 anos, não se explica por que cobrar de Guilherme salários de três anos para um contrato de 3 meses.
O justo seria pedir o valor proporcional da data da rescisão até o dia final do contrato, porque seria efetivamente o que ela esperava receber, mas que deixou de ganhar. Entretanto, como ela saiu da BP em dezembro de 2021, último mês de seu contrato, ela não teria quase nada a receber.
3) Quanto aos danos materiais, Catarina pede que Guilherme pague 17 mil reais de despesas com terapia que ela gastou. Justifica o pedido alegando que, em virtude do assédio moral e sexual de Guilherme, ela passou a adquirir Transtorno de Stress Pós-Traumático, que depois se desenvolveu para uma disautonomia e que, por fim, evoluiu para uma doença neurossomatoforme. Catarina junta dois relátorios médicos e três pareces psicológicos para provar o fato.
No entanto, quando se escrutina os pareces psicológicos percebe-se que as referências aos assédios são quase nulas, sendo apenas uma e au passant. Além disso, nota-se a conclusão surpreendente da psicóloga (e muitos não repararam nisso) de que os danos psicológicos e emocionais de Catarina tinham como causa a sua relação com o pai, e que Catarina transpunha essas dificuldades da relação paternal para outros relacionamentos.
Em outras palavras, Guilherme, aparentemente, está longe de ser "a" causa dos danos psicológicos de Catarina,não se justificando que ele arque com as despesas das terapias quando não há nexo causal claro da sua responsabilidade com os danos que ela sofreu.
E faz muito sentido que Guilherme Freire não seja "o" responsável pelos problemas emocionais de Catarina. Afinal, em termos psicológicos, o que deveria impactar mais a vida de uma mulher: menos de três meses com um chefe ruim ou uma vida inteira de péssimo relacionamento com o pai?
4) Quanto à pensão vitalícia, Catarina alega que, em razão das doenças que desenvolveu, não consegue mais trabalhar presencialmente. Assim, pede a condenação de Guilherme ao pagamento de pensão vitalícia no valor de 5 mil reais.
Primeiro observemos que a própria Catarina trouxe parecer psicológico que, aparentemente, rompe o nexo de causalidade entre Guilherme e os danos psicológicos que ela sofreu.
Em segundo lugar, Catarina apenas alega incapacidade para o trabalho presencial, não sendo esta hipótese, nem de longe, uma incapacidade total de trabalhar.
Em terceiro, não há provas nos autos de que a incapacidade de Catarina seja permanente.
Em quarto, Catarina, na sua petição inicial, aponta um fato no qual ela própria teria sido a causa do seu insucesso profissional:
"85. CATARINA tentou falar, expor nas redes sociais o que sofreu, mas logo de cara sofreu todo tipo de represálias e comentários negativos que só serviram para atingir ainda mais seu psicológico já afetado, além de demostrar a extensão do poder e da influência de FREIRE, que não hesitou em utilizar sua visibilidade pública para atacar e desmoralizar suas vítimas. E essa campanha de difamação teve um impacto devastador na vida pessoal e profissional de CATARINA, que enfrentou um verdadeiro “linchamento virtual” e viu suas chances de carreira no marketing serem severamente prejudicadas."
Atualmente, criou-se o hábito em muitas mulheres de apelarem para o método "exposed", isto é, ao invés de irem à Polícia e denunciarem os abusos que sofreram, elas preferem primeiro "jogar no ventilador" das suas redes sociais ou na imprensa, sob o jargão de que "mulheres precisam denunciar".
Recentemente, tivemos um caso assim. Ingrid Santa Rita, do reality show "Casamento às Cegas", expôs seu ex-marido acusando-o de abuso sexual durante um reencontro dos participantes:
O caso ganhou repercussão e Ingrid recebeu o apoio massivo da mídia.
O mais curioso é que cerca de uma semana depois das denúncias na TV Ingrid recebeu medida protetiva da Justiça. A pergunta que não cala é: se Ingrid solicitou medidas protetivas contra o ex-marido, por que bulhufas compareceu no programa onde ele estava e ainda conversou com ele?
Muitas mulheres, infelizmente, aplicam o exposed maldosamente, para que o homem seja julgado previamente pelos "tribunais" da imprensa e da internet, a despeito de qualquer contraditório nas vias adequadas. Afinal, se ela não conseguir acabar com ele pela via judicial, já o terá destruído pelo linchamento virtual.
Em 2022, Catarina fez algo parecido. Não acreditamos que foi por malícia, mas fez. Catarina publicou um vídeo afirmando que Guilherme Freire não era a pessoa que todos pensavam, que ele era muito diferente da imagem que vendia de si, etc. O vídeo repercutiu e Catarina foi "linchada" virtualmente, conforme ela própria relatou.
Neste caso, o "exposed" teve um efeito reverso. O erro de Catarina foi não perceber que o "exposed" não funciona da mesma maneira para todos. Uma coisa é fazer isso com o Leandro Marçal, ex-marido de Ingrid, que ninguém conhece. Outra, é tentar expor pessoas de reputação excelente, que são verdadeiramente amadas e tem entrada em vários meios. Em relação a esse tipo de pessoa todos pensam: "Se alguém fala mal de fulano, boa pessoa não é".
Se qualquer um, portanto, que quisesse demonstrar "a verdade" sobre pessoas como Guilherme Freire, Padre Paulo, Frei Gilson, etc., precisaria fazê-lo com artilharia pesada, isto é, com provas cabais e irrefutáveis, como fez Gil Louteiro em relação a Soriani, e não com meras insinuações. Caso contrário, pareceria apenas um "John Doe" maledicente tentando manchar a reputação de uma pessoa que todos respeitam.
Expor alguém de grande estima de todos da maneira errada e sem provas cabais foi o erro fatal de Catarina, o que lhe custou a carreira profissional. Esta culpa não foi de Guilherme, mas exclusivamente dela. Um erro de juventude.
Diante de todas essas fragilidades da ação, a advogada e psicanalista Rafaela Filter afirmou que o processo "não tinha base" e classificou os pedidos como "esdrúxulos", opinando que a ação é uma "aventura jurídica" da parte de Catarina, que só pode ser possibilitada pela concessão da gratuidade da justiça.
Relembremos, Catarina pede:
(i) indenização por danos morais num valor muito acima de qualquer jurisprudência que se procure;
(ii) salários de 3 anos para um contrato de 3 meses;
(iii) ressarcimento de despesas de terapias e pensão vitalícia por problemas que não foram ocasionados por Guilherme ou não somente por ele.
A impressão que fica é que o processo não pretende simplesmente restituir a justiça à Catarina, mas apenar Guilherme com pedidos descabidos e exorbitantes.
Nesse contexto, é preciso lembrar que uma ação judicial, para um católico, nunca pode ser uma aventura. Ele deve buscar com toda a sinceridade unicamente a reparação da injustiça que sofreu, pois caso demande causa injusta ou desproporcional ao dano sofrido e saia vitorioso, ele provocará dano grave e injustiça a terceiro.
A respeito, os moralistas assentam que é pecado grave ajuizar causas injustas ou muito improváveis e que o advogado deve ser o primeiro juiz do seu cliente:
Antonio Peinador:
“Não pode tomar o patrocínio de causas injustas, pois se converterá em danificador de terceiro, se sai vitorioso, ou acarretará moléstias desnecessárias e gastos inúteis ao patrocinado, se é derrotado; sem contar os pecados que podem misturar-se no decurso do processo para tirar vantagem na sua causa, como mentiras, possíveis calúnias, pecado de coação, fraudes de todo gênero, etc.” (Moral Profesional, p. 259)
Santo Afonso de Ligório em sua "Teologia Moral":
“Quando a causa não tem quase nada de probabilidade, de modo que moralmente, com dificuldade, haja esperança de obter algo naquilo que junto aos juízes sempre se rejeita, regularmente não é lícito aceitá-la: seja porque faz que o cliente perca, sem fruto, tempo e dinheiro; seja porque tal causa não é tida pela opinião comum como provável.”
Neste ponto, lamentamos a atitude de Garibaldo. Ao invés de tentar entender a natureza dos pedidos de Catarina e verificar com alguém do direito se eles são viáveis, a página prefere acreditar em uma seguidora que se limita a explicar, não a plausibilidade dos pedidos, mas somente o trâmite processual:
Ora, o trâmite processual está na lei e irá ocorrer independente da natureza da causa. Em outras palavras, mesmo processos estapafúrdios, sem base alguma, possuem contraditório, ampla defesa, etc. Portanto, explicar a regra processual de uma ação não é o mesmo que demonstrar a viabilidade dela.
Garibaldo, ademais, por causa do seu feminismo apaixonado, pensa tudo de modo invertido. Critica advogados que classificam a ação de Catarina como uma "aventura", vendo nisso um suposto "machismo" porque nada falam de Guilherme.
Ora, advogados estão chamando a ação de Catarina de "aventuresca" ou "oportunista" com base no que ela apresentou. E, de fato, eles não precisam do trânsito em julgado para entender a natureza descabida da ação. Se não fosse possível a um advogado fazer esse tipo de avaliação, os moralistas simplesmente não falariam sobre o pecado de patrocinar causas injustas (!).
E por que os advogados precisam falar de Guilherme, se não há provas contra ele e se ele nem se manifestou nos autos?
É por esse tipo de comentário que Garibaldo se acusa.
Se acusa, porque prova que, de fato, não possui intimidade real com a teologia moral católica. Tem risinho de lado, tem deboche, tem meme da Barbie, mas não tem intimidade com alguns conhecimentos essenciais para um católico. E se acusa, porque demonstra não ter um coração bem disposto para ver as coisas com objetividade. O feminismo automatizado da página, infelizmente, está muito enraizado e a cega para enxergar as coisas mais óbvias e simples.
Conclusão
O caso Soriani colocou em xeque a credibilidade dos coachs católicos e com ela a nova vibe católica pós-pandemia.
A nova onda, apesar de ser católica, é completamente superficial e laxista. Ignoram os teólogos e o Magistério da Igreja em inúmeros pontos, principalmente a respeito da teologia moral. Tudo o que importa é o marketing. Pois deeterminemos já: está fadada ao fracasso.
Quanto ao feminismo católico, ele não se difere e nenhum ponto do feminismo mundano. Está tão enraizado em certas moças que elas começam a enxergar o mundo de cabeça pra baixo. Tentaram aproveitar o caso Soriani, mas, por causa do afobamento em provar sua tese (machismo estrutural entre os católicos), pegaram os piores exemplos possíveis (Cíntia Chagas e a ação de Catarina) para ilustrar o ponto, isto é, uma mulher de passado complicadíssimo e outra que ajuizou uma demanda com pedidos surreais. Resultado: os homens desses casos estão saindo maiores do que entraram.
Em suma, os casos demontram uma completa falta de sabedoria dessa nova onda católica. Não há meditação profunda ou estudo sério de nada, nem sobre a teoria nem sobre a práxis católica. Em síntese, não há Tradição nela.
Os frutos dessa nova onda, a luxúria dos homens e o feminismo das mulheres, é apenas uma consequência lógica dos seus próprios princípios laxistas e antitradicional que adotaram.
No dia 18 de setembro, o Pe. José Eduardo e a influencer Jéssyca Jacóbus realizaram uma live para tratar de problemas da chamada "bolha católica".
Em que pese o atraso em reagirmos a esta live somente agora, entendemos necessário tecer alguns comentários, tendo em vista a grande repercussão que teve e o temas trabalhados, alguns deles já exaustivamente comentados neste blog.
Os "Metainfluencers"
Primeiramente, convém comentarmos sobre a tal "bolha católica". Tem sido uma práxis de páginas como O Catequista, Preta de Rodinhas, Jules Freitag, Garibaldo Cansado, entre outras, o ataque a inimigos etéreos como "os influencers", a "bolha", como se elas fossem um grupo completamente apartado desse universo, isto é, como se não fossem elas próprias influencers criticando outros influencers, mas uma casta elitizada que olha tudo de cima pra baixo e critica a bolha/influencers por "ditarem regras", venderem cursos, etc. Em suma, se vêem notadamente como "metainfluencers".
Tal postura, no entanto, é realmente ridícula. Todas essas páginas, sem exceção, buscam exercer influência na internet/vender curso, não sendo uma casta realmente diversa daqueles que elas criticam. Ademais, essas páginas exacerbam a culpa da bolha/influencers e diminuem a responsabilidade pessoal de cada por seguir maus conselhos. Quem escuta conselhos ruins deve se responsabilizar pelo que escuta.
É necessário, portanto, ter uma visão ponderada sobre o tema. Não existem "os influencers", como um grupo de malvadões que comandam a internet, tampouco a "bolha católica", como um grupo uníssono de católicos com as mesmas ideias e opiniões. Mesmo entre católicos conservadores existe uma larga diferenciação. Nisto vemos as muitas diferenças entre católicos tradicionais, tradismáticos, obreiros, etc. O que existe, na verdade, são pessoas que trabalham na internet e que dão suas opiniões, boas ou não, podendo pertencer a algum grupo específico de católicos ou não. E existem pessoas que aderem a elas ou não. Tudo normal debaixo do Sol.
No caso da live, a "bolha católica" atacada parece ser, novamente, as mulheres tradicionais. Como alertamos muitas vezes neste blog, há, atualmente, uma onda virulenta de ataques ao catolicismo tradicional. Esse movimento tem sido encabeçado, principalmente, por moças que abraçaram o feminismo católico.
Nota-se, nesse contexto, que Jéssyca Jácobus segue o típico padrão comportamental de uma feminista católica que já reportamos muitas vezes: contestação de padrões de modéstia, do uso do véu, da mulher do lar, etc.Pois, bem. Já sabemos onde isso tudo vai parar. Conhecemos bem o roteiro dessas moças.
Nesta live, em especial, Jéssica busca uma validação do seu feminismo com o Pe. José Eduardo. O padre é bem visto no meio católico conservador, mas, como um sacerdote "tradismático", não é nada tradicional. Em recente polêmica com o Centro Dom Bosco, o sacerdote fez depreciações objetivas ao Catecismo de Trento, conforme demonstramos no artigo "Sobre a polêmica do Catecismo Romano do Centro Dom Bosco". Agora ele se senta com Jéssica para desqualificar a feminilidade tal como difundida nos meios tradicionais.
Pois bem. Não tocaremos em todos os temas da live, mas majoritariamente aqueles que já foram comentados neste blog. Assim, faremos uma análise do que disseram o padre e Jéssica a respeito da (i)paternidade responsável; (ii) parto natural; (iii) modéstia; (iv) uso do véu; e (v) trabalho externo da mulher casada.
Paternidade Responsável
Pe. José Eduardo inicia sua fala (1'34") dizendo, como este blog, que a pandemia foi um verdadeiro divisor de águas entre os católicos. Contudo, diz que, na pandemia, muitas excentricidades entre católicos foram trazidas à luz. Cita como exemplo a posição dos que dizem que o método billings é camisinha católica. Então diz: "Isto aqui é contra a doutrina da Igreja. É contra a doutrina moral católica. Por que? Porque a Igreja Católica ensina a paternidade responsável" (6'14").
É curioso ver como o padre presume bondade/licitude de coisas que não são naturalmente boas ou lícitas. Este modo de pensar, infelizmente, será reproduzido pelo padre diversas vezes na live.
Primeiramente, o padre trata o método billings como sinônimo de paternidade responsável. Esta afirmação, no entanto, é notadamente equivocada. Não se presume a licitude do método billings e nem de qualquer outro método natural sem a existênciademotivos gravesque autorizem o seu uso. Conforme ensinou o Papa Pio XII em Mensagem às parteiras de Roma em 1951:
"O simples fato de que os cônjuges não firam a natureza do ato e estejam prontos a aceitar e educar os filhos que, apesar de suas precauções, viesse à luz não bastaria, por si só, para garantir a retidão da intenção e a rigorosa moralidade dos próprios motivos.
A razão é que o Matrimônio obriga a um estado de vida que, do mesmo modo que confere direitos, também impõe o cumprimento de uma obra positiva que tem em vista o próprio estado. [...] O indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem para sua existência, na ordem estabelecida por Deus, do matrimônio fecundo. Portanto, abraçar o estado matrimonial, usar continuamente da faculdade que lhe é própria e somente nela é lícita, por outro lado,subtrair-se sempre e deliberadamente, sem um grave motivo, ao seu dever primário, seria pecar contra o próprio sentido da vida conjugal. [...] A vontade de evitar habitualmente a fecundidade da união, embora se continue satisfazendo plenamente a sensualidade, não pode derivar senão de uma falsa apreciação da vida e de motivos estranhos às retas normas éticas." (Mensagem às parteiras de Roma, 29 de outubro de 1951)
Em segundo lugar, o padre não menciona que os métodos naturais não são sequer a opção mais perfeita e virtuosa para o espaçamento de filhos. Opção moralmente superior (e, claro, mais difícil) é a continência do casal, isto é, a abstenção completa de relações sexuais enquanto o motivo grave existir.
A continência é superior aos métodos naturais em múltiplos pontos:
1) Quanto à virtude da castidade. A continência consensual presume-se lícita ao casal independente de motivos graves, mesmo que dure a vida inteira (casamento josefino). Já o uso dos métodos naturais não se presume lícito, sendo necessário existir motivos graves.
2) Quanto à virtude da prudência. O casal continente compreende que, se é realmenteimpossível ter filhos em determinado momento, então a forma 100% segura e responsável de não tê-los é se abstendo de relações sexuais. Já o "casal PFN", isto é, aderente do planejamento familiar natural, pode ser surpreendido com um filho que vem "na hora errada".
3) Quanto à virtude da religião. A continência favorece mais a vida de oração, como ensina São Paulo (1 Co 7,5). Os esposos sempre foram incentivados pela Igreja a abster-se do ato conjugal de tempos em tempos para praticar melhor a virtude da religião, como demonstramos aqui, não havendo maiores dúvidas quanto a este ponto.
Obs: Assim notamos o problema de páginas como a do "Garibaldo Cansado", que gastam tempo debochando de católicos "providencialistas" enquanto fazem a ferrenha defesa dos métodos naturais. Ora, os métodos naturais admitem "margem para Deus trabalhar", pois, como diz o teólogo moral Arthur Vermeersch a respeito deles, "enquanto o uso [do matrimônio] se fizer normalmente, conserva sua direção para o seu fim primário - a geração" (Matrimônio Cristão, p. 60), ou seja, não afastam por completo o "providencialismo". Se um casal PFN tiver filhos num momento difícil, é porque, ulteriormente, fizeram o ato necessário para tê-los.
Uma atitude mais prudente, responsável e coerente, portanto, contra o "providencialismo" seria a adoção da continência completa, não dos métodos naturais. Afinal, o primeiro erradica qualquer possibilidade de providencialismo, o segundo não.
Continuemos.
Em segundo lugar, é simplesmente um fato que muitos casais utilizam os métodos naturais com uma metalidade contraceptiva e falam dele praticamente como um substituto dos contraceptivos. Nesta mentalidade, encontram-se inclusive muitos "teólogos do corpo" famosos como Christopher West, Jason Evert, Greg Popcak, etc., que em seus livros falam do "planejamento familiar natural" (PFN) como um verdadeiro substituto dos contraceptivos, sempre em termos de "eficácia" para não se ter filhos.
Vemos no livro "Se você realmente me amasse" (Jason Evert):
"Contraceptivos não são necessários para o planejar o tamanho familiar. Em Calcutá, o PFN provou ser uma alternativa que funciona efetivamente. O British Medical Journal relatou: Verdadeiramente, um estudo de 19.843 mulheres pobres na Índia (praticando o PFN para evitar a gravidez) obteve uma taxa de gravidez próxima de zero." (p. 225)
Já em "Boas Novas sobre sexo e casamento" (Christopher West), temos:
"[...] Se você considerar apenas o grupo de pessoas que foram educadas adequadamente nos métodos modernos do PFN e que estão motivadas a seguir as regras, a taxa de eficácia aumenta para 99%." (p. 208)
Notemos como Evert e West buscam convencer o leitor a trocar os contraceptivos químicos ou artificiais pelo PFN, porque o último seria tão ou mais "eficaz". Contudo, "se a PFN não é contracepção", então toda essa conversa em termos de "eficácia" é realmente suspeita. Com diz o Pe. Michael Malone no livro "The Case Concerning Catholic Contraception":
"Atualmente, o PFN é apregoado como uma forma lícita de controle de natalidade (seja chamado de “controle de natalidade” ou “regulação de natalidade” ou “conscientização sobre fertilidade”), às custas do ensino sobre a necessidade de “razões sérias” para usá-lo, e sem mencionar a virtude de produzir uma família grande. Quando seus promotores apontam que o PFN é “tão eficaz” quanto várias formas de contracepção “se você seguir as regras”, eles empregam a mesma linguagem e implicam o mesmo tipo de pensamento que vemos naqueles que defendem o uso de contracepção. Quando é proclamado que o PFN é “99% eficaz”, não há outra maneira de entender “eficaz” exceto como “bem-sucedido na prevenção da concepção”. É realmente incorreto chamar isso de “mentalidade contraceptiva”? Se esse rótulo se encaixa em qualquer um, na maioria ou em todos os usuários do PFN é um ponto discutível. Ao discutir o rótulo, negamos o fato de que nós, católicos, compramos o mito cultural atual de que o “planejamento” familiar é melhor do que o “acontecimento” familiar. Em alguns aspectos, debater o PFN é uma questão secundária. O ponto real da conversa — quer usemos o termo “contracepção artificial”, “mentalidade contraceptiva” ou “controle de natalidade” — é este: o controle de natalidade não é, nem nunca foi, um valor católico. Sem confrontar a mentalidade de “controle de natalidade” que está por trás disso, continuamos presos lutando contra os “sintomas” em vez da “causa”. O PFN é apenas uma questão porque o “controle de natalidade” entrou nas discussões sobre o casamento como um valor católico autêntico. O fenômeno “casos extremos fazem lei ruim” está aqui em abundância: o que deveria ser uma situação excepcional se tornou um “modo de vida” — como evidenciado pelo fato de que dioceses e paróquias estão exigindo aulas de PFN para casais que pretendem se casar na Igreja."
Há um notório problema de ênfase dos promotores da PFN. De fato, nos livros de Evert, West, etc., não vemos uma exposição clara dos motivos graves (médicos, eugênicos, econômicos ou sociais) que autorizam o uso dos métodos naturais. Apenas constatamos a comparação com os contraceptivos em termos de eficácia e o incentivo a utilizá-lo como um estilo de vida. Não está errado, portanto, quem enxergue nisso uma profunda mentalidade contraceptiva, apesar do verniz católico.
O controle de natalidade, ao contrário do que querem fazer crer muitos promotores da PFN, não é um estilo de vida, mas uma medida excepcional, como salienta o Pe. George Kelly em seu livro "Manual do Matrimônio Católico":
"O controle de natalidade, portanto, deve ser uma medida excepcional no casamento, nunca a regra." (p. 43)
E Dom Rafael Llano Cifuentes em "Noivado e Casamento":
"A Igreja não propõe nem recomenda o uso dos métodos naturais, simplesmente permite utilizá-los quando existam motivos que justifiquem." (p. 203)
Portanto, não é um erro crasso dizer que o método billings é camisinha católica, já que o uso de nenhum método natural tem sua bondade presumida. Não basta o ato conjugal desimpedido, é necessária a reta intenção. Em outras palavras, a bondade do uso do método natural precisa sempre ser demonstrada. A própria Jéssyca, há 1 ano, admitia que o método billings era camisinha católica, como se observa nos seus Destaques de Instagram ainda hoje:
Parto Natural
Em seguida, Pe. José Eduardo começa a tratar do problema do parto natural em contraposição à cesárea.
"Agora tem a moda do parto natural. Algumas pessoas estão dogmatizando este assunto. Eu entendo que realmente exista uma forçação de barra para empurrar a mulher para a cesárea e que, muitas vezes, é sonegado à mulher o direito de pensar em ter um parto natural. Mas qual é o problema? O problema é que você não está obrigado pela doutrina da Igreja a ter parto natural." (10'49")
Novamente, o padre presume a bondade/licitude de coisas que não são naturalmente lícitas, dando uma falsa sensação de que católicos podem escolher intercambiavelmente entre uma coisa e outra.
É preciso lembrar que o parto por cesárea é, antes de tudo, uma intervenção cirúrgica e, moralmente falando, toda cirurgia deve ser motivada por alguma razão séria, pois se trata de um meio extraordinário para a preservação da própria vida ou saúde.
O católico não está obrigado aos meios extraordinários, mas apenas aos ordinários, como afirma o teólogo Heribert Jone em seu "Moral Teology":
"Para a preservação da vida e da saúde, deve-se empregar pelo menos os meios ordinários." (n. 210)
No contexto do parto, a Teologia Moral Católica assenta que não é lícito o emprego de técnicas que não sejam totalmente inofensivas para a mãe e o bebê. Por isso se presume lícito o emprego de anestésicos e de cortes na parturiente sem justa causa. Conforme demonstram os estudos, há riscos e perigos no uso de anestésicos.
A respeito, diz o teólogo moral Antonio Peinador Navarro em "Moral Profesional":
"Se o parto for normal, com o consequente desconforto, suportável para toda mãe normal, em princípio deve-se dizer que o uso de analgésicos destinados a reduzir ou suprimir a dor não é lícito, pelos perigos que representa para a mãe e para o feto.
Além disso, todos os especialistas concordam que a dor do parto, que é a pena do pecado, é o grande meio que a natureza utiliza para fortalecer, de forma admirável, os laços afetivos entre mãe e filho. Além dos inconvenientes físicos não desprezíveis que costuma acarretar o uso de remédios artificiais para conseguir um parto sem dor, há esta outra dessensibilização ou desafetação ou desmaternização da parturiente, que nunca se considerará tão envolvida no trabalho da maternidade como quando, durante o clímax dela, é uma parte ativa plenamente consciente.
(...)
Consequentente, nos partos distócicos estão de acordo os teólogos acerca da licitude da anestesia. Enquanto aos partos normais ou eutócicos, dizemos que, em princípio, devemos nos manifestar pela ilicitude do uso de qualquer técnica que não seja totalmente inofensiva para a mãe e para a criança." (p. 329-330)
Notemos que, para um parto cesariano acontecer, é necessário empregar: (i) anestésicos na mulher e (ii) um corte invasivo no abdômen. Nenhum dos dois é completamente inofensivo para ela e para a criança. Por isso, a cesariana só é recomendável para partos distócicos ou com causa médica proporcional.
Assim, não pode ser simplesmente presumida a moralidade do parto cesariano como presumiu o Pe. José Eduardo. O parto normal é biologicamente adequado para a mulher, já a cesárea não é e precisa de causa justa. Não são escolhas intercambiáveis.
Abaixo segue ainda um quadro da própria obstetra sobre as causas cientificamente provadas que justificam a recomendação da cesárea:
O currículo lates da Dra. Melania pode ser encontrado aqui.
Modéstia
A partir dos 16'00", Pe. José Eduardo e Jéssyca começam a falar de modéstia. Rapidamente, a calça se torna objeto da conversa:
Pe. José Eduardo: "A gente precisa entender que os usos e costumes vão mudando ao longo do tempo. O católico precisa ser modesto dentro da referência cultural que ele tem. Um exemplo. Há oitenta anos atrás, socialmente, era proibido que a mulher usasse calça. Calças eram vestimentas exclusivas de homens. Ao longo do tempo isso foi mudando e as mulheres passaram a usar calça também. Ora, se eu pego uma Carta Pastoral escrita há 80 anos atrás, quando usar calça comprida para mulher era considerado um escândalo, ainda mais quando a mulher viesse à Igreja para comungar, etc., e quero aplicar esse mesmo princípio hoje como vinculante, eu estou cometendo um anacronismo que só vai fazer o católico se tornar exótico, estranho. [...] O jeito de ser mulher, o jeito de ser homem muda. Então, por exemplo, uma mulher há 50, 80 anos atrás, ela não precisava fazer certas coisas que a mulher de hoje precisa fazer. Ela ficava em casa basicamente e a vida dela se desenvolvia ali, ela não pegava transporte público, ela não precisava passar por lugares um pouco inóspitos, havia uma série de diferenças. Então eu não posso pegar aqueles usos e impô-los. Se você quiser usar, querida, usa. Se você quiser pegar a cortina da sua casa, fazer um vestido e sair com ele na rua, direto teu. Não tem problema nenhum. Só não vem impor isso como um mandamento divino para as outras mulheres." (16'29")
Pe. José Eduardo traz uma série de pontos que merecem comentários. Vamos expô-los um por um.
1) É verdade que o católico deve ser modesto dentro da sua referência cultural, mas, hoje, não temos uma. Durante milênios era simplesmente natural cada povo ter uma vestimenta típica e realmente modesta, porém, atualmente, isso não existe mais. Conforme demonstramos no artigo "O Novo Curso de Bernardo Küster e o Catolicismo Tradicional", mediante exposição de trechos palestra do Pe. Luiz Fernando Pasquotto (IBP) sobre a pós-modernidade, os autênticos costumes dos povos foram destruídos pelo liberalismo e substituídos pelo arbítrio individual:
"Ao contrário de um pós-moderno, eu me visto para indicar o que eu sou. Eu não sou o resultado final a partir do que eu escolhi para me vestir.
A moda é uma característica da pós-modernidade. Você que escolha a roupa para ser de um certo jeito. Em outro dia você será de outro jeito, a partir do modelo de roupa que você vestir naquele dia.
Um dos problemas da modéstia, hoje em dia, é que não existe um costume da roupa de cada lugar. Cada um escolhe a roupa que quer. Se a pessoa não tem princípios, é um desastre.
Podem perceber. A gente tem que ficar o tempo inteiro refletindo se a roupa que a gente está usando é razoável ou não. Onde se tinha costume consagrado no lugar, ninguém pensava nisso aí. É aquela roupa e pronto. Não tem erro.
Uma das coisas que facilitou enormemente a imodéstia foi deixar ao critério de cada um como é que se deve vestir. Não estou dizendo que você deve ser totalitarista e impor uma roupa, mas era um costume baseado nas características daquele povo. Ele tinha se dado aquela roupa e ficava de modo estável. A modernidade fez questão de destruir isso daí e agora só tem os destroços." [33'07"]
Conferência "Modernidade, pós-modernidade e a família" - III Jornada de Casais da Capela N. Sra. das Dores, IBP.
Portanto, não existe uma "referência cultural" de modéstia nos dias de hoje. Pe. José Eduardo, sem querer, comete um anacronismo aplicando princípios sociais que não existem mais. Para concordar com o padre seria necessário ceder que as roupas atualmente utilizadas pelas mulheres são modestas, mas este é justamente o ponto que precisa ser provado.
2) Aplicar, hoje, uma Carta Pastoral de 80 anos atrás, quando o uso de calças era escandaloso, não é necessariamente um anacronismo. Provavelmente, ao falar da Carta Pastoral, o padre se referia à "Notificação às mulheres que usam roupas de homens" do Cardeal Siri, escrita em 1960. O padre, todavia, falha em ver que o costume das mulheres usar calças, embora possa não ser mais um escândalo como antes, pode ser um hábito corrompido. Se for este o caso, não há anacronismo em se buscar modelos antigos mais sãos.
Uma moda corrompida é facilmente atestável por qualquer um que conheça os retos princípios da modéstia no vestir. A respeito, vejamos o exemplo de Santo Afonso de Ligório, que em sua Teologia Moral comentou a respeito das mulheres que, por costume, andavam com os seios parcialmente desnudos:
"Digo, porém, 3º que, se desnudamento do peito não fosse tão imoderado, e se em algum lugar vigorasse o costume de as mulheres andarem assim, decerto deveria ser reprovado, mas não condenado completamente como pecado mortal." (Teologia Moral, tomo II, cap. 2, 55)
Santo Afonso, embora não acusasse com firmeza tal hábito como pecado mortal, reprovava o costume. Se não era pecado grave uma pessoa seguir o costume, era, no entanto, condenável promovê-lo. Nisto vemos que o costume atual não torna automaticamente o costume anterior anacrônico, se este for mais são que aquele.
Dito isso, reflitamos. Uma sociedade que não distingue adequadamente as roupas masculinas das femininas e que substitui trajes modestos por outros mais sensuais, certamente, possui um costume corrompido. Não há problema algum de católicos, neste caso, batalharem contra esse costume para elevar o padrão da modéstia.
Atualmente, a diferença entre a calça masculina e a feminina está unicamente no tipo de modelagem. Calças femininas modelam mais o corpo que as masculinas. Ou seja, o aspecto feminino da calça é medido pela sensualidade.
Este é um gargalo que os defensores da calça feminina simplesmente não conseguem passar. Não conseguem provar que o uso de calças por mulheres é um costume são. Geralmente, para defender-se, adotam o discurso de que basta usar "calças mais folgadas" ou com "um número maior". Contudo, o máximo que conseguem com isso é transformar mulheres femininas em skatistas.
Não seria mais fácil adotarem uma roupa decisivamente feminina e acabar com a confusão?
Por fim, para demonstrar que a aplicação da Notificação do Cardeal Siri nos dias atuais é anacrônica, é necessário provar que os efeitos psicológicos das calças nas mulheres não existem mais. Segundo o Cardeal, as calças causaram nas mulheres três efeitos:
a) Mudança psicológica nas mulheres. Mulheres ao se vestirem como homens são incentivadas a agirem como um ou a competirem com eles, tornando-se menos femininas.
b) Mudanças nas relações com o marido. Mulheres que se vestem causas tendem a ser mais feministas. Como explica Dom Pius Mary Noonan em seu livro "Fig Leaves Are Not Enough":
"De fato, se ela se veste como homem e quer competir com o homem, então o homem principal em sua vida (seu marido) não pode deixar de sentir — mesmo que ele não expresse isso para si mesmo dessa forma — que ele não está fazendo seu trabalho bem o suficiente, e consequentemente isso pode viciar o relacionamento entre os sexos que Deus viu como uma complementaridade e não uma competição. O cardeal Siri chega a dizer que “uma mulher vestindo roupas masculinas sempre mais ou menos indica que ela está reagindo à sua feminilidade como se fosse inferior (à masculinidade) quando na verdade é apenas diversa”. Essa mentalidade insidiosa tem graves efeitos adversos na mulher, mas também no homem. Os homens, por natureza, são feitos para liderar, e então se a esposa de um homem deixa claro que ela quer liderar, o homem, especialmente se ele for menos talentoso que sua esposa, se vê emasculado."
c) Mudanças nas relações com os filhos. Mulheres psicologicamente mudadas pelo uso de roupas masculinas e pela competição com homens são mais propensas a não quererem filhos e não cumprirem seu papel materno de forma adequada. Cardeal Siri, neste ponto, foi realmente profético:
"O que estas mulheres serão capazes de dar a suas crianças, tendo usado calças durante tanto tempo e com sua alta-estima determinada mais por sua competição com os homens do que por seu papel como mulher?
Perguntamo-nos porque, desde que o homem existe – ou melhor, desde que ele se tornou civilizado: por quê tem sido o homem, em todos os tempos e lugares, irresistivelmente levado a fazer a diferenciada divisão entre as funções dos dois sexos? Não temos aqui um testemunho exato para o reconhecimento, por toda a humanidade, de uma verdade e de uma lei acima do homem?
Para resumir, quando uma mulher veste roupas de homem, deve ser considerado um fator, a longo prazo, da desintegração da ordem humana."
Ora, é possível alguém com honestidade intelectual dizer que esses efeitos deletérios da calça na mulher cessaram? Não, não é possível. Eles continuam em pleno vigor. Portanto, não há aplicação anacrônica da Carta Pastoral.
Dom Pius Noonan acrescenta ainda em Figs outras desvantagens das calças quanto à deseducação que promovem quanto à modéstia no vestir e nos movimentos corporais. Algumas etiquetas como não ficar de pernas abertas na presença de um homem ou não ajustar a roupa íntima em público foram paulatinamente perdidos com o advento da calça.
"Amanda, eu entendo e também ouvi de várias mulheres que elas simplesmente não têm noção de como suas roupas e comportamentos afetam os homens. Existem certas posições e ações que são toleráveis em um homem, mas que uma dama deve evitar em público. Por exemplo, embora seja perfeitamente permitido quando estiver sozinha ou com sua irmã deitar no chão, você não deve fazer isso quando houver outras pessoas, especialmente homens, por perto. Nem uma dama estica os braços ou abre as pernas na presença de um homem. Usar um vestido modesto, quase automaticamente e por si só, lhe dará o instinto de evitar essas coisas, mas quando você está usando calças ou mesmo shorts, não é assim. Da mesma forma, você não deve ajustar suas roupas íntimas na presença de outras pessoas ou tocar as partes íntimas do seu corpo. Essas são coisas que todos costumavam aprender, mas aqui e ali agora se nota uma falta de educação nessas questões, mesmo em adultos."
Outra desvantagem da calça é que ela não é um meio efetivo de combater a ideologia de gênero. A respeito, o psicólogo católico Gerard van den Aardweg observou, em seu livro "The Battle for Normality: A Guide for (Silf-) Therapy for Homosexuality", que em culturas que possuem uma clara distinção entre homens e mulheres, a homossexualidade é rara, senão inexistente. O conselho que o psicólogo dá para mulheres que sentem atração pelo mesmo sexo é justamente a adoção de hábitos femininos no vestir:
"Algumas mulheres lésbicas podem fazer bem em emendar sua aversão teimosa a usar um vestido bonito ou outro traje típico de mulher. Use maquiagem, pare de parecer um garoto na adolescência e talvez descubra que então você terá que lutar contra um sentimento emergente de "ser feminina não é nada para mim". Tente consertar uma interpretação possivelmente arraigada do papel do "cara durão" com relação à sua maneira de falar e entonação (ouça a si mesma em uma fita), gesto e andar.
(...)
Uma vez que ela descubra a conexão com sua rejeição "baseada em princípios" de hábitos "femininos", uma mulher lésbica deve romper com uma aversão a cozinhar, por exemplo, ou talvez a servir seus convidados, ou, em outro caso, a se dedicar aos chamados detalhes "sem importância" do trabalho doméstico, a ser terna e maternal com crianças pequenas, especialmente bebês. (Ao contrário do que é frequentemente sustentado com base espúria em pseudoestudos, algumas mulheres lésbicas são inibidas em seus sentimentos maternos e tratam as crianças como jovens líderes aventureiras, em vez de mães.) Abandonar-se ao “papel” feminino é uma vitória sobre seu ego infantil e, ao mesmo tempo, uma revelação emocional:um começo da experiência da feminilidade." (p.137-138)
Notemos que o psicólogo não indica calças para mulheres lésbicas, mas vestidos. Não há muito o que duvidar aqui: o vestido é o ornato feminino por excelência. Por isso ele é recomendado para qualquer uma que queria resgatar ou iniciar uma experiência de feminilidade.
Uma última desvantagem da calça é que ela não demonstra adequadamente o estado de vida da mulher, conforme ensina o Pe. Chad Ripperger aqui:
"As calças são vistas como uma declaração contra a feminilidade adequada ou uma falta de distinção entre homens e mulheres.
No entanto, é mais perfeito para as mulheres usarem um vestido ou uma saia e, portanto, é mais decoroso.
E com isso quero dizer que se encaixa mais perfeitamente nela como mulher. É mais feminino. Tem uma aparência mais feminina. E, portanto, é mais modesto porque é mais decoroso, se encaixa em quem ela é mais perfeitamente do que as calças.
Calças são vestimentas de um trabalhador, e as mulheres não receberam a tarefa de trabalhar. A única razão pela qual as mulheres têm que trabalhar é por causa de alguma necessidade grave. O trabalho foi dado ao marido e é por isso que ele usa calças na família."
Católicas que criam uma verdadeira batalha pelas calças não estão contribuindo para o resgate da feminilidadena sociedade. Simples assim.
Continuemos.
Em seguida, Jéssyca e Pe. José Eduardo continuam comentando sobre as diferenças do uso da calça antigamente e atualmente:
Jéssyca Jácobus: Quando as mulheres começaram a usar calça, poderia ser uma certa rebelião feminista. Mas hoje não é. Hoje, nenhuma mulher coloca uma calça para parecer um homem ou querer ser como um homem. Assim como, hoje, nenhuma mulher coloca unha vermelha para parecer uma prostituta. A moda muda, a cultura muda. Isso não é "a" verdade. É uma confusão mesmo. Eu já vi gente dizer "Eu não uso unha vermelha. Nossa Senhora não usaria". Minha, então vai se vestir igual Nossa Senhora. Não faz sentido. Tem umas comparações que são bestas, né?
Jéssyca busca abafar a influência feminista no uso de calças hoje dizendo que as mulheres não usam calças atualmente por serem feministas. Engana-se, contudo. As mulheres de hoje são feministas. Extremamente feministas. O feminismo já virou um modo de pensar e de agir das mulheres. O simples fato de não perceberem isso não significa que não sejam influenciadas.
Em seguida, Jéssyca adota um pensamento cartesiano "Penso, logo existo" ou "Se não uso calça para querer ser um homem, então não pareço um". Não precisamos dizer que não basta a intenção de uma mulher em não parecer um homem, é realmente preciso não parecer um. Isso se faz adotanto roupas realmente distintas dos homens, algo que a calça não é.
Pe. José Eduardo: "A pessoa vai se vestir que nem Nossa Senhora de Fátima, com um manto assim no meio da rua. Você está doida, né? Manda para um psiquiatra, porque não tem jeito. [...] Eu não estou dizendo que todo tipo de calça é moralmente correta de ser usada por mulheres e por homens. Tem certo discurso que parece que ele é unilateral. Só a mulher precisa pensar no pudor, os homens não. Todo mundo tem que pensar no pudor, todo mundo. Se uma mulher veste uma calça muito bem feita e costurada, às vezes, é até mais decente que uma saia."
Pe. José Eduardo complementa o comentário de Jéssyca acerca de mulheres que buscam se espelhar em Nossa Senhora na vestimenta debochando e tirando sarro. É um deboche que bate, claro, em um espantalho. Nenhuma mulher que se espelha na modéstia de Nossa Senhora pretende vestir-se como ela em seus dias, mas apenas inspirar-se no seu exemplo.
Neste ponto, convém mencionarmos o livro "Marylike Modesty Handbook of the Purity Crusade of Mary Imaculate" do Pe. Bernard A. Kunkel, fundador da Cruzada Mariana para a modéstia. Na obra, o padre esclarece o que seria ter Nossa Senhora como modelo de modéstia:
"A Cruzada Mariana apresenta Maria como o perfeito modelo de todos os cristãos e baseia-se no Magistério da Igreja, nos Santos, em algumas revelações privadas mas sobretudo nos Papas, que são a Autoridade Suprema na Igreja. Daí o duplo lema: "Tudo o que Maria Santíssima aprova. Tudo o que a Igreja aprova".
[...]
Maria não pede a nenhuma mulher que use os estilos de traje em voga em Seus dias, mas "O que Maria Aprova" para nossos dias. A modéstia não diretamente relacionada com o topo, estilo, ou corte do vestido, mas com a correta cobertura para o corpo."
Portanto, está claro o espantalho que Jéssyca e Pe. José Eduardo criaram. No entanto, ainda que não achemos que as mulheres devam se vestir como Nossa Senhora em sua época, o padre caçoa de mulheres que cobrem a cabeça mesmo na rua. Ora, este hábito é vivido ainda hoje por mulheres muçulmanas, hindus, judias, ortodoxas, cristãs orientais, como se segue nas imagens abaixo:
O que deve ser feito com elas, Padre? Internar num hospital psiquiátrico?
É muito triste observar que mulheres não-católicas conseguem provar a plena viabilidade dos padrões marianos em nossos dias enquanto católicas ocidentais, ao invés de tentarem recuperar uma cultura sadia para as mulheres, perdem tempo fazendo guerra contra o véu e contra os vestidos.
Parafraseando Nosso Senhor: "Se elas se calarem, as pedras clamarão".
Sigamos com a live.
Jéssyca Jácobus: Pergunta [do chat]: Pode ir de top ou de legging a missa? Gente, é óbvio que não. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Pe. José Eduardo: O bom senso mandou lembrança, tá bom?
Ué? Mas qual a diferença essencial entre uma legging e uma calça jeans? Os mesmos princípios da calça podem ser aplicados para a legging. Se uma mulher adotar uma legging mais folgada ou com um número maior, não atenderia aos padrões de skatista do padre e de Jéssyca? Ambos pedem "bom senso", mas não explicam porque uma pessoa que adota esse modo de pensar deles estaria errada nessa circunstância.
Véu
Sobre o véu, Jéssyca e Pe. José Eduardo comentam o seguinte:
Jéssyca Jácobus: Alguém falou ali [no chat] do véu, padre. Toda vez que eu falo de roupa e que não há uma obrigação do véu, vem alguém vem com um artigo de um inciso do Magistério, não sei o que. O véu é obrigatório?
Pe. José Eduardo: Olha, o véu não é obrigatório. A Igreja não diz isso. A Igreja Católica, atualmente, não diz que existe uma obrigatoriedade do véu. Porém, ela também não proíbe o uso do véu. Isso é matéria de livre adoção. Eu acho bonito mulher que usa véu, acho piedoso. Mas isso é de cada uma. Eu não posso chegar na minha paróquia e dizer "Agora, toda mulher tem que usar véu!".
Jéssyca Jácobus: É que tudo é uma questão de não ser uma prática vazia, né? Que o uso do véu represente realmente o transbordar de uma vida interior profunda, de uma devoção, de uma humildade diante do Senhor e porque eu vou colocar o véu, porque eu sou a patrulha do véu, superior às outras.
Já Jéssyca fala um non sense. O uso piedoso do véu independe das condições interiores da mulher. Tanto que é uma obrigação. Portanto, não importa se a mulher é orgulhosa ou não, o véu deve ser utilizado em respeito ao templo sagrado, a Jesus Sacramentado e ao marido. São realidades objetivas que transcendem o autocentrismo feminino.
Continuemos.
Pe. José Eduardo: E depois você vê, né? Nas igrejas protestantes isso virou até caricaturesco. Nas igrejas pentecostais tipo reteté, aquelas mulheres com véu, aquela coisa toda horrorosa. Então é preciso tomar cuidado. Mesmo as mulheres antigas quando usavam véu ele não era sempre o mesmo tipo, variava de cor. Via-se coisas muito delicadas, que não eram tão chamativas assim.
Pe. José Eduardo parece simplesmente não fazer ideia do contexto histórico do véu. Está literalmente chutando. O modo como o véu é usado não é arbitrário, mas segue o costume de cada país. Como observa a autora católica Anna Elissa no livro "Mantilla: the Veil of the Bride of Christ":
"Na Coreia do Sul, as mulheres geralmente usam apenas mantilhas brancas, independentemente de serem solteiras ou casadas. Em outros países, muitas mulheres ainda seguem fielmente a regra tradicional de cor, como mencionado antes. Mas muitas também ajustam as cores de seus véus de acordo com o calendário litúrgico: branco ou outras cores brilhantes durante todo o ano, exceto durante o Advento e a Quaresma, quando véus pretos ou outros véus escuros são usados."
Então o que o padre está reclamando é de um não-problema. Não há problema dos véus serem iguais, se este for o costume local. Também não há problema deles serem diferentes, se esse for o hábito.
É curioso observar como padre emprega discursos diferentes em relação à calça e ao véu. Para a calça, ele adota o argumento da rendição ao costume local. Para o véu, ele pede o individualismo extremo.
Trabalho Externo da Mulher
Por fim, Pe. José Eduardo e Jéssyca passam a tratar do trabalho externo da mulher.
Pe. José Eduardo: Há um tema que atravessa toda essa discussão que é o tema da mulher que se formou para ter uma profissão. E existe como que uma condenação àquelas que se ocupam com sua profissão. Elas têm que ser obrigatoriamente do lar. E o que acontece? Por exemplo, a minha mãe foi formada para ser do lar. Então ela é uma cozinheira fantástica, ela sabe fazer tudo, ela é uma profissional do lar. Só que nem todas as mulheres têm a mesma formação e capacidade. Eu conheço mulheres que sabem lavar, passar, cozinhar, administrar uma casa, só que elas não dão conta de fazer tudo sozinhas. Eu não posso dizer que ela é pior porque ela não é uma dona de casa tão eficiente como foi sua mãe e sua avó. Então, esses dias eu estava conversando com uma mulher que é médica, que tem filho e que deixou a medicina para cuidar do filho. Ela ficou profundamente deprimida. Ela não foi formada para estar o tempo todo dentro de casa. Eu falei pra ela: "Por que você não atende algumas consultas? Não precisa você zerar. De repente, você consegue fazer uma ocupação, dois dias da semana, diminui um pouco". Parece que eu acendi um Sol na cabeça dela. Ela estava se culpando, porque achava que não [podia]. Achava que tinha que ficar trancada dentro de casa. E não é assim. Às vezes, ela pode ter ajuda de uma diarista, de uma babá, de alguém que esteja ali dando suporte.
Jéssyca Jácobus: Eu acho que vem de novo daquela história dos extremos. Por exemplo, eu não aprendi a fritar um ovo, padre. Quando eu casei, a gente comprou a máquina de lavar roupa. Eu tive que ler o manual, porque eu nunca tinha lavado roupa na vida. Eu era filha única e minha mãe me criou dentro daquele discurso "A minha filha não precisa fazer nada. Minha filha vai estudar, vai ser uma grande profissional. Ela não precisa aprender nada, vai ter uma empregada" Só que assim, me faltou aprender a ser dona de casa também, entende? E agora parece que, tá, eu não aprendi a ser dona de casa, mas uma grande profissional, e que agora eu tenho que largar toda a profissão e só ser dona de casa. É a coisa dos extremos, do 8 ou 80. É algo que tem se pregado muito. Direto eu recebo de mulheres... Claro, com a questão da abertura para a vida, de fato, mulheres que vão tendo mais filhos acabam tendo que se dedicar mais à casa e aos filhos, à educação. Às vezes, é difícil manter uma profissão, né? [...] Mas não é também obrigatório abandonar a profissão, até porque muitas de nós dedicaram a vida inteira a construir essa profissão, a aprender. É realmente uma questão de equilíbrio.
O que observamos logo de cara é que Jéssyca foi vítima do pensamento feminista automatizado da mãe. Como expusemos neste artigo, as mulheres atuais já pensam e agem como feministas mesmo achando que não são. A mãe de Jéssyca a privou de diversas experiências de feminilidade importantes, como a arte de cozinhar, o asseio da casa, etc., para que ela tivesse uma carreira, isto é, uma vida de homem.
Jéssyca, portanto, é a maior prova de que o Cardeal Siri tinha razão. Mulheres criadas para serem homens, tanto nos hábitos quanto na aparência, prejudicam suas relações com os filhos.
A médica citada pelo padre também teve os mesmos problemas de educação feminista que Jéssyca. Ela não aprendeu a ser mulher e, quando teve filho, deprimiu.
Não está óbvio o problema?
O carreirismo não é um desenvolvimento normal da feminilidade.
Para que Jéssyca fosse preparada para uma carreira de sucesso, ela precisou ser privada, durante uma vida inteira, de experiências valiosas de feminilidade. É exatamente isso que o carreirismo faz: tira toda a feminilidade da mulher.
Porém, Pe. José Eduardo e Jéssyca buscam contornar com todas as forças essa verdade com o discurso do "equilíbrio".
Jéssyca, ao invés de ver a verdade de que o estilo de vida da mulher moderna é extremamente desordenado, prefere acreditar que o tempo empregado para se ter uma carreira é razão suficiente para não abandoná-la depois do matrimônio, ou seja, retroalimentando o problema.
É o ápice da cegueira intelectual. É o hamster da racionalização.
Pe. José Eduardo ainda endossa essa solução.
Aqui vemos a diferença do Pe. José Eduardo para padres com melhor formação, como o Pe. Chad Ripperger. Enquanto Pe. José Eduardo faz média com o feminismo de Jéssyca, uma moça que talvez não tenha tanta consciência da origem dos próprios pensamentos, o sacerdote americano é cirúrgico no diagnóstico do problema aqui:
"Se você olhar para o movimento feminista, tudo o que ele é, é a maldição de Eva com anabolizantes.
A maldição de Eva é essencialmente esta: quando Eva comeu o fruto, ela saiu de baixo da estrutura de autoridade de Deus e Adão e quis autossuficiência.
O movimento feminista não ganhou muita força neste país até a Segunda Guerra Mundial. As mulheres entraram na força de trabalho e ganharam um certo tipo de independência financeira e gostaram. Foi a chamada de "A Maior Geração". Essas mulheres que ensinaram suas filhas, as Boomers, que você deve ter sua própria carreira e que não deve ser tão dependente do seu marido, etc., falhando em perceber que uma esposa tem o direito de ser sustentada por seu marido. Não é tanto uma questão de dependência, mas de direito. E a razão pela qual ela tem esse direito é por causa de seus deveres domésticos e da obrigação dela de cuidar dos filhos. Isso foi completamente perdido. O marido realmente tem o direito de que a esposa fique em casa e cuide dos deveres domésticos e dos filhos."
Pe. Chad Ripperger posiciona a questão de forma correta. Depois de casada, a mulher não tem direito a uma "carreira", mas ao sustento do marido. O marido, por sustentar esposa e filhos, tem direito que ela seja permaneça do lar. Por isso o Catecismo de Trento, tão depreciado pelo Pe. José Eduardo, ensina que a mulher não deve sair de casa sem a permissão do marido. Não porque o Catecismo quisesse impor um estilo de vida "muçulmano" à mulher, como alegou certa vez o padre, mas porque a natureza do matrimônio pede essa divisão de tarefas e de direitos.
O problema de mulheres depressivas cuidando de filhos não é tanto sentirem falta de uma outra vocação além de serem mães, mas, sim, porque são educadas numa cultura que odeia a feminilidade e sabota de todos os jeitos as mulheres de serem mulheres.
Conclusão
Do exposto, esperar-se ter ficado claro os erros do Pe. José Eduardo e de Jéssyca na live. Jéssyca parece ser uma moça que encontrou a verdade de vários assuntos que comentamos, mas agora, como boa influencer, está decidida em reconciliar-se com seu passado feminista. Já o Pe. José Eduardo se presta ao papel de lacrar com o feminismo de Jéssyca fazendo falsas equivalências que chegam a doer.
Infelizmente, o vídeo teve grande repercussão entre as moças. Como fazemos um combate incisivo ao feminismo católico, esperamos que este breve artigo possa, de algum modo, compensar o mal feito.